Rubens Baldini Neto


O PAPEL SOCIAL DO PROFESSOR DE HISTÓRIA NA EJA


Parto das reflexões do pedagogo canadense Maurice Tardif (2001: 113) de que os “professores de profissão possuem saberes específicos que são mobilizados, utilizados e produzidos por eles no âmbito de suas tarefas cotidianas”.E compreendendo que este saber escolar se constrói no diálogo com o código disciplinar (CUESTA FERNANDES, 1997:9-27), tanto como uma tradição discursiva e reguladora, como o curriculum (oculto e declarado), optamos por realizar uma observação teórica autorreflexiva das práticas docentes no Centro Integrado de Educação de Jovens e Adultos Campo Limpo (CIEJA CL), instituição onde as práticas educativas se estruturam pela autonomia dos educandos e pela metodologia investigativa interdisciplinar construída coletivamente.

Por conseguinte, o marco teórico desta observação é a síntese realizada pela professora Maria Auxiliadora Schmidt (2005:43) que explicita a “construção do código disciplinar da História” baseada nas reflexões do sociólogo R. Cuesta Fernandez, de que os textos invisíveis e os visíveis deste código, assim como sua relação com a construção do Estado Nacional está intimamente relacionada a chamada “crise” na Educação. Esta “crise” é mais geral e diz respeito a dificuldade de encontrar sentido no ato de “testemunhar” para as próximas gerações a construção do conhecimento acumulado pela humanidade ao longo do tempo.

Uma saída apresentada pela autora para esta “crise” é a ideia de W. Benjamin da “teoria do perigo”, onde devemos sempre estar atentos para tirarmos da “tradição” a força para renovar as práticas e não ratificá-las no “conformismo”. E no âmbito do ensino de História, as práticas escolares deveriam seguir os caminhos propostos por Paulo Freire atuando na dinâmica da autonomia dos educandos e J. Rüsen no desenvolver de uma consciência histórica crítica-genética. (RÜSEN, 2001: 73)
Deste modo, as observações aqui colocadas fazem parte de um autorreflexão como prática docente (POPKEWITZ, 1997:89-109), no sentido de uma “pesquisa-ação” que se (re)avalia constantemente e modifica sua prática a partir da reflexão.


CIEJA CAMPO LIMPO: um espaço diferenciado de Educação de Jovens e Adultos

Ao contrário, quando as resistências às mudanças triunfam, no momento em que as esperanças são frustradas, em que a desilusão se enraíza, assiste-se à recusa da racionalização  global do real. Já que o real não realiza as esperanças, ele não pode ser racional. A história perde, então, todo sentido, fragmenta-se em   múltiplos segmentos. O real só é, portanto, racional quando o homem o     assume. Perde essa racionalidade quando escapa à vontade humana.“ (DOSSE, 2005: 73)

A História é também narrativa, e portanto, um pesquisador/historiador também produz uma narrativa (sempre parcial) mesmo quando trabalha com relatos próprios, ou mesmo com um uma análise sociológica. Talvez seja um de suas maiores valores – construir narrativas – mas seu maior desafio é que estas narrativas sejam coerentes. Assim, passamos a construir uma narrativa das observações realizadas no CIEJA CAMPO LIMPO, elencando, na medida do possível, algumas questões relevantes para a pesquisa no Ensino de História, tais como práticas de ensino e aprendizagem histórica.
Destarte, propomos uma análise autorreflexiva de pesquisa-ação (MORRIN, 2004), onde o pesquisador deve se implicar como agente da pesquisa, não somente como observador e compreendendo que as ações são feitas por atores, espaços e instituições concretos com seus dinamismos próprios e com objetivos negociados. Assim, passamos a construir uma narrativa em primeira pessoa, como não poderia deixar de ser, já que o pesquisador também é o professor do CIEJA Campo Limpo e, portanto, atravessado pela sua subjetividade e pela autorreflexão proposta por Morin tentará dar sentido a uma experiência educativa concreta realizada durante o primeiro semestre do ano de 2018.

