UMA EXPERIÊNCIA EM UM
RELATO: FOTOGRAFIA NO ENSINO DE HISTÓRIA
Introdução
O texto é uma reflexão da atividade em torno do ensino de história local
em Limoeiro do Norte - Ceará a partir do uso da Fotografia. Tais atividades
foram realizadas na escola de Ensino Médio Lauro Rebouças, no período da tarde,
como parte integrante do desenvolvimento estão os alunos Renato Silva e Felipe
Cavalcante, alunos do curso de História da Universidade Estadual do Ceará
Campus Faculdade de Filosofia Dom Aureliano Matos (FAFIDAM), onde os mesmos
cursaram a disciplinado de Estágio II Educação Patrimonial e também pelo
programa Residência Pedagógica durante o segundo semestre do ano de 2018.
A relevância dessa atividade está na percepção da análise iconográfica
nas aulas de história para o ensino cultural local, possibilitando o
desenvolvimento de uma prática metodológica para o ensino escolar e para os
alunos conhecerem a história local que estão inseridos. Como também, para
estimular as práticas para a preservação, valorização dos interesses históricos
e social.
Objetivo
A utilização da fotografia como uma
fonte/documento para o estudo e ensino, auxiliando a produção de conhecimento
sobre a cidade de Limoeiro do Norte - Ceará. Com objetivo de trabalhar as
fotografias enquanto fontes, promovendo a produção e absorção eficiente de
conhecimento pelos alunos, possibilitando assim a aprendizagem acerca dos
patrimônios culturais localizados na cidade de Limoeiro do Norte. Bem como
inserção do olhar crítico nos jovens sobre o processo institucionalização dos
patrimônios locais e reconhecimento de suas potencialidades histórico-sociais.
Metodologia
Como relatado acima a proposta era se
trabalhar os patrimônios históricos culturais materiais e imateriais do
município de Limoeiro do Norte de acordo com a temática da disciplina.
Para o mesmo o ocorrer foi criado o
“Projeto Curtindo um Curta” pelos alunos da UECE em conjunto com os Professores
Coordenadores e Preceptor que se utilizaram não somente da imagem fotográfica,
mas também de vídeos curtas-metragens relacionados a proposta da disciplina.
Entretanto este texto vem a ressaltar a importância da fotografia e a
metodologia empregada sobre a mesma.
Fig.
1
Tendo em vista a capacidade que a mesma
possui de não ser fiel a realidade (FERRAZ, 38) e sim produzir uma
representação sintética cabe ao professor historiador contextualizar estes
documentos, sendo a fotografia um documento histórico tal qual a escrita, e
fazer questionamentos necessários para que sua utilização não se dê forma
meramente ilustrativa. De acordo com Marli Brito M. Albuquerque o historiador
deve indagar-se acerca dos não-ditos que supostamente estão inseridos na
fotografia, sem com isso perder o contexto histórico-cultural o qual este
registro imagético está inserido. Sendo este então o seu ofício pois tal
registro por si só “transforma o passado em objeto de carinhoso respeito,
confundindo diferenças morais e desarmando julgamentos históricos” (SONTAG).
Refletir sobre o papel do sujeito na
construção da imagem como fotógrafo ou fotografado (MUAZE, 2015, 256), ou seja,
problematizar os endereçados e os meios que tais imagens circulam é o papel dos
historiadores enquanto obtém as fotografias como fontes compreendendo ele que a
mesma é uma ferramenta criada pelo homem e a ele serve. Partindo deste
pressuposto os graduandos desde o primeiro momento em sala de aula buscaram por
discutir conceitos de Memória e Identidade através de imagens que
representassem patrimônios sejam nacionais ou internacionais, almejando
desconstruir com os alunos a imagem estereotipada que os mesmos podem possuir e
mostrando que a casa de taipa onde o sertanejo morava é tão significativa
quanto a casa grande.
Posteriormente no seguinte encontro os
próprios alunos estiveram responsáveis por levar para a aula fotografias
tiradas nas comunidades em que residiam para levantar um debate justamente
acerca dos questionamentos trazidos por Muaze sobre o possível objetivo que a
imagem quer repassar e os elementos que se manifestavam, e partir deste
trabalho com a fotografia se é possível apreender e treinar o olhar sobre os
capazes patrimônios históricos culturais locais reconhecendo que sua
categorização como tal não ocorre apenas por cunho institucional. Mas também
pelos significados e valorização o qual detém para uma comunidade.
