PIBID
HISTÓRIA NA UFTM: VELHOS E NOVOS DESAFIOS NA FORMAÇÃO DOCENTE
O PIBID/História na UFTM
O subprojeto do PIBID/História da UFTM, atuante no município de Uberaba,
Minas Gerais, traz em sua essência muita da experiência adquirida entre os anos
de 2014 a 2018, quando vigorava o edital anterior [SILVA, COSTA & OLIVEIRA,
2018]. Este texto se propõe a analisar como se deu a formação e quais as
características desse novo subprojeto, dos novos desafios propostos e dos
obstáculos antigos que vimos enfrentando desde que o programa surgiu.
As alterações no PIBID e a criação do novo
subprojeto
O programa de iniciação à docência é uma bem-sucedida ação que vem
trazendo novas possibilidades de formação aos licenciandos há pelo menos uma
década. Muitos ex-bolsistas atualmente atuam nas redes de ensino e alguns são
supervisores do PIBID, como acontece com o atual supervisor da E.M Terezinha
Hueb de Menezes no nosso subprojeto. É importante destacar que, a despeito do
sucesso, o programa correu sérios riscos de acabar com o final da vigência do
edital anterior, em março de 2018, o que só não aconteceu devido às pressões do
movimento organizado nacionalmente em favor do PIBID.
Ainda assim, o programa sofreu cortes em favor da instalação da
Residência Pedagógica e agora o PIBID poderia contar agora somente com os
alunos dos períodos iniciais do curso, o que analisamos como desfavorável no
conjunto visto que se perde a possibilidade de enriquecimento por meio da troca
de experiências com os licenciandos dos períodos finais. Outra alteração
significativa foi o aumento do número de bolsistas mínimos por escola, de 5
para 8. Pode não parecer uma grande mudança a princípio, mas ela trouxe a
necessidade de se adequarem as atividades durante a semanas de atuação na
escola, haja vista que não existe sala de escola pública que comporte a
participação de 8 pessoas a mais. De forma geral, pode-se dizer que houve um
corte de quase metade do programa com quase o dobro de trabalho.
Por fim, outro grande desafio foi a descontinuidade entre um edital e
outro. O novo PIBID somente começou a atuar em agosto de 2018, momento em que
já não eram possíveis muitas alterações nas programações dos professores e da
escola para que o programa pudesse se inserir organicamente, como vinha fazendo
até então, no cotidiano escolar. Estas e outras questões fizeram com que a
presença dos parâmetros teórico-metodológicos das atividades desenvolvidas nas
fases passadas (edital 2014-18) tenham ganhado especial papel, sendo
ressignificadas e adaptadas às novas realidades encontradas [BRASIL, 2018].
As características do subprojeto em História são relacionadas com a
ideia geral de que o licenciando deve vivenciar o cotidiano escolar para
compreender, em interação com os supervisores, as possibilidades e limites da
atuação docente. Para isso, e levando em conta que as atividades começaram já
em agosto, como dito acima, a equipe fez uma programação que incluía as visitas
e análises diagnósticas; e a criação e a aplicação de atividades com temas escolhidos
junto com os professores supervisores. Antes de analisarmos estas ações,
vejamos algumas das características das escolas.
Características das Escolas: Divergências e Convergências
As escolas selecionadas no subprojeto Pibid-História – UFTM são escolas
com características próprias, mas que apresentam alguns problemas em comum,
próprios da rede pública de ensino. A atuação do Pibid, subprojeto-História foi
em duas escolas estaduais – uma nos anos finais do Ensino Fundamental e outra
no Ensino Médio) e uma municipal, nos anos finais do Ensino Fundamental. A E.
E. Aurélio Luiz da Costa é uma escola que apesar de não ser central, tem uma
localização mais próxima ao centro e atende alunos de diversos bairros
distantes da mesma. No caso do Ensino Médio, alguns alunos estudaram em escolas
privadas anteriormente. A E. E. Dr. José Mendonça localiza-se em um bairro
periférico e atende muitos alunos migrantes, que vêm em época de safra para os
pais trabalharem e, por isso, não completam o ano iniciado. E na terceira
escola do projeto, a E. M Terezinha Hueb de Meneses, na qual a maioria dos
alunos são de vários bairros periféricos da região e alguns vão para a escola
com transporte fornecido pela prefeitura.