Autorreflexão como prática docente

“Palavras sem obras são tiros sem balas; atroam, mas não ferem. O pregar que é falar faz-se com a boca; o pregar que é semear faz-se com a mão. Para falar ao vento, bastam palavras; para falar ao coração são necessárias obras.” (António Vieira, 1993: 605)

O CIEJA CL se diferencia dos demais espaços de promoção da Educação de Jovens e Adultos da Prefeitura de São Paulo por sua estrutura curricular, organização e arquitetura. O Centro Integrado tem sua sede atual em um antigo casarão incrustado no Parque Maria Helena, bairro da Zona Sul de São Paulo, e logo na entrada há uma faixa com os seguintes dizeres: “Que bom que você está aqui!”. Uma das características deste espaço educativo é o acolhimento como um dos valores primordiais (tanto que nomeia o primeiro agrupamento de ciclo I – Alfabetização).

O CIEJA CL também se diferencia por ser um espaço exclusivamente da modalidade de Educação de Jovens e Adultos, e como tal, pode arriscar experimentar e construir uma educação transformadora fora dos modelos tradicionais. Podemos citar várias práticas que tornam o CIEJA CL um espaço privilegiado de troca de saberes entre educadores e educandos, mas devido aos limites deste trabalho ficaremos só no relato da estrutura física e na prática didática promovida neste espaço.

A estrutura arquitetônica é composta por um casarão de três andares alugado pela Prefeitura de São Paulo do governo alemão e um segundo sobrado adaptado recentemente adquirido de uma clínica médica falida, mas o que é mais interessante é como os cômodos do casarão se tornaram espaços educativos convidativos com mesas sextavadas (onde os educandos compartem suas trajetórias de aprendizagem e constroem um aprendizado colaborativo. Além disto, o CIEJA trabalha com EJA modular por áreas de conhecimento, isto é, os educandos passam um mês em cada área de conhecimento (Ciências Humanas, Linguagens e Códigos, Pensamento Ético-científico e Matemáticas), estas áreas por suas vezes sempre são trabalhadas por dois professores com formações distintas (no caso de Ciências Humanas, a dupla docência se dá por um professor de História e um de Geografia ou Sociologia).

Deste modo, no que diz respeito a metodologia construída cotidianamente no CIEJA CL temos como base a construção da autonomia discente diante do aprendizagem formal, pois todos os nossos educandos são jovens e adultos portadores de saberes, que podem ter interrompido ou mesmo nunca ter tido contato com o conhecimento formal, mas construíram uma sabedoria própria durante suas vidas, como explicitava Paulo Freire (1996) e que a educação de Jovens e Adultos sempre deve levar isto em conta.

Passamos a relatar e analisar a trajetória de um agrupamento especifico, como exemplo da prática docente no CIEJA CL. Os educandos da turma Alegria eram, em sua maioria, alfabéticos, e a maior parte deles tinha leitura fluente. Contudo a turma Alegria apresentava dificuldade na compreensão do conteúdo abordado nos textos, sendo assim, parte deles apenas conseguia localizar as informações dos textos. A equipe de Ciências Humanas identificou dificuldades também em relação à escrita. Parte desses educandos consegue produzir pequenos textos argumentativos (ainda que com muitos problemas nas convenções da língua portuguesa), porém muitas vezes reforçam o senso comum e reproduzem preconceitos. A maior parte da turma de Alegria não adquiriu ainda a habilidade de transpor para o texto o que consegue expor na oralidade, tendo realizado discussões complexas e enriquecedoras em sala, mas não conseguindo registrá-las no papel.

Objetivos das Atividades realizadas na área de Ciências Humanas

Conforme o planejamento da área de Ciências Humanas, procuramos desenvolver as aulas de modo a relacionar o tema da violência contra as mulheres e a constituição da saúde como um direito, de forma a contemplar dois dos temas mais votados pelos educandos no incio do ano letivo, na fase da escolha do tema gerador, onde as escolhas são resultado de um exercício democrático e de construção de autonomia no CIEJA CL. Selecionamos os assuntos e temas a serem discutidos de acordo com a movimentação da constituição das políticas públicas relacionadas à saúde e a luta contra a violência às mulheres. Assim, no desenvolvimento das aulas evidenciou-se que esses são temas que, de fato os atingem diretamente, visto que os educandos fizeram muitos relatos de terem sofrido ou presenciado alguma forma de violência contra a mulher ou ter sido vitimada  em situações de descaso com a saúde pública.