Fig.
2
Como se pôde ser perceptível na
utilização das imagens no percurso das atividades o método em que foram
empregadas, semelhante a Biografia da Imagem de Ulpiano Meneses, juntamente com
a abordagem em que as aulas foram direcionadas proporcionou aos alunos uma
atuação mais direta no que concerne a produção do conhecimento. Pois como
afirma Bittencourt “a montagem de oficinas por parte dos professores quebra um
padrão de aula baseada na exposição de conteúdos, capacita o aluno a
transformar diferentes informações em conhecimento sobre a história de forma
orientada, mas ao mesmo tempo autônoma”.
Os graduandos aplicaram as
aulas/oficinas se portando como mediadores do conhecimento ao invés de serem os
únicos transmissores do mesmo. Durante os períodos de aula os alunos eram
instigados a relatarem suas próprias experiências com os patrimônios locais de
sua comunidade e se os mesmos saberiam reconhece-los, além de haverem tarefas
em que os adolescentes exercitaram na prática a sua capacidade de interpretação
como a Oficina de Selfies que teve como por objetivo trazer questionamentos aos
jovens sobre que tipo de percepção uma selfie pode registrar.
O “Projeto Curtindo um Curta” teve como
objetivo final desenvolver um curta-metragem produzido pelos alunos do EEM
Lauro Rebouças acerca dos patrimônios locais de Limoeiro do Norte que em sua
trajetória foram capazes de promover mudanças sociais na população limoeirense.
Isto foi construído a partir das fotografias tiradas por esses alunos durante
uma aula de campo orientada em que os jovens após serem instruídos sobre as
potencialidades de interpretações que a imagem pode gerar e as formas que as
fotos poderiam ser registradas para melhor qualidade do curta.
Resultados
Este projeto teve como por objetivo
realizar um debate juntamente com os alunos do primeiro ano do ensino médio
sobre Patrimônios Históricos e Culturais. Esta atividade realizada no segundo
semestre de 2018 teve como resultados a desconstrução de estereótipos as vezes
cristalizados pela população sobre a institucionalização dos patrimônios;
compreensão acerca da produção de curta-metragem valendo-se principalmente das
fotografias e a percepção dos alunos sobre a utilização de registros imagéticos
variados para o estudo da narrativa histórica.
Fig.
3
Ao se estudar o conteúdo de educação
patrimonial foi de conhecimentos dos graduandos do curso de História que muito
comumente a sociedade possui estereótipos sobre os patrimônios locais, tendo em
vista que boa parte somente assim os categoriza como tal as grandes construções
e instituições. Durante as oficinas foi trabalhado além de conceitos como
memória e identidade a atuação do IPHAN- Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional sobre a institucionalização destes patrimônios e suas
diferentes vertentes. Os alunos orientados foram capazes de começar a
reconhecer a importância da história local em suas comunidades e a enxergar
potencial histórico na comunidade em que residem. Com isso também sendo
efetuado pelos próprios a análise e registro fotográfico dos patrimônios locais
do município de Limoeiro do Norte e como estes foram capazes de servir a
população como forma de serviço ao público, oferecendo: cursos, atividades,
assembleias, meios de subsistência e etc. E seguindo a sistematização realizada
por Maurício Lissovsky sobre objeto e espaço relacionando a fotografia como
fonte histórica “o sujeito, quando olha a fotografia, estabelece uma ponte
entre aquele momento e o espaço que está na imagem e o momento que ele está
vivendo.”
Como relatado anteriormente o “Projeto
Curtindo um Curta” teve culminância em um curta-metragem produzido pelos alunos
do EEM Lauro Rebouças em conjunto com os graduandos de História UECE-FAFIDAM
acerca dos patrimônios locais de Limoeiro do Norte sendo o mesmo então
construído a partir de imagens registradas pelos alunos, durante estas tarefas
e na prática foi compreendido as maneiras úteis de criar um material
audiovisual de conteúdo histórico se valendo das fotografias como principal
fonte e não somente do texto escrito. E consequentemente ao final do projeto os
adolescentes foram capazes de apreender que a utilização de variados documentos
e registros fontes tem a contribuir positivamente para melhor compreensão da
construção do conhecimento histórico e que ao fazer o cruzamento dessas fontes
o interessado pode entender mais profundamente seu objeto de estudo.