Relato das Atividades Desenvolvidas nas Escolas
O subprojeto História do Pibid-UFTM iniciou suas atividades no segundo
semestre de 2018. Contemplou discentes do curso de História do 1º ao 4º
período. Inicialmente, os bolsistas passaram por uma etapa de observação das
turmas selecionadas para o desenvolvimento do projeto. Posteriormente, com o
apoio dos coordenadores de área e dos supervisores foram realizadas as
atividades de práticas docente. Aqui segue o relato dessas atividades.
As atividades na E. M. Terezinha Hueb de Meneses foram desenvolvidas
sempre nas sextas-feiras com todos os bolsistas de Iniciação à Docência
selecionados para a escola. Ocorreram no contra-turno (vespertino) e, por isso,
reuniu todos os alunos dos anos finais do Ensino Fundamental. Essa organização representou-se
como um obstáculo, pois trabalhar com um aluno do 6º ano não apresenta a mesma
dinâmica que se tem com o 9º ano. Além disso, outra dificuldade foi que a
presença dos alunos não se mostrou constante e alguns não participaram. No
entanto, os bolsistas e supervisor conseguiram dinamizar as atividades e os
resultados foram positivos.
Inicialmente parte das atividades desenvolvidas surgiram de uma proposta
da Prefeitura de Uberaba para a comemoração do dia 7 de setembro, a
Independência do Brasil. A partir da análise do material enviado pela
Secretaria Municipal de Educação os bolsistas, supervisor e coordenadores de
área partiram para o aprofundamento das temáticas indicadas. Dessa forma, foi
levantada as contradições do Brasil após a independência, como por exemplo, a
manutenção da força de trabalho escravizada.
Os bolsistas do Programa de Iniciação à Docência sugeriram desenvolver
com os alunos o tema “A Resistência da Escravidão no Brasil”. Dividiram a turma
em três grupos e cada um desenvolveu uma temática específica: História Regional
(Igreja do Rosário), Resistência dos povos africanos e Independência do Brasil.
Essas temáticas surgiram do próprio material indicado pela Secretaria Municipal
de Educação. Trabalharam com diversas metodologias e dinâmicas nas aulas, como
jogos, músicas, parceria com professor de capoeira e o destaque foram as rodas
de conversas, em que a construção do conhecimento ocorreu de modo participativo
e dialógico. O objetivo central foi
conferir aos alunos senso crítico com relação às temáticas selecionadas.
Os bolsistas abordaram as consequências, as implicações e incoerências
da independência, e também as suas implicações no mundo de hoje. Discutiram a
realidade vivida ao longo da história brasileira da comunidade negra e seus
desafios. Os alunos confeccionaram cartazes e ilustrações sobre os temas. A
proposta com as três temáticas foram intercaladas com encontros, oficinas ou
aulas que se relacionavam com os conteúdos ministrados nas aulas pelo
supervisor: povos pré-colombianos e Segunda Guerra Mundial. Com relação a esses
encontros o recurso utilizado foram os filmes Apocalipto e Stalingrado
que exigiram metodologia específica e que despertaram o interesse dos alunos.
Na E. E. Aurélio as atividades foram desenvolvidas no horário das aulas
no 2º ano do Ensino Médio. As primeiras atividades realizadas foram sobre o
Primeiro Reinado para aprofundamento do conteúdo ministrado pela supervisora.
Os bolsistas ficaram divididos em temas: a independência em 1822, a Revolução
de 1817 e a Confederação do Equador, a Constituição de 1824, a abdicação de D.
Pedro e algumas peculiaridades do Primeiro Reinado. Cada bolsista explicou
sobre um tema dentro de 50 minutos de cada aula dada, com objetivo de
contextualizar nacionalmente e internacionalmente o espaço temporal do Primeiro
Reinado do Brasil e a situação política, econômica e social do Império
Brasileiro. Essas aulas foram a primeira experiência
de contato com os educandos do segundo ano com os bolsistas do PIBID. Propiciou
estabelecer certa segurança perante a autonomia dentro das salas de aulas e
garantir a participação e o comprometimento dos estudantes para prosseguir com
a próxima atividade proposta.