Iniciamos o tema apresentando a situação-problema, elaborado pela equipe de Ciências Humanas e que abordou a mesma problemática, mas que a depender de quem lê (no que tange às diferenças de gênero), aparece de forma distinta a partir do papel social que o leitor ocupa:
 
“Maria sempre viveu um histórico de violência na família: seu pai batia constantemente na sua mãe e os irmãos homens sempre tiveram privilégios (não precisavam fazer as tarefas domésticas). Ela conhece um rapaz, José, e sonha em formar uma família diferente da sua com ele. E José é um adolescente que busca ajudar sua família que passa por muitas dificuldades. É usuário de drogas e sua família o inscreveu para participar de um retiro na igreja, que foi o lugar onde se conheceram. Começaram a namorar escondidos. Logo Maria fica grávida e conta para José. Este diz que o problema é dela, que não se cuidou. Fica irritado e bate violentamente nela e a obriga a fazer o aborto. Com medo de contar para a família, que é muito religiosa, Maria entra em desespero. Machucada tenta procurar atendimento no SUS e não consegue. Por outro lado, a família de José quer que ele se trate em um lugar longe das drogas, mandando-o para casa de parentes no interior.”

Após a leitura da situação-problema foram levantadas as seguintes perguntas: NOSSAS IDEIAS - Se você estivesse nesta situação de Maria e de José, o que você faria? O que você faria com relação aos problemas enfrentados: saúde, aborto, família e violência?

Na elaboração das ideias e na construção dos textos, os alunos em sua quase totalidade disseram serem contrários ao aborto. Todos disseram que mesmo o homem sendo o agressor, ou um usuário de drogas, a mulher deveria seguir em frente com a gestação, mesmo sozinha. Mostrando como os papeis sociais dos gêneros e o machismo se reproduz no senso comum. Assim sendo, começamos a trabalhar a desconstrução dos locais cristalizados das mulheres na sociedade ratificadas pelo machismo estrutural.

Para tanto, iniciamos várias discussões com frases de autoras que questionavam os papeis preestabelecido das mulheres na sociedade. Assim a frase do dia da escritora Pauline Chiziane:  “Sou mulher e sou preta, então, tudo que faço tem que ter erros. Se não tiver, arranjam”, apareceram frases extremamente machistas sobre a mulher. E para desconstruir essas ideias fizemos um trabalho sobre respeito e a desumanização das mulheres na propaganda e na sociedade como um todo para compreender o porquê do tratamento desigual que é dado à mulher. A discussão ficou bastante acalorada principalmente com os adolescentes que trouxeram outros problemas como o comportamento e as roupas das meninas tanto na rua como nos bailes funk. Como fica claro nas seguintes frases registradas no dia: “mulher de respeito é trabalhadeira”; “é a que cuida da família”; “é a que tem postura, não mexe com outros homens”; “é a que se veste direitinho”; “é a que não vai pro Pancadão”.

Levando em consideração esta discussão elaboramos uma atividade para (re)pensar o paradigma de “mulher de respeito” apresentado pelos educandos e construir uma consciência de que toda a mulher merece respeito independente de como age ou se veste. Assim, propomos aos educandos discutirem a letra de um RAP do cantor Brunno Mello Roupa não é caráter e fizeram a construção de frases e colagem num painel com o título: “Minha roupa não te dá o direito de:”.


Fig. 1
Painel com as frases feitas pelos educandos sobre a roupa da mulher

A discussão se estendeu com documentários curtos sobre a questão da mulher como objeto e aproveitamos a campanha da Jornalista Nana Queiros – “Não mereço ser estuprada”, sobre a denuncia de violência e abuso contra a mulher para questionar ideias machistas apresentadas no inicio das atividades.

Fig. 2
(QUEIROS, 2018)

Depois das discussões sobre a temática os educandos tiveram uma mudança de postura nos discursos em sala de aula e alguns adolescentes disseram que conseguiram entender o papel da mulher e que mudou o comportamento dele de achar que tinha direito de passar a mão nas meninas que estivessem usando roupas curtas.

Por conseguinte, sentimos a necessidade de trazer um texto jornalístico abordando a questão da violência contra as mulheres, enfatizando a construção do conceito de feminicídio, inclusive, colocando a pesquisa do termo como atividade extraclasse. Em nossas discussões, enfatizamos que dentre o recorte de exclusão de gênero, se houver também o recorte racial, as mulheres negras sofrem a exclusão duas vezes.