Referência Bibliográfica
Felipe Cavalcante graduando do curso de Licenciatura Plena em História
pela Universidade Estadual do Ceará.
Renato da Silva Sampaio de Oliveira graduando do curso de Licenciatura
Plena em História pela Universidade Estadual do Ceará.
LIMA, Solange Ferraz de e
CARVALHO, Vânia Carneiro de. Fotografias: Usos Sociais e Historiográficos.
MUAZE, Mariana de Aguiar Ferreira.
Ensino de História e imagem: territórios possíveis.
SONTAG,
Susan. Ensaios sobre a Fotografia, Editora Arbor, Rio de Janeiro, 1983.
LISSOVSKY,
Maurício. “A fotografia como documento histórico”, in Fotografia; Ciclo de
Palestras sobre fotografias, Rio de Janeiro, FUNARTE, 1983. P. 117- 126.
ALBURQUERQUE,
Marli Brito M. e KLEIN, Lisabel Espellet. Pensando a Fotografia como fonte
histórica. Casa de Oswaldo Cruz.
Renato e Felipe, gostei bastante da reflexão e particularmente gosto muito da proposta referendada por vcs, "Refletir sobre o papel do sujeito na construção da imagem como fotógrafo ou fotografado (MUAZE, 2015, 256), ou seja, problematizar os endereçados e os meios que tais imagens circulam é o papel dos historiadores enquanto obtém as fotografias como fontes compreendendo ele que a mesma é uma ferramenta criada pelo homem e a ele serve..." Talvez no sentido de aumentar o resumo de vcs para um artigo pudessem investir nesse aspecto com o material fotográfico que já produziram, alguns postos no textos de vcs. Q acham? Abraço.
ResponderExcluirObrigado pela presença Ivaneide.
ExcluirSua proposta é realmente bastante interessante, os alunos participantes destas aulas/oficinas a partir de uma aula de campo e a prática fotográfica acerca dos patrimônios locais de Limoeiro do Norte-CE produziram sim uma quantia considerável de fotografias e registros imagético que podem sim ser utilizado para trabalho posterior. Trazendo então uma análise sobre tais imagens que os próprios alvos do projeto desenvolveram pode realmente se tornar uma boa forma de continuar o trabalho.
Renato da Silva Sampaio de Oliveira.
Olá, achei muito interessante o uso da fotografia como recurso didático. Gostaria de saber como que os alunos foram orientados na interpretação das fotos e para a produção do curta-metragem. Gostaria de saber também se houve alguma discussão sobre midias manipuladas ou algo relacionado, visto o cenário atual.
ResponderExcluirGABRIELLE LEGNAGHI DE ALMEIDA
Olá Gabrielle, grato pelo elogio ao trabalho desenvolvido. Para a orientação na interpretação dos alunos sobre patrimônios nós que lá estávamos aplicando a atividade realizamos Oficinas. Houve oficina dos Selfies em que trabalhamos com os jovens os sentidos intrínsecos que são empregados nas fotos mesmo que inconscientemente bem como atividades práticas que mobilizassem dos alunos um olhar diferenciado sobre suas comunidades e patrimônios de valor social e memorialístico nas mesmas.
ExcluirEm relação a sua segunda questão interessante a sua colocação, vários foram os momentos em que explanamos com os mesmos acerca da capacidade que as fotografias podem possuir sentidos que foram inseridos nelas propositalmente, pois as mesmas também podem ter objetivo de difundir determinados discursos, então sim foi de pensamento do grupo realizador tais apontamentos com os jovens e assim foi feito.
Renato da Silva Sampaio de Oliveira.
Importantes considerações sobre a fotografia no ensino de História. As imagens fotográficas são recursos ricos de possibilidades e múltiplas interpretações. Constituindo-se um meio de conhecimento ou acesso ao passado pergunto se nessa proposta foram utilizadas fotografias, como fonte, vestígio, fragmento de um recorte da realidade passada a respeito dos patrimônios locais? Parabéns pela proposição! Daiane dos Santos Piassarollo
ResponderExcluirOlá Daiane, sim foram utilizadas fotografias como forma metodológica de se aplicar o conteúdo. As mesmas na verdade foram o principal recurso para o seguir da atividade. Como falado no trabalho foram utilizadas imagens para trabalhar com os jovens suas ideias iniciais sobre o que seriam os patrimônios e posteriormente se tratar a desconstrução dos mesmos mostrando aos alunos a diversidade de categorias do mesmo, para tal em todo encontro se era levado diversas imagens fotográficas.