A próxima atividade realizada pelos bolsista e supervisora
foi o Projeto Escravidão. A preparação do projeto demandou reuniões presenciais
e nas mídias digitas do grupo de bolsistas com a supervisora. Perceberam a
necessidade de um diagnóstico do conhecimento dos alunos sobre o tema e dessa
forma elaboraram um questionário fechado com treze questões. Assim, foi
possível refletir possibilidades de abordagem nas aulas subsequentes do projeto. Inicialmente, exibiram o documentário “O perigo de
uma história única”, de Chimamanda Adichie, a fala da escritora refletindo
vários exemplos e circunstâncias de sua vida, na Nigéria e nos Estados Unidos,
sobre uma única perspectiva sobre determinado fato ou evento. Após a exibição
abriu-se espaço para discussão com os alunos. Após esse debate, o projeto foi
dividido em subtemas: África e a Escravidão Africana, Tráfico Negreiro,
Escravidão no Brasil, As Leis Abolicionistas e a Abolição e o Pós-abolição.
Para suscitar os debates os bolsitas usaram variados recursos e metodologias,
como por exemplo, imagens de filmes (Pantera Negra, de 2018), de redes sociais
(as Fake News e memes). Trabalharam
com slides que contemplavam fontes materiais, iconográficas e escritas (como
jornal local, relacionando o acontecimento nacional e sua repercussão a nível
da cidade). Além disso, usaram trechos de filmes e músicas, e procuraram sempre
estabelecer uma conexão com os debates empreendidos na historiografia sobre o
tema.
Por fim, na Escola Estadual Doutor José Mendonça as atividades ocorreram
no turno e contraturno. Para cada mês foi feita uma programação seguindo uma
progressão de ações que iam desde a observação de aulas e de comportamento das
turmas nas atividades, até a atuação, em duplas, para aplicação das oficinas e
dinâmicas propostas. Também houve a vivência com a prática docente
individualizada, com cada bolsista ministrando uma aula. O semestre culminou
com a realização de um projeto sobre democracia.
Como estratégias pedagógicas o grupo que atuou na escola Dr. José
Mendonça, sob a orientação da supervisora, realizou seminários, palestras,
aulas expositivas dialogadas, montagem de alfabetos, criação de letras de RAP,
aulas com música, jogos com perguntas e respostas, exposição de materiais e,
até mesmo, a montagem de uma catapulta para explicar temas relacionados ao
mundo antigo e medieval.
O projeto sobre o tema Democracia tomou parte importante do tempo
durante este período. Entre seus objetivos principais estava o de entender como
surgiu este conceito na Grécia Antiga e de que maneiras podemos relacionar
passado e presente por meio da interpretação dos significados políticos desse
conceito.
Nos sétimos, oitavos e nonos anos foi dada especial atenção à temática
da democracia por meio da discussão sobre o período da ditadura civil militar
brasileira. Esta atividade aconteceu através da audição e análise de músicas da
época
Considerações finais
O trabalho desenvolvido pelos bolsistas do Pibid tem demonstrado a
importância do programa para a Formação de Professores. O início do projeto
apresentou dificuldades por contemplar bolsistas em estágios diferenciados do
curso, mas com o passar do tempo conseguiu-se estabelecer uma equipe alinhada
às perspectivas do programa. Em relatório, o bolsista I coloca:
“Desenvolvemos uma linha de desconstrução histórica buscando conferir
aos alunos senso crítica ao observar as motivações dos conflitos e imposições
da sociedade presente através de um olhar para o passado. (...) A experiência
do PIBID nitidamente contribuiu e contribui para o aperfeiçoamento do aluno
bolsista como profissional da docência e capacita-o para os desafios reais do
dia a dia das escolas públicas. Confere experiência com projetos acadêmicos e
responsabilidades qualificadas em grupo. Antecipa a realização pessoal advinda
do contato com a futura profissão. Um ambiente em constantes transformações
como a escola pública, que juntamente com sua missão de educar e formar
cidadãos de forma gratuita, apresenta desafios aos quais devemos aprender a
superar, com o objetivo de oferecer sempre um serviço de qualidade para a
população”.