Em seguida,  trabalhamos as características do texto jornalístico, destacando com eles as partes que compõem o jornal e a reportagem (manchete, olho da notícia, lide e o corpo da notícia) e, como os alunos apresentaram bastante dificuldade em relação à localização desses elementos, construímos a construção do quadro de identificação dos itens componentes da reportagem coletivamente, e proporcionamos momentos que os estudantes fizessem exercício de leitura e compreensão do texto, também de forma coletiva.

Para explicar que a questão da violência contra as mulheres está relacionada à saúde pública, selecionamos um texto que trazia dados sobre os custos necessários ao tratamento das mulheres vitimadas pela violência doméstica, problematizando com os estudantes que, se não houvesse violência doméstica, os recursos poderiam ter outras finalidades.

Para enriquecer o debate, assistimos vídeos variados sobre o assunto, em diferentes linguagens, como trechos de documentários, entrevistas, filmes, dentre outros, para que se apropriem também da linguagem audiovisual como recurso de aprendizagem (NAPOLITANO, 2003).

Retomamos a questão da dominação e violência contra a mulher durante a história do Brasil, explicando que as raízes dessa questão encontram-se na estrutura familiar estabelecida durante o período colonial, e que inicialmente, a miscigenação era uma questão importante, visto que as mulheres indígenas e negras eram vistas como objetos sexuais, iniciando aqui a objetificação do corpo da mulher dado por um recorte étnico – racial. (COUTINHO, 1994)

Para a construção dessa situação de aprendizagem, elaboramos junto com os educandos uma linha do tempo, no primeiro momento da vida deles, e depois, da história do Brasil. Foi construída também uma linha do tempo da saúde no Brasil. Nessa atividade identificamos que muitos dos educandos da turma de Alegria não têm domínio da construção numérica, o que dificultou a compreensão da sequência histórico temporal dos assuntos que propusemos.

Nesta turma demos preferência para destacar a história e importância do SUS e a questão da violência contra a mulher. Deste modo, as apresentações finais os alunos destacaram a violência contra a mulher a partir da Campanha feita pelo Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP),  “Isso tem nome: Feminicídio”, que trata de mortes violentas de mulheres por uma única razão – ser mulher. Com peças de certidões de óbito estilizadas, o TJSP traz nomes fictícios e tipos de mortes reais mais comuns, como por estrangulamento, facadas, tiros e agressões. 

Fig. 3
Caixão usado na apresentação com a certidão de óbito das mulheres vítimas de feminicídio.

Conclusão

Transcorrido o sitius de disputa entre “uma narrativa escolar”, um lócus analítico e as observações das práticas cotidianas de ensino das aulas no  CIEJA CL cabe dizer algumas palavras a guisa de conclusão. O primeiro que deve ser dito é que está é uma conclusão parcial, já que a proposta de pesquisa-ação é sempre reelaborar as ações a partir da autorreflexão e reaplicação.

Por conseguinte, podemos avaliar a experiência de autorreflexão, metodológica e epistemológica de grande monta para um jovem professor de história que busca repensar coletivamente suas práticas didáticas, buscando compreender o papel social do professor de história.

As discussões sobre o papel social do historiador ajudam a compreender como se o ensino de história numa situação concreta, quais forças discursivas estão em jogo e quais caminhos os professores escolhem seguir. Assim, sem a observação crítica do cotidiano é impossível vencer as amarras das práticas tradicionais e mais fáceis de se perpetuarem. Porém, sem reconhecer que estas práticas fazem algum sentido no código disciplinar e nas representações da própria disciplina de História, perante os estudantes e a sociedade em geral, não seremos capazes de romper estereótipos para com o saber histórico.

Por fim, reconhecer a importância do ensino de história, da elaboração de boas questões, socialmente significativas, para usar os termos de Tutiaux-Guillon (2001:15-37) como as problemáticas de gênero apresentadas neste relato, no sentido de que os problemas do presente iluminem os estudos do passado

Mas também, a pesquisa histórica como ferramenta fundamental para o ensino de História ultrapassar explicações estereotipadas do passado, ou mesmo tautológicas ou teleológicas, e, alcançar uma empatia histórica, que incorpore o contexto material em sua compreensão do passado. Por isto, buscou-se ultrapassar os déficits de uma História distante (geograficamente ou conceitualmente), congelada como narrativa tradicional, trazendo os estudantes para o campo de pesquisa e transferindo a responsabilidade do saber para o campo da ação social.