ExcluirGostaria de parabeniza-los pela atividade interessantíssima! Quais seriam os estereótipos mais comuns dos estudantes acerca dos patrimônios históricos que foram desconstruídos pela atividade?
ResponderExcluirAnaliana Rodrigues da Silva
Grato pelo elogio. Como já observado os alunos trazem consigo concepções sobre o que seriam os patrimônios históricos, de acordo com suas ideias os mesmos eram somente aqueles que claramente desempenhassem importância mundial, semelhantemente às 7 maravilhas do mundo. Não sabiam reconhecer a história e capacidade de sua comunidade.
ExcluirFelipe e Renato, parabéns pelo trabalho. Seria interessante apontar se as diferentes formas de representação (fotos e curtas) ao serem mobilizadas para o registro promovem formas distintas de relação e de percepção com o patrimônio. O que pensam disso?
ResponderExcluirRogério Pereira de Arruda
Boa noite Felipe e Renato!
ResponderExcluirParabéns pelo texto e pela incrível condução da experiência.
Farei duas perguntas: 1) Houve apresentação do curta produzido pelos/as alunos/as na escola e/ou socialização dessas experiências? 2) Foi discutido com os/as alunos/as a elaboração do curta como produção de conhecimento e registro histórico? Creio que essas atividades que vocês desenvolveram leve um sentimento de que os/as adolescentes podem e devem registrar as suas ideias e a história a sua maneira, né? Parabéns mais umas vez!
Atenciosamente,
Stela Schenato.
Olá Stela, agradecido pela leitura.
ExcluirSobre suas perguntas,vamos lá:
1- Sim, o curta produzido com estes alunos foi apresentado para a comunidade da escola em evento cultural que a escola desenvolve anualmente e foi apresentado a quem assistiu pelos próprios alunos que fizeram depoimento sobre a experiência com o nosso projeto e o que puderam aprender com ele.
2- Buscamos sim tratar do curta com os alunos como uma forma de registro historiográfico e sua capacidade de se tornar um fonte histórica, também foi realizada em uma data uma fala apresentando as diversas fontes do trabalho histórico de maneira que os mesmos também compreendessem a utilização de fotografias como tal.
Renato da Silva Sampaio de Oliveira.
Agradecida pela resposta!
ExcluirStela Schenato.
Felipe e Renato, parabéns pelo trabalho, trabalho bem elaborado, gostei bastante da ideia do uso da fotografia que vocês usaram para desenvolver o trabalho. Queria saber Como vocês sentiram o retorno dos estudantes a cerca do conteúdo exposto? E como foi pra vocês o levantamento de fontes pra utilizar nas oficinas que culminou no curta?
ResponderExcluirLeandro Nogueira da Silva.
Olá Leandro, é um prazer respondê-lo. Acho que o ponto alto deste trabalho foi que a partir das aulas/oficinas e algumas tarefas práticas que oferecíamos aos alunos com o passar do tempo eles nos traziam cada vez mais práticas de suas comunidades e locais nas mesmas que eles conseguiram refletir sobre a possibilidade daquilo já ser mesmo que despropositalmente um patrimônio local. Foi muito produtivo e satisfatório enxergar a mudança de suas ideias acerca disto e como eles se tornavam cada vez mais capazes de trazer a foco a sua própria cultura.
ResponderExcluirEm relação ao levantamento de fontes, foi realizada juntamente a estes alunos da educação básica bem como os estagiários da disciplina uma Aula de Campo em que se foi percorridos os espaços do município de Limoeiro do Norte como: As feiras Nova e a Velha; O Rio Jaguaribe; O NIT; a Igreja Matriz; Praça do Relógio; a Universidade e etc. Lugares de memórias que detiveram importância significativa e ativa na vida dos cidadãos limoeirenses.
Renato da Silva Sampaio de Oliveira
Grato pela resposta. Boa noite!
ExcluirLeandro Nogueira da Silva.