Ana Patrícia da Silva e Maria Jocilene de Lima


OFICINA DE FOTOGRAFIAS: UMA REFLEXÃO SOBRE O USO DA FONTE
ICONOGRÁFICA NO ENSINO DE HISTÓRIA


O uso da imagem na Ciência Histórica não é recente, desde seu aparecimento ela vem sendo utilizada, porém não como um documento a ser problematizado, mas sim como ilustração, como se fosse apenas para aguçar os sentidos do leitor ao ver a materialização do que estava escrito no documento. Com o advento da História Nova, por volta dos anos de 1970 e 80, quando a História passa por um momento de crise dos paradigmas, os historiadores repensam não apenas a ciência em si, como também as fontes e metodologias utilizadas:

“Historiadores culturais, como Peter Burke (2004), Pesavento (2008) e Paiva (2006), destacam a ‘invisibilidade visual’ que, por muito tempo, perdurou entre os historiadores, que priorizavam os documentos escritos. Segundo Chartier (1993: 405), ‘Por falta de interesse ou de competência, os historiadores das sociedades ou das culturas negligenciaram durante muito tempo as fontes iconográficas, deixadas à erudição museográfica ou ao comentário estético’” (CASTELO, CECATTO & FERNANDES, 2015, p. 239).

É nesse contexto que as imagens e fotografias passam a ser também classificadas como documentos históricos. Enquanto fontes, agora essas poderiam ser abordadas a partir de problematizações. Isso foi definido em tese, mas na prática ainda engatinha-se nos processos de produção do conhecimento histórico.

Muitos historiadores ainda acostumados a lidar com os documentos escritos não sabem ao certo como agir diante das “novas” formas de fazer e conceber a História e parecem retrair-se. Geralmente os licenciandos não têm tanto contato com os usos das imagens em suas disciplinas de graduação, e isso de certa forma causa um déficit na forma como estes irão tratar esses recursos na produção do conhecimento histórico, pesquisa/ensino. Os alunos da Universidade Estadual do Ceará (UECE) campus Limoeiro do Norte, que desenvolvem sua disciplina de estágio juntamente ao programa Residência Pedagógica, enquanto bolsistas, conscientes de todos os pontos levantados anteriormente, decidiram por se entregar ao desafio de trabalhar imagens como método de ensino aprendizagem.

A proposta inicial da disciplina consistia em trabalhar o Patrimônio Histórico com os alunos do 6º ano da Escola de Ensino Fundamental José Afonso Ferreira Maia, localizada no distrito de Bixopá – Limoeiro do Norte, a ideia da utilização da fotografia enquanto metodologia surgiu após uma reunião com a coordenadora do Programa buscando tornar a aula mais atrativa para os alunos. Os bolsistas também tinham como objetivo trabalhar a autonomia dos alunos, então os próprios deveriam se utilizar de seus celulares para produzir as fotografias do que eles consideravam patrimônios em suas comunidades.

No dia dezoito de outubro de 2018 realizou-se um planejamento para definir as etapas de uma oficina com o intuito de problematizar com os alunos os diferentes usos das imagens, seus significados e intencionalidades. Dessa forma no dia dezenove, uma sexta-feira pela manhã, aconteceu o encontro. Foi apresentada, a partir de exemplos, uma contextualização do surgimento e ampliação do recurso fotográfico, assim como sua importância social.

Ao falar da fotografia, os discentes foram indagados se as imagens os despertavam lembranças, ao obter uma resposta positiva, então, apontou-se que as fotografias trazem consigo mensagens que segundo o professor e fotógrafo Daniel Barboza podem “transmitir um pensamento, uma ideia; registrar um momento ou uma situação; contar uma história, narrar um fato”. Esse debate inicial teve o objetivo de fazer com que os alunos buscassem enxergar além do que a imagem os mostrava quando o projetor fosse ligado e as imagens selecionadas pelos bolsistas fossem exibidas, que eles fossem capazes de questionar os elementos observados.

Destacou-se também a importância de outros fatores que contribuem para a leitura da imagem, como o lugar social do fotógrafo e o ano que a fotografia foi registrada. Com essas informações os alunos teriam consciência do papel que iriam desempenhar no projeto. 