Os professores devem atuar como mediadores culturais (NACIF XAVIER, 2017: 464-485) entre os saberes socialmente constituídos pelos educandos e os saberes acadêmicos desenvolvidos no âmbito das Ciências Humanas (em especial da historiografia). A mudança de comportamento dos jovens machistas, pelo menos em suas falas, indicam que a educação como mecanismo de autonomia e consciência é possível. Mesmo que as adversidades pareçam como montanhas intransponíveis, os rios da autorreflexão cavam seus caminhos.

Referências
Rubens Baldini Neto é professor efetivo da Prefeitura de São Paulo e designado como professor de Ciências Humanas no CIEJA CL. Mestrando do Programa de Mestrado Profissional em Ensino de História (IFCH-UNICAMP) com orientação acadêmica da Prof.ª Drª. Cristina Meneguello.



COUTINHO, Maria Lúcia Rocha. Tecendo por Trás dos Panos - a mulher brasileira nas relações familiares. Rio de Janeiro: Ed. Rocco, 1994.

CUESTAS FERNANDES, Raimundo. La historia social del curriculum y la Historia como disciplina escolar. In: Sociogénesis de una disciplina escolar: la História. Barcelona (Es). Ediciones Pomares-Corredor, 9-          25, 1997.

DOSSE, François. A História em Migalhas: dos Annales à Nova História. São Paulo: Edusc, 2003. p.73.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: Saberes Necessários à prática educativa/ Paulo Freire. São Paulo, Paz e Terra,1996.

HARTOG, François. Regimes de historicidade: presentismo e experiência do tempo. Trad. de Andréa S. de Menezes, Bruna Breffart, Camila R. Moraes, Maria Cristina de A. Silva e Maria Helena Martins. Belo         Horizonte: Autêntica, 2014.

NAPOLITANO, Marcos.  Como usar o cinema em sala de aula. 1. ed. São Paulo: Contexto, 2003. v. 1.

MORIN, André. Pesquisa-Ação Integral e Sistêmica: Uma Antropopedagogia        Renovada. Trad. M. Thiollent. Rio de Janeiro: DP&A, 2004.

 POPKEWITZ, Thomas S. La profesionalización, el gobierno del profesor y   conocimiento académico: algunas notas comparativas. Revista interuniversitaria de formación del profesorado, n. 29, p. 89-109, 1997.

RÜSEN, J. A Razão histórica. Teoria da história: Os fundamentos da ciência         histórica. Trad. Estevão de Rezende Martins. Brasília: UNB, 2001.

SCHMIDT, M. A. M. S. Saber escolar e conhecimento histórico? História &   Ensino (UEL), Londrina-PR, v. 11, 2005. p.43.

TUTIAUX-GUILLON, Nicole. O Paradoxo Francês: cultura histórica significativa e didática da história incerta. Educação &     Realidade, v. 36, n. 1,    2011.

Vieira, A. (1993). Obras Completas do Padre Antônio Vieira: Sermões (Vol.1-3, pp. 605-717). Porto, Portugal: Lello & Irmão.

XAVIER, L. N. . Interfaces entre a história da educação e a história social e          política dos intelectuais: conceitos, questões e apropriações. In: GOMES, Angela de Castro e HANSEN, Patrícia dos Santos. (Org.).  Intelectuais Mediadores: práticas culturais e ação política. 1ed.Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2016, v. 1, p. 464-486.


10 comentários:

  1. Muito interessante o seu trabalho e o da escola! Gostaria de saber mais a respeito do Cieja-CL e também fiquei curiosa sobre a receptividade dos alunos na escola. Você poderia falar um pouco mais?
    Abraço.

    Raylla Dias Miranda

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    1. O CENTRO INTEGRADO DE EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS DO CAMPO LIMPO completou 21 anos de experiência transformadora na EJA, com reconhecimento pela UNESCO de Escola de Referência em EJA.
      Para conhecer mais sobre o projeto recomendo o blog oficial da Instituição e o site do Projeto "Escolas Transformadoras" .
      Aproveito para convidá-la a conhecer a escola municipal que fica no Capão Redondo periferia de São Paulo. Dia 06 de junho de 2019 teremos o VII Encontro Indígena do CIEJA CL com a presença de lídranças indígenas de várias etnias compartilhando saberes com nossos educandos, uma oportunidade muito legal para conhecer o projeto.
      Atentamente,
      Rubens Baldini Neto (ProfHistória-UNICAMP)

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  2. Boa noite, caros Rubens Baldini!