Para finalizar deixo as palavras da bolsista II que demonstra o êxito do
subprojeto: “Por fim, vale ressaltar que com o Pibid foi possível determinar
que a profissão que eu quero é realmente ser professora”.
Referências
Ilana Peliciari Rocha é Professora Adjunta da UFTM e coordenadora de
área do Pibid-História.
Marcelo de Souza Silva é Professor Adjunto da UFTM e
coordenador-voluntário de área do Pibid-História.
BRASIL. Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior -
CAPES. Edital Capes, nº. 7/2018. PIBID – Programa Institucional de Bolsas de
Iniciação à Docência. Portaria nº 45, de
12 de março de 2018, in http://www.capes.gov.br/images/stories/download/bolsas/27032018-Portaria-Capes-n-45-2018-concessao-de-bolsa.pdf,
2018.
SILVA, Marcelo de Souza. COSTA, Rodrigo de Freitas. OLIVEIRA, Tito
Flávio B. Nogueira de. Teoria e prática na formação de professores de História
na UFTM: considerações sobre a contribuição do Pibid. in FREIRE, D. de J.
VIEIRA, R. F. HALLEY, T. (org.). Formação
inicial e continuada no contexto do Pibid – UFTM. São Paulo: Oitava Rima;
Minas Gerais: UFTM, p. 47-63, 2018.
Olá Ilana e Marcelo! Parabéns pelo texto, realmente o PIBID é muito importante para a formação de professores. Eu tive a felicidade de participar do sub-projeto de História-UEPG de 2014 à 2018, e esse fator contribui muito para a professora que sou hoje. Gostaria de saber como vocês definem as temáticas do projeto.
ResponderExcluir-Isabele Fogaça de Almeida
Obrigada, Isabele!
ExcluirÓtimo encontrar ex-pibidianos. Também tivemos a oportunidade nesse edital de ter um ex-pibidiano, agora como supervisor. Como o Pibid 2018-2010 iniciou no meio do ano letivos, nossas atividades precisaram se adequar às programações dos professores. A definição das temáticas relacionaram-se com a realidade de cada escola. Em duas escolas, as atividades ocorrem no turno escolar. Nesses casos, os temas relacionaram-se com os conteúdos programados pelo professor. No caso da escola que a programação ocorre no contra-turno, as temáticas foram mais livres e escolhidas conforme as observações dos interesses dos alunos pelo supervisor e bolsistas de Iniciação à Docência. Nesse ano cada escola elaborou um diagnóstico que contribui para as escolhas das temáticas.
Cordialmente,
ILANA PELICIARI ROCHA
Professores diante das instabilidades na política educacional do país e especialemnte na formação de professores como vocês argumentariam para a manutenção do PIBID ou outro programa da mesma importância?
ResponderExcluirOlá, Obrigado pela pergunta. Eu diria que é impossível, infelizmente, fazer um prognóstico seguro atualmente, posto que a política do atual governo parece ser a do desmonte das bases que vinham sendo estabelecidas até aqui. Ainda assim, não vejo como uma impossibilidade que o PIBID sobreviva a este processo, visto que se trata de um programa de formação de professores e, creio, esta é uma função ainda imprescindível no Brasil atual. Minha argumentação iria no sentido de que o PIBID tem experiências acumuladas há mais dez anos na inovação das práticas de ensino e na promoção de reflexões acerca de como o ensino e a pesquisa podem tomar forma na sala de aula de maneira criativa e que acaba gerando resultados, comprovadamente, eficientes na aprendizagem dos alunos. Também é uma forma muito boa de incentivar, por meio das bolsas, que os alunos das licenciaturas dediquem mais tempo à sua formação de maneira geral, trabalhando junto com os professores e supervisores em momentos fora das aulas da graduação, com visitas técnicas, eventos, debates, entre outros. Em suma, minha argumentação, como não poderia deixar de ser, ressaltaria que é um programa de sucesso e que abandona-lo seria um sinal de displicência de qualquer governo que se diz interessado em tornar a educação brasileira melhor, pois não se faz educação sem professores. Obrigado novamente.
ResponderExcluirConcordo plenamente e torço muito pela continuidade. Não tive essa oportunidade na formação inicial e nem temos acesso agora por estarmos mais distantes das cidades base das universidades, mas percebemos identidade em quem foi pibidiano. Parabéns.
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