Fig. 1

A partir desse objetivo, fizemos uma seleção variada de imagens, entre elas a fotografia dos trabalhadores e engenheiros na construção do porto de Santos em 1901, onde os bolsistas buscaram realizar uma discussão sobre os elementos que podem ser observados em uma fotografia e as possíveis interpretações que esses elementos sugerem. Como um dos intuitos da oficina era trabalhar as percepções dos alunos, primeiramente questionou-se para a possível temporalidade da fotografia, ou seja, se ela era antiga ou atual. Como era de se esperar, os alunos falaram que se trata de uma foto antiga e ressaltaram o fato da fotografia ser em preto e branco, os fazendo chegar a essa conclusão. Os bolsistas destacaram que nem sempre uma captura em preto e branco significará que se trata de uma fotografia antiga, visto que existem recursos para deixá-la assim, por isso é importante analisar outros elementos, como a qualidade da foto e a indumentária dos sujeitos registrados.  Sobre a indumentária da época também foi problematizado o fato dela sugerir uma distinção social entre os indivíduos, o que é possível perceber entre os engenheiros e os demais trabalhadores com seus trajes mais simples.
A partir dos elementos visuais, aprofundou-se a análise e os bolsistas revelaram que se trata de uma fotografia realmente antiga, mais precisamente do início do século XX, onde os trabalhadores da construção do porto de Santos posam para fotógrafo desconhecido, como dito anteriormente. Ao revelar essas informações os bolsistas também debateram sobre a importância em ter os dados da foto, ou seja, ao utilizar uma fotografia em um trabalho escolar, por exemplo, os alunos precisam apresentar informações coerentes que permitam o leitor conhecer a história daquela imagem.
Essas informações permitiram que os bolsistas questionassem os alunos para a intencionalidade da foto, então perguntaram, na opinião deles, por qual motivo essas pessoas consideraram importante fotografar esse momento. Dessa forma foi possível problematizar com os alunos qual a importância de um porto para uma cidade e principalmente para a época da construção, ressaltando o uso político e social das fotografias. 

Fig. 2

Outro exemplo de fotografia selecionado para a oficina foi a imagem ilustrada acima, nomeada de Câmera Mamute, foi inventada no início do século XX por George Raymond Lawrence, no intuito de fotografar um grande comboio. O que pode ser observado inicialmente, é que a imagem mostra uma câmera gigante para os padrões atuais, enquanto seis homens estão posicionados sobre ela e mais seis encontram-se sentados, provavelmente a espera do momento certo para também posicionar-se e finalmente tirar a foto.

No que se trata a temporalidade da foto pode-se perceber que é antiga pelos seguintes elementos, que os alunos conseguiram identificar: O tamanho da câmera que não corresponde a nenhum modelo atual; o fato de a foto estar em preto e branco; e a forma de se vestir dos homens que estão controlando o objeto que remetem a filmes clássicos, ou novelas de época.

O objetivo de levar essa imagem para análise dos alunos consistiu no desejo de que eles levassem sua observação para além dos elementos visíveis da fotografia. Um exemplo, a diferença que há entre o registrar desse momento específico para o agora, que fizessem uma pequena reflexão acerca do caminho percorrido pela fotografia para que hoje estivesse ao alcance de suas mãos. Afinal, através de um aparelho tão pequeno como o celular, eles seriam capazes de registrar seus patrimônios e momentos importantes com cores, em uma qualidade superior e em questão de segundos.  

E finalmente que os alunos se percebessem dentro de um processo, que suas mínimas ações iriam conter (e contêm) uma historicidade, caso perguntassem a seus avós iriam compreender que antes tirar fotos não era lugar comum, mas um evento.

Ao final da oficina foi proposto que, a partir das reflexões feitas em sala de aula acerca da fotografia, bem como os conceitos de Patrimônio, História e Memória, debatidos no primeiro encontro, os alunos registrassem através de fotografias, utilizando como ferramenta o celular, o que eles consideravam enquanto patrimônio em suas comunidades, sempre atentos ao fato de que patrimônio estava para além do material. Outro ponto constantemente destacado constava na responsabilidade que eles teriam com seus registros, pois não se tratava apenas de uma atividade para contribuir com uma exposição fotográfica e lhes proporcionar uma nota, suas fotografias seriam de grande contribuição para o registro histórico de suas comunidades. Ao fim, o que começou como um projeto para destacar lugares e manifestações culturais importantes para os alunos enquanto indivíduos poderão um dia ser utilizados como fontes históricas por pesquisadores.