    Interessante o seu trabalho, minha primeira experiência docente foi com alunos da educação de Jovens e adultos ( EJA), no Programa Brasil Alfabetizado. Foi algo muito enriquecedor, no entanto, havia muitas dificuldades relacionadas ao trabalho, já que assim como os Educandos da turma ALegria, a maioria dos alunos apresentavam dificuldades de leitura e interpretação, e não dispunham de um ambiente adequado para realizar seus estudos, porém traziam com eles as vivências, ou seja, suas "sabedorias próprias". Além da questão do SUS, que outras temáticas foram trabalhado por vocês durante essa experiência?

    Atenciosamente: JOÃO PAULO DE OLIVEIRA FARIAS

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    1. Boa tarde estimado João Farias,
      No CIEJA CAMPO LIMPO temos como base o pensamento de Paulo Freire e como tal elaboramos na primeira semana de aula uma série de “Sensibilizações” com todos os agrupamentos no sentido de exporem o que interessa a eles estudarem durante o ano. Assim, os temas são eleitos em Assembléias Gerais com todos os educandos reunidos. Este ano, por exemplo, os temas mais votados foram “Meio Ambiente e Desastres Naturais” e “Saúde Pública”. A escolha do tema sempre é retirada em um processo de valorização da Democracia como valor, por isso cada agrupamento, período e ciclo elegem um tema depois de debaterem internamente e depois escolhem um representante para defendê-lo na Assembléia Geral perante todos os educandos. Buscamos fortalecer a autonomia dos educandos Jovens e Adultos nos temas que mais tem relação com a vivência deles, atraindo e ampliando o interesse pelos estudos.
      Para saber mais do projeto recomendo a leitura do blog oficial e fique convidado a fazer uma visita. O CIEJA CL é uma escola pública da Prefeitura de São Paulo e como espaço público está sempre aberto a receber os cidadãos.


      Atentamente,
      Rubens Baldini Neto

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    2. http://blogdociejacampolimpo.blogspot.com/

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  3. Cláudio Correia de Oliveira Neto11 de abril de 2019 às 06:31

    Parabéns Rubens Baldini Neto! Muito bom ver pesquisadores Russinianos na EJA. Como é o processo de avaliação? Você também defende que o ensino de história deveria "desenvolver de uma consciência histórica crítica-genética", como seria isto se a tipologia da consciência em Russen não é hierárquica, é simultânea e inerente ao humano?
    Cláudio Correia de Oliveira Neto.

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    1. Muito obrigado pela pergunta Cláudio C. de Oliveira Neto.
      Os trabalhos de J. Rüssen nos ajudam a sistematizar o aprendizado histórico de maneira mais detalhado e preciso, no que tange sua pergunta sobre avaliação, creio que você mesmo apresentou o caminho assinalado por Rüssen. Isto é, a avaliação do processo de construção da “consciência histórica” não é algo hierarquizado e sim um processo dinâmico e constante, não é porque um educando atinge um nível de reflexão que poderíamos chamar de ”genética” ou “histórico-crítico” em determinado tema estudado que ele “atingiu” um nível de “consciência histórica” para sempre. Trabalhar com educação é sempre se surpreender com as variáveis do processo de aprendizagem, pois um senhor que em determinado momento consegue elaborar uma resposta muito complexa para a questão, por exemplo, da dificuldade de atendimento no SUS, fugindo de uma explicação com justificativas meramente “morais” e elabora um contexto diacrônico de explicação histórica relacionando a saúde pública desde o Império brasileiro do século XIX, passando pela Primeira República e a exclusão dos pobres e negros até chegar ao contexto da redemocratização e os complexos jogos de interesse e consensos da sociedade civil é o mesmo senhor que ao tratar da violência contra a mulher não consegue admitir se quer que seja um tema passível de estudo. Portanto, construir a empatia histórica também parece ser uma tarefa crucial e reiterado dos professores de história.
      Portanto, como avaliamos no CIEJA CAMPO LIMPO? Construímos coletivamente uma metodologia de aprendizagem durante os 21 anos de experiência do Centro sempre tendo os ensinamentos de Paulo Freire e sua Pedagogia da Autonomia. Assim, aos educandos é apresentado os critérios de aprendizado que serão avaliados durante o mês que ficarão na área de Ciências Humanas, por exemplo “reconhecer as temporalidades de fenômenos sociais”, e a cada atividade que esta habilidade tem de ser mobilizada relembramos que para o prosseguimento dos estudos para o módulo seguinte ou para conclusão de todos os módulos, eles devem tentar atingir plenamente esta habilidade. No final de cada semestre sentamos com cada educando, a coordenadora pedagógica e os professores das quatro áreas de conhecimento e discutimos com ele se acredita ter atingido os objetivos específicos de cada área, dando oportunidade para que o educando possa argumentar como auto-reconhece seu processo educativo.
      Desta forma, buscamos uma avaliação processual e colaborativa onde o próprio educando toma consciência daquilo que precisa melhorar e do quanto já avançou em seu aprendizado.
      Espero ter ajudado com a reflexão.
      Atentamente,
      Rubens Baldini Neto

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    2. Cláudio Correia de Oliveira Neto12 de abril de 2019 às 13:26

      Muito obrigado pelo esclarecimento.
      Maravilhosa essa experiência do CIEJA CAMPO LIMPO, uma inspiração para todos que trabalham com EJA.
      Cláudio Correia de Oliveira Neto.

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  4. Parabéns Rubens, meus sinceros parabéns pelo texto. Eu gostaria de saber sua opinião sobre "como lidar, ou saber se adequar à realidade dos estudantes do EJA? Pois, como sabemos a diversidade em sala de aula, e em especial em uma sala de adultos e muitas vezes de difícil familiaridade por parte do professor.
    Carolina Lima Costa

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    1. Boa tarde Carolina Costa,
      Sua pergunta talvez seja uma das mais instigantes para quem trabalha com EJA.
      No CIEJA Campo Limpo nos debruçamos sobre ela semanalmente, mas ainda não conseguimos respostas definitivas e sim um caminho possível.
      Hoje o EJA tem atendido cada vez mais Jovens de 15 à 18 anos de idade, sobretudo pelo processo de expulsão que ocorre nas Escolas Regulares dos chamados “alunos-problemas”. No CIEJA CL temos mais de 1700 educandos matriculados frequentes, destes por volta de 200 estão na condição de “Liberdade Assistida” e “menor infrator”, além dos 233 com alguma ou múltiplas necessidades especiais, e mais de 30 alon@s transsexuais que não conseguiram se matricular em escolas regulares por transfobia e o público histórico de EJA mulheres maduras, sua maioria negras e migrantes do Norte e Nordeste do Brasil, que não conseguiram concluir seus estudos na chamada “idade certa”. Assim, podemos afirmar que a diversidade convive no Centro, mas não é fácil conciliar os interesses de Jovens excluídos da Escola Regular, com idos@s e adultos trabalhadores que buscam no EJA uma melhoria de vida, inclusive com a “promessa” propaganda da “melhor inserção no mercado de trabalho”. Então como temos feito no CIEJA CAMPO LIMPO? Por experiência a resposta é sempre o ACOLHIMENTO. Este talvez seja nosso valor primordial, acolher, tanto é que o nome do primeiro agrupamento (o de educandos que necessitam de alfabetização) se chama ACOLHIMENTO. Acolher a diversidade, escutar suas demandas e suas experiências de vida e construir possibilidade de intercâmbio destas histórias é o que gera uma empatia crucial para o desenvolvimento pleno de todos os envolvidos no processo educativo, inclusive nos educadores, que aprendemos diariamente com pessoas de uma sabedoria exemplar como Dona Neide que diz “Não importa quem puxou o gatilho: retribua pelo bem”, e que do assassinato de seu filho único aos 18 anos de idade construiu uma escolinha de futebol para os meninos e meninas do bairro terem oportunidade para além do tráfico, ou de Zila que aos 55 anos de violência doméstica se liberta das amarras e preconceitos da sociedade e denuncia o marido e assume sua parceira diante da sociedade brasileira cada vez mais homofóbica.
      É pela força da história de cada um e cada uma dos educandos do EJA que podemos superar as dificuldades, quando os jovens escutaram a voz embargada de Dona Neide contando sua história de vida deram outra atenção quando ela diz em sala “Meninos, prestem atenção, isto que o professor está falando é importante”.
      Atentamente,
      Rubens Baldini Neto

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