Ricardo Rocha Balani


RELATO DE EXPERIÊNCIA: A MEMÓRIA SOBRE A COLONIZAÇÃO DE ALTA FLORESTA – MT NO ENSINO DE HISTÓRIA EM AULA-OFICINA


O presente trabalho apresenta a reflexão sobre a experiência da aula-oficina abordando as memórias e as narrativas como fontes históricas em sala de aula, tal proposta objetiva valorizar os conhecimentos prévios dos alunos, vistos que todos os indivíduos possuem informações, mesmo que do senso comum, dos conhecimentos abordados no âmbito escolar. Deste modo, pretende colocar os estudantes como protagonistas na construção do conhecimento e proporcionar significados aos conhecimentos não científicos adquiridos no cotidiano, ou seja, busca valorizar e conectar o conteúdo com a realidade na qual o discente está inserido.

O planejamento da aula-oficina pensando no trabalho da oralidade na educação básica proporciona o reconhecimento e a valoração do passado local, assim o documentário Olhar pioneiro: Alta Floresta – MT favorece a articulação do conteúdo com a prática possibilitando aos estudantes refletir sobre a memória, relacionando a importância na escrita da História e atribuindo significado ao conhecimento local.

A execução do plano buscou compreender o conhecimento prévio e relacionar esta informação, muitas vezes de origem do senso comum, com o conteúdo abordado em sala de aula, articulando e possibilitando a participação e compreensão do estudante. Diante disso, verificar seu entendimento, a priori e a posteriori da análise conceitual.

O planejamento da aula-oficina

A proposta da aula-oficia é propiciar, por meio da realidade e do conhecimento prévio do estudante, e ter como ponto de partida a informação e o conhecimento propiciando maior participação na aula. Isso rompe com a concepção tradicional do ensino que verifica o estudante como mero receptor que pouco, ou nada, contribui para o processo de ensino. Diante disso, BARCA pensa que a “[...] concretização efetiva dos princípios apontados para uma ‘aula-oficina’ pode ser apoiada por materiais já utilizados em ambiente de investigação (BARCA, 2004, p.134)”. Desse modo, é importante para o discente verificar os conhecimentos a cerca do tema, visto que o ser humano é dotado de conhecimento e cultura, assim deve ser percebido como ponta pé inicial para a elaboração do plano de aula.

“A análise crítica de fontes em sala de aula produz a capacidade de análise para os materiais culturais com os quais o sujeito se depara no cotidiano, o que dizer que a literária histórica tende a ultrapassar os muros da escola, adquirindo propósito e/ou sentido para a vida prática. Este seria o princípio fundamentador da aula oficina.” (RAMOS, 2017, p.5).

Assim a criticidade, de aspectos cotidianos é o ponto de partida para a execução deste pressuposto de aula, pensada a partir de significados e sentidos vivenciados pelo próprio aluno.

A proposta de aplicação da aula-oficina iniciou-se a preparação do plano de aula em torno da História Oral. Diante disso, foi pensado analisar a história de Alta Floresta por do documentário: O olhar pioneiro: Alta Floresta – MT, sob a Direção Laercio Albino, tendo como roteirista Cátia Brito e a produção de Fabiana Damasceno. O vídeo apresenta a história de Alta Floresta por meio das narrativas dos colonizadores por isso a utilização deste como pressuposto para o trabalho com as memórias do processo de colonização.

Diante disso o planejamento da aula-oficina deu-se para compreender como a história oral, por meio das narrativas de vivências, auxilia na escrita da história. Tem como pressupostos analisar, por meio dos relatos de memórias e depoimentos do documentário, o processo de colonização de Alta Floresta – MT e proporcionar, aos estudantes por meio do trabalho com a história oral, a importância das fontes no trabalho do historiador.

A metodologia da programada segue as seguintes características, levando em conta que, segundo BARCA, a lógica da aula-oficina é “[...] o aluno, agente de sua formação com ideias prévias e experiências diversas o professor, investigador social e organizador de atividades problematizadoras (BARCA, 2004, p. 132)”.  Assim. A execução foi pensada em momentos para que os alunos compreendam a importância da oralidade na construção do saber histórico.

No primeiro momento será apontado questionamento, categorização e análise dos conhecimentos prévios dos alunos sobre a colonização de Alta Floresta e a Metodologia da história oral. Já no segundo momento: Análise do documentário e dos depoimentos dos entrevistados, ou seja, os alunos terão a primeira visão do filma partindo da própria concepção do que é história oral. No terceiro momento, começa se com a conceitualização de história local (a importância da localidade, o local e o geral), colonização (os pioneiros, a ideia de construção e progresso) e história oral (o trabalho com as fontes, o trabalho com a memória, a importância da memória na escrita da história). No quarto momento volta-se novamente para a análise do depoimento do documentário, agora com toda bagagem conceitual pensada e discutida no período anterior. No quinto momento torna-se necessário a produção escrita individual de um texto, analisando os depoimentos dos entrevistados e a maneira pela qual podem favorecer para a escrita da história a partir dos conceitos citados, para verificar, no processo avaliativo e experimental deste modelo de aula, como se deu a compreensão dos alunos em torno do conhecimento e fazer uma distinção da abordagem dos conceitos do primeiro momento para a última análise.

Para a execução da aula-oficina fará necessário de recursos didáticos (quadro, pincel, televisão, som, documentário) para que possa ser efetivado o trabalho como o modelo de aula pensado. O processo avaliativo será a participação discente na aula, o desenvolvimento das atividades propostas e a produção de texto analisando a importância da história oral na escrita da história, que será necessária para compreender a alcance conceitual dos estudantes.

A importância da história oral no ensino de história

O século XXI é marcado pela valorização da história oral, ou seja, maior inserção e aceitação na produção acadêmica. A oralidade surge como possibilidade de apresentar novas perspectivas para o registro histórico de grupos, muitas vezes, não valorizados e não inseridos no contexto historiográfico.

“A história oral pode dar grande contribuição para o resgate da história nacional, mostrando-se um método bastante promissor para a realização de pesquisa em diferentes áreas. É preciso preservar a memória física e espacial, como também descobrir e valorizar a memória do homem. A memória de um pode ser a memória de muitos, possibilitando a evidência de fatos coletivos.” (THOMPSON, 1992 apud FRANCO e SCHIMIDT, p.5).

Nessa perspectiva de valoração dos métodos é de grande importante o trabalho das diversas metodologias para a escrita da História, principalmente no favorecimento da escrita sobre as localidades que, muitas vezes, é minimizada. Essa importância possibilita destacar aspectos de vivenciados garantindo a inclusão de grupos, menos importante num perspectiva “oficial”, mas preciosa na constituição histórica, social e cultural na localidade em que está inserida.

Pensar a oralidade, na perspectiva do ensino, é pensar como nos aponta Schmidth e Cainelli (2004):

“A opção pelo trabalho com a oralidade no ensino da História precisa considerar que a reflexão acompanha todo o processo, e não ocorre somente a posteriori. Ademais, é necessário entender que o trabalho com a oralidade consiste numa fonte diferenciada para a captação de informações a qual está muito relacionada com o estudo da história local.” (SCHMIDTH E CAINELLI, 2004, p.127)

Ao trabalhar a com fontes orais, no ensino é necessário, deste modo, pensar que o trabalho com a História Local torna-se um mecanismo essencial para o processo de construção de conhecimento dos alunos, levando em conta que a familiaridade com os pressupostos trabalhados facilitam na assimilação dos conceitos, já que os conteúdos trabalhados estão ligados a realidade do aluno como ponto de partida para o processo de aprendizagem.

Esta aproximação do conhecimento com a realidade do aluno, no caso o senso comum proporciona na perspectiva de Bittencourt como possibilidade de entendimento.

“O reconhecimento da necessidade da aproximação do conhecimento do senso comum com o conhecimento cientifico favorece, por outro lado um processo de aprendizagem diferenciados, que requer procedimentos metodológicos específicos. A constituição de ‘conceitos científicos’ ocorre de maneira articulada aos ‘conceitos espontâneos’.” (BITTENCOURT, 2018, p. 191)

Desse modo, é importante ao trabalhar o conteúdo em sala de aula articular com a realidade do aluno, observando que este é dotado de informações que favoreceram o processo de compreensão dos conceitos trabalhados no âmbito escolar. Assim é importante observar que a relação senso comum, conhecimento adquirido pelo aluno no cotidiano, pode ser, quanto planejado pelo professor, articulado com o conhecimento produzido pelas ciências favorecendo maior entendimento ou possibilitar maior compreensão dos estudantes em torno do conteúdo trabalhado na aula de História. Assim, pode articular a oralidade com o ensino de história já que, no ponto de vista de Schmidth e Cainelli (2004):

“A história oral de vida constitui-se de vários tipos de relatos dos sujeitos históricos, acerca da própria existência, pelos quais se podem conhecer suas relações com seu grupo de pertencimento, de profissão, de classe e da sociedade em que vive, instruindo como importantes memórias sobre o passado.” (SCHMIDTH E CAINELLI, 2004, p.126)

Pensar, nessa perspectiva, os relatos de memórias locais proporciona a aproximação do estudante com o conteúdo trabalhado, atribuindo significados, pois este, inserido em sociedade, consegue se relacionar com as informações locais possibilitando reconhecimento da realidade trabalhada e atribui importância, significado e valoração para a sua experiência ou relatos de vidas de pessoas que o cerca no cotidiano.

Relato da experiência: o trabalho com a memória em aula-oficina

O conceito de aula-oficina gerou, a princípio nos alunos, uma estranheza tendo em vista que imaginaram laboratórios ou algo na sala de informática, mas ao perceberem que as atividades seriam desenvolvidas na própria sala de aula, na cotidiana, ficaram curiosos para a atividade. O primeiro momento foi de verificação dos conceitos, nos quais observou o prévio conhecimento, utilizado como ponto de partida para a reflexão didática. Assim, segundo Schmidt a “[...] sala de aula não é um espaço onde se transmite informação, mas onde uma relação interlocutores constroem sentidos (SCHMIDT, 2004, p. 57)”, ou seja, os estudantes perceberam que aquilo que as informações que tem soa significantes para o processo de compreensão dos conceitos e muitas vezes favorece e dá significado ao conteúdo que será abordado.

Deste modo, faz-se necessário a significação do conhecimento discente e não pensá-lo como receptor de informação, mas alguém construtor de conhecimento, que possui significados e sentidos que lhe é atribuído pela sociedade ao qual está inserido.  Este pensamento vai de encontra de Bittencourt (2018), que diz:

“As novas interpretações sobre a aprendizagem conceitual e a importância das interferências sociais e culturais nesse processo erigiram o aluno ou o aprendiz e seu conhecimento prévio como condição necessária para a construção de novos significados e esquemas.” (BITENCOURT, 2018, p.189)

Diante desse conhecimento que o aluno possui, foram elaboradas algumas questões conceituais para nortear a prática docente e o processo de aprendizagem. Sendo estas: O que você entende por História Local? O que você entende por História Oral? O que você entende por Memória?, várias hipóteses surgiram como respostas para as perguntas, que foram anotadas no quadro, as que fugia do conceito inseria-se um ponto de interrogação, para fazermos uma análise posterior. A princípio não entenderam muito sobre as perguntas, no entanto, houve participação, considerável, dos estudantes na possibilidade de respondê-las. Passado esse momento, apegou-se nos conceitos e nas definições para assistir o documentário, O olhar pioneiro, para partindo daí fazer uma reflexão sobre a memória e a escrita da História.

A princípio foi feito uma breve reflexão sobre a escrita da História, em seus períodos históricos, consequentemente foi feita uma reflexão sobre as fontes, para que pudesse ser compreendida a relevância da oralidade.  Findado focou-se na importância da memória para a escrita da História Local, ou seja, passou-se a analisar os depoimentos do vídeo verificando sua importância na construção da Histórica de Alta Floresta –MT, fazendo um paralelo com o que é contado “oficialmente” e o vivenciado pelas pessoas no período.  Diante disso, apresentou-se notas tidas como oficiais e percebeu-se que muito daquilo que as pessoas relataram não se faziam presente em tais meios de divulgação, levando os alunos a refletir  sobre a importância do trabalho com a oralidade
    
Reflexão conclusiva

Partindo do pressuposto, defendida por Bittencourt e Schmidt, de que o estudante possui conhecimentos que antecede o saber escolar e que este deve ser aproveitado pelo docente, é que foi pensada a aula-oficina, já que ela vai de encontra com a concepção de favorecer o entendimento dos conceitos pelos que já se sabe a respeito, visto que o saber é constituído, também na vivencia social do indivíduo.

A aula-oficina, deste o planejamento, buscou inserir meios de verificar o saber discente e proporcionar, através destes, maio compreensão dos saber acadêmico sobre História Oral proporcionado na disciplina de História. Para isso, utilizou-se do documentário Olhar pioneiros: Alta Floresta – MT, como compreensão da importância das memórias na escrita da história. Assim, o aluno com seus conhecimentos prévios e partindo da localidade compreenda a importância que a oralidade representa na constituição do saber.

A aula-oficina representou, de modo prático, a significação do conteúdo existente e favoreceu a aproximação ente conteúdo escolar com a realidade vivenciada pela sociedade no qual o estudante está inserido, significando e valorizando a própria história.

Referências bibliográficas

Ricardo Rocha Balani é mestrando no Programa de Pós-Graduação em Ensino de História da Universidade do Estado de Mato Grosso, é professor da Secretária do Estado de Educação no munícipio de Alta Floresta – MT.

BARCA, Isabel. Aula Oficina: do Projeto à Avaliação. In. Para uma educação de qualidade: Atas da Quarta Jornada de Educação Histórica. Braga, Centro de Investigação em Educação (CIED)/ Instituto de Educação e Psicologia, Universidade do Minho, 2004, p. 131 – 144.

BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes. Ensino de História: Fundamentos e métodos. 5 ed. São Paulo: Cortez, 2018.

OLHAR PIONEIRO: ALTA FLORESTA- MT. Direção Laercio Albino. Roteiro Cátia Brito. Produção Fabiana Damasceno. Disponível em MThttps://www.youtube.com/watch?v=S34ikKhIHAo. Acesso em 30 de setembro de 2018.

RAMOS, Márcia Elisa. Fundamento da proposta de aula-oficina no PIBID de História da Universidade Estadual de Londrina. . In Anais do XXIX Simpósio Nacional de História - contra os preconceitos: história e democracia. Brasília, 24 a 28 de julho de 2017. Disponível em: https://www.snh2017.anpuh.org/resources/anais/54/1488806862_ARQUIVO_anpuhbrasilia.pdf. Acessado em 12 de outubro de 2018.

SCHMIDT, Maria Axiliadora. A formação do professor de História e o cotidiano da sala de aula. In BITTENCOURT, Circe. O saber histórico na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2004.

____________________; CAINELLI, Marlene. Ensinar História. São Paulo: Scipione, 2004.

4 comentários:

  1. Olá Ricardo parabéns pelo seu trabalho!
    Sua reflexão sobre a aula oficina, traz aspectos significativos a partir de uma base empírica. Lança novos olhares para se pensar uma prática que ainda é incipiente no cenário educacional brasileiro. Gostaria de saber como, e com quais critérios você opera um recorte delimitador para as fontes a serem utilizadas na sua aula oficina (tais como o vídeo mencionado e também as fontes orais). Sendo assim como você operacionaliza essa delimitação das fontes a serem utilizadas, principalmente no tocante à própria historiografia?
    Att Flávio José Dalazona

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    1. Olá Flávio, nessa aula foi desenvolvido o trabalho com as fontes orais, utilizando um vídeo produzido pelos alunos do curso de jornalismo que aborda a temática da colonização do municício de Alta FLoresta - MT por meio de entrevistas com os colonos, proporcionando os alunos o trabalho com as fontes orais pelas narrativas dos entrevistados.
      A proposta da aula-oficina foi desenvolver na sala de aula o conteúdo (fonte histórica) tendo como objeto a história local e a partir daí verificar a importância e o trabalho com as fontes orais.
      A reflexão tem por base a ampliação do conceito de fontes históricas a partir da Escola dos Annales.

      Atenciosamente, Ricardo Rocha Balani

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  2. Boa noite,
    Parabéns Ricardo Rocha Balani. O ensino de História a partir da HO torna - se cada vez mais importante no cotidiano escolar, como se deu o envolvimento dos alunos na aula, você avalia essa experiência como positiva?

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    1. Boa noite Simone, no início os alunos ficaram receosos com a metodologia da aula-oficina, no entanto no decorrer da aula foram se inserindo nos diálogos e no desenvolvimento das atividades. No final os alunos estavam empogados e avaliação, em unanimidade, foi positiva.
      Avalio positiva a prática da aula-oficina levando em consideração o envolvimento, o interesse e o desenvolvimento dos alunos nas atividades em sala de aula.

      Atenciosamente, Ricardo Rocha Balani

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