Referências:
Ana Patrícia da Silva graduanda do curso de Licenciatura em História da Universidade Estadual do Ceará (UECE), Campus Limoeiro do Norte e bolsista pelo programa de Residência Pedagógica da Capes. Subprojeto coord. pela Profa. Dra. Ivaneide B Ulisses.

Maria Jocilene de Lima graduanda do curso de Licenciatura em História da Universidade Estadual do Ceará (UECE), Campus Limoeiro do Norte e bolsista pelo programa de Residência Pedagógica da Capes. Subprojeto coord. pela Profa. Dra. Ivaneide B Ulisses.

CASTELO, Sander Cruz, CECATTO, Adriano & FERNANDES Márcio Régis. Imagem e Ensino de História. In: ARAÚJO, Fátima Maria Leitão & JUNIOR, Antônio Germano Magalhães (Orgs). Ensino & Linguagens da História. Fortaleza: EdUece, 2015.
Curso Básico de Fotografia Digital. Studio D: Escola de Fotografia, versão 13.

MUAZE, Mariana de Aguiar Ferreira. Ensino de História e imagens: territórios possíveis. Rio de Janeiro: FGV Editora, 2015.


42 comentários:

  1. Como voce fez para suscitar nas crianças o interesse, visto que nessa década o apelo pelo digital tem crescido meteoricamente, e a desvalorização do antigo se mostrado tao presente

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    1. Olá Rozane, obrigada por sua pergunta. Estamos conscientes dessa desvalorização, dessa forma buscamos em nossa fala ressaltar que o patrimônio histórico não se limita ao passado, assim os indagamos acerca do seu cotidiano e das coisas a sua volta, nossa principal preocupação era de que os alunos tivessem uma compreensão de que o patrimônio não são apenas prédios, ou monumentos “importantes”, mas toda manifestação que expresse a identidade de suas comunidades e moradores e que sejam significativas para eles. Para estimular seu interesse usamos de elementos chave como, fazer com que utilizassem uma ferramenta presente no seu dia-a-dia, que é o celular, fazer com eles próprios registrassem as paisagens, profissões, festas, etc. os incentivamos também a acrescentar selfies junto a seus patrimônios. Sempre buscando mostrar que eles fazem tão parte da História, quanto os personagens que veem no livro didático.

      Ana Patrícia da Silva e Maria Jocilene de Lima

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  2. Ana e Lena, gosto muito desse texto de vcs. Claramente tem um uso rico das imagens como fonte...Peço apenas q escrevam um pouquinho como essa experiência da fotografia/fonte repercuti no estágio no ensino fundamental. Vcs estão aproveitando para utilizar nas aulas q ministram?

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    1. Olá Ivaneide obrigada por sua contribuição. Felizmente estamos tendo, ao longo da graduação, um contato considerável com as fontes iconográficas e formas de problematiza-las, a experiência narrada no texto em específico foi de certa forma “mais fácil” de ser abordada pelo fato de que era em si uma oficina voltada para o uso de imagens em um projeto que teria a mesma enquanto foco, assim buscamos mostrar aos alunos um pouco do que aprendemos em nossas experiências com esse recurso para que eles pudessem aplicar na atividade proposta. Na nossa primeira regência, porém, foi mais complicado porque tivemos de conectar o conteúdo do livro didático as imagens que apresentamos, e o risco de cair na armadilha da ilustração é muito alto. Mas ao fim soubemos manejar, pedíamos que os alunos observassem as imagens e nos falassem acerca de suas interpretações, os questionávamos sobre o sentido das mesmas terem sido selecionadas e não outras. Todos esses elementos foram tornando a aula mais leve e conseguimos aproveitar muitos dos comentários dos alunos acerca do que apontaram em suas observações para construirmos, junto a eles, a narrativa da aula. Obviamente não serão em todas as aulas que a fotografia precisa ser o foco, mas é sim um recurso possível e muito rico de ser trabalhado.

      Ana Patrícia da Silva e Maria Jocilene de Lima

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  3. Jeymison Mendes Gomes8 de abril de 2019 às 19:49

    Existem historiadores que preferem as fontes escritas, mas as fotografias podem ser utilizadas para propiciar uma visão mais ampla da realidade, dispensando até um texto?

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  4. Jeymison Mendes Gomes8 de abril de 2019 às 20:14

    Existem historiadores que preferem as fontes escritas, mas as fotografias podem ser utilizadas para propiciar uma visão mais ampla da realidade, dispensando até um texto?

    JEYMISON MENDES GOMES

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    1. Olá, Jeymison, obrigada pela atenção com nosso texto. É importante pensar que as fotografias ao serem utilizadas como fontes históricas requerem o mesmo cuidado que é dado ao utilizar um documento escrito, dessa forma é importante dialogá-las ou até mesmo confrontá-las com outras fontes, pois ao nosso ver, dificilmente uma única fonte, seja escrita ou iconográfica, irá proporcionar uma visão ampla da realidade que dispense outras análises ou abordagens.

      Ana Patrícia da Silva e Maria Jocilene de Lima

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  5. Olá, Ana e Maria,

    De fato, concordo que o debate sobre a forma de uso das imagens na historiografia ainda é carente de outras reflexões. Pois na maioria dos casos, a imagem, quando não é mera ilustração, vem acompanhada de uma longa legenda em que a descrição densa, e, portanto, a sua 'conversão' em um texto, se faz presente.
    A minha questão é sobre a relação com as imagens em tempos de forte apelo visual com o uso das plataformas sociais (facebook, instagram etc). De que maneira vocês observam se há uma mudança na forma como os estudantes lidam com as imagens em tempos de selfie? E até mesmo no uso que eles fizeram do celular para registar imagens de suas comunidades, como eles significam determinadas imagens como patrimônio histórico? o que vocês perceberam de específico nesse uso de novas tecnologias no ensino e produção do saber histórico?

    Natanael de Freitas Silva

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    1. Agradecemos as ótimas colocações, Natanael. Antes de tudo gostaríamos de esclarecer que nossa experiência em sala de aula se resume há dois anos como bolsistas do PIBID e agora na Residência Pedagógica, o que ainda não nos permitiu uma reflexão aprofundada em torno da forma que os alunos se apropriam das imagens, mas de qualquer forma ao comparar a relação que tivemos enquanto discentes com fotografias, e a que observamos dos alunos das escolas parceiras dos programas citados, é perceptível que atualmente com as selfies e redes sociais os alunos se expressam e experienciam o mundo por meio desses registros na maioria das vezes feitos por eles mesmos. Enquanto a questão de como reconhecer imagens como patrimônio histórico, nós tivemos encontros anteriores com eles para explicar o conceito e suas variadas definições e também demos a eles um critério, patrimônio histórico não institucionalizado poderia ser qualquer coisa dentro de sua comunidade que fosse para eles carregado de algum significado, eles teriam de nos contar as histórias por trás de suas escolhas. Nós ensaiamos isso com eles usando exatamente o elemento da selfie, a proposta consistiu em eles saírem pelos espaços da escola com o objetivo de tirar uma selfie em uma parte que significasse algo para eles, como seu próprio patrimônio dentro da escola (alguns registraram uma árvore que gostavam de brincar, outros as flores que gostavam de admirar, outros os espaços em que jogavam futebol no intervalo, etc), eles levaram essa mesma mentalidade para um espaço mais amplo, sua comunidade. Tivemos como resultado imagens de rios, de diferentes igrejas ou rituais religiosos, um parque de vaquejada, profissões de seus pais, enfim obtivemos ótimo material. Nós pudemos perceber que não só é possível, como também necessário fazer uso de novas tecnologias em sala, pois essas mudam constantemente e para manter os alunos interessados e engajados nas aulas, é preciso que, vez ou outra, acrescentemos elementos de seu cotidiano nas nossas falas e metodologias. O mesmo ocorre na produção do conhecimento histórico, desde os anos 1960/70 o advento da Nova História nos trouxe muitas possibilidades de introduzir novas fontes além do documento escrito e devemos fazer sim uso delas, não é uma questão de substituição, mas de ampliação, quanto mais possibilidades de análises, mais ricas as nossas pesquisas.

      Ana Patrícia da Silva e Maria Jocilene de Lima

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  6. Acredito que, como fonte e objeto para a pesquisa histórica, a imagem imprime a necessidade de se estar familiarizado com aspectos metodológicos peculiares. Assim, com base na experiência de vocês, que elementos (ou questões que devam ser levantadas) destacariam como essenciais ao se analisar um documento dessa natureza?


    Simone Bezerril Guedes Cardozo

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    1. Olá Simone, obrigada pelo interesse. Bem, sabemos que trabalhar imagens é um desafio, mas ela deve ser tratada como um texto a ser problematizado. No nosso exemplo de atividade, as fotos foram tiradas pelos alunos, então conhecíamos os fotógrafos e as circunstâncias, os alunos passaram por todo o processo, o de recortar uma paisagem que lhes fosse mais importante, de ter suas motivações para isso, a de selecionar quais imagens deveria permanecer e quais seriam descartadas. Dentro dessa oficina nosso objetivo foi fazer com que eles entendessem que qualquer fotografia, seja em um livro ou na internet, passa pelo mesmo processo de seleção que eles fizeram. Então se você planeja abordar um conteúdo a partir de imagens, ou pedir que seus alunos façam uma pesquisa relacionada, os elementos mais importantes são: pesquisar quem foi o autor da foto (isso ajuda a compreender seu recorte), o ano da foto (ajuda a saber o contexto) de onde a foto foi retirada (livro, site, blog, etc.), e por fim analisar os elementos da própria fotografia (o que contém a paisagem? Qualidade da imagem; Quais as vestimentas? Etc.) faça com que os alunos se questionem.

      Ana Patrícia da Silva e Maria Jocilene de Lima

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  7. Regina Célia Daefiol9 de abril de 2019 às 07:16

    Bom dia Ana e Maria. Acho muito interessante a iniciativa de vocês de usar fontes em sala de aula, especialmente fontes imagéticas. Na visão de vocês, a pouca utilização da fotografia como fonte em sala de aula estaria ligada à deficiência na formação do historiador como professor ou como pesquisador?
    Obrigada
    Regina Célia Daefiol

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    1. Bom dia Regina, muito obrigada pela pergunta. Na nossa visão tem muito a ver com a falta de contato na graduação sim, um licenciando em História que não trabalha com a fonte iconográfica em nenhum momento de sua graduação, terá muitas dificuldades de problematizar o documento em uma pesquisa e principalmente em sala de aula. Como dissemos no texto, como a fonte é relativamente nova na Historiografia ainda há um certo receio entre os professores em abordá-la, apesar de acharmos que isso mudou muito nos últimos anos. Felizmente em nossa graduação tivemos boas oportunidades em aprender a manuseá-las, apesar de que ainda temos um longo caminho a percorrer.

      Ana Patrícia da Silva e Maria Jocilene de Lima

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  8. Ótima iniciativa, pois realmente sentimos falta do diálogo com outras fontes históricas durante o processo de formação nas licenciaturas. No entanto, gostaria de saber se vocês podem compartilhar, o embasamento teórico utilizado para elaboração desse projeto? E se houve alguma iniciativa de ampliá-lo?

    Ellen Cristine A.S.Canuto

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    1. Olá Ellen, obrigada por seu interesse em nossa pesquisa. Bem, nós tivemos o privilégio de ter professores que têm nos incentivado a persistir no uso da fonte iconográfica ao longo da nossa formação. Nós apresentamos um minicurso onde toda a abordagem de nossa temática era em torno de imagens, montamos também uma exposição iconográfica em nossa universidade, onde nossa turma foi a responsável por toda a pesquisa de imagens e sua problematização, então nossa pesquisa não foi feita exclusivamente com um embasamento teórico específico, mas vem de leituras feitas ao longo da graduação, assim como de nossas experiências com a fonte. Nós podemos te indicar alguns títulos: “Imagem e Ensino de História” de Sander Cruz Castelo, Adriano Cecatto e Márcio Reges Fernandes; “Ensino de História e imagens: territórios possíveis” de Mariana de Aguiar Ferreira Muaze; “Fotografias: usos sociais e historiográficos” de Solange Ferraz de Lima e Vânia Carneiro de Carvalho; “História e Fotografias” de Maria Eliza Linhares Borges.

      Ana Patrícia da Silva e Maria Jocilene de Lima

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  9. Boa tarde queridas, parabéns pela pesquisa. De que forma vocês tem presenciado os avanços dos usos de iconografias em sala de aula não apenas como ilustrações, como antes era trabalho, mas como um documento histórico.

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    1. Bom dia e obrigada pela pergunta, Raynara! Através da experiência no estágio estamos tendo um contato maior com o livro didático, e defendemos o seu uso como auxiliador do professor, além de ser o material que os alunos têm acesso, então o consideramos uma importante ferramenta que vem contribuindo no melhor manuseio das imagens, pois constatamos um cuidado que é dado com as ilustrações, com legendas bem elaboradas e questionamentos que direcionam o olhar dos alunos para os elementos chaves das imagens, dessa forma, um professor atento e consciente da importância dessa linguagem, irá conduzir uma excelente discussão, como já tivemos a oportunidade de presenciar.

      Ana Patrícia da Silva e Maria Jocilene de Lima

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  10. Boa tarde.
    Parabéns, adorei o texto e acho que a fotografia é essencial para a história. Meu questionado visa o seguinte: hoje, com a evolução da tecnologia, é muito fácil ter um registro fotográfico a qualquer momento, no entanto, com esses avanços é possível modificar condições climáticas, cores, formas e tudo que nela é exposto. No futuro, você acha que utilizar a foto como fonte de pesquisa histórica seria comprometer a historia em si?

    Lilian Abe Gregorio

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    1. Bom dia, Lilian obrigada por seu comentário. Bem, em relação a seu questionamento nós acreditamos que não. Todas as fontes utilizadas pelo historiador, inclusive os documentos escritos, são passíveis de modificação. É exatamente aí que entra o papel do pesquisador, é nossa função analisar todos os aspectos de nossas fontes, para comprovar sua veracidade e só assim utilizá-las em nossos trabalhos. No caso da imagem, buscar saber quem foi o autor, as condições em que a foto foi registrada, inclusive o cruzamento com outras fontes será essencial. Acreditamos que o futuro nos proporcionará pesquisas ainda mais instigantes.

      Ana Patrícia da Silva e Maria Jocilene de Lima

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  11. O que fazer em casos de manipulações de imagens? O que notou a partir do contato dos alunos com as imagens?


    Att
    José Gilberto Targino de Medeiros

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  12. Na opinião de vocês é possível que o aluno tenha uma aprendizagem mais significativa e desenvolva mais seu senso crítico a partir da análise de fotografias do que em aula expositiva por exemplo?
    Railany Oliveira de Sousa.

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    1. Raylany, bom dia! Acreditamos que a abordagem e concepção de História feita pelo professor será mais significativa para trabalhar o senso crítico dos alunos do que os recursos que ele utiliza. Inclusive, Leandro Karnal fala que mesmo auxiliado por tecnologias e recursos diversos é possível tornar uma aula metódica, enquanto só com o quadro o professor consegue conduzir uma aula atrativa para os alunos. De toda forma, concordamos que, bem problematizada, sem dúvidas a imagem contribuirá para trabalhar as percepções e criticidade dos alunos, além de tornar a aula mais lúdica, característica que atrai a atenção dos alunos.

      Ana Patrícia da Silva e Maria Jocilene de Lima

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  13. Ótima leitura. Gostaria de saber como as professoras avaliam a questão da legitimidade de uma foto quanto ao seu "poder" de servir como instrumento de análise histórica. Quando é um documento escrito, diversas são as formas de se avaliar a veracidade e relevância do mesmo (crítica interna/externa, entre outros), mas como uma fotografia pode ser avaliada do ponto de vista de coerência autor/contexto histórico? Porque mesmo que seja provado sua legitimidade enquanto fato histórico (realmente uma foto tirada no ano dito), é difícil verificar a intenção do autor. Essa pergunta me veio porque, pode ser um erro meu a comparação, mas hodiernamente fotografias nao necessariamente expressam a realidade a qual o sujeito que a tirou vive (pensando em redes sociais).

    Muito grato pelos esclarecimentos

    Rodrigo Monteiro da Silva

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    1. Olá Rodrigo, obrigada pelo questionamento! Devemos analisar a fonte iconográfica assim como analisamos um texto escrito, ou seja, ela tem de ser questionada. Quem foi seu autor? Qual seu lugar social? (A partir do lugar social dá para se ter uma ideia da intencionalidade do autor) Em que condições a fotografia foi registrada? Que tipo de imagem é esta? (Um cartão de visitas? Uma foto de família? Um momento de trabalho? Uma festa? Etc.) pensando o tipo de imagem, você pode pensar a finalidade para a mesma. Qual o ano em que a fotografia foi tirada? (Isso é importante, pois a partir do ano você vai entender o contexto do registro) Quais as vestimentas? Qual o ambiente? Se você tem todas essas informações, conseguirá problematizar o seu objeto de análise e irá começar a entender suas intencionalidades. É verdade que é difícil dizer o que o autor da foto queria exatamente, mas para isso é importante o cruzamento de fontes, dificilmente o historiador desenvolve suas pesquisas a partir de um único documento. Afinal, quando se trata de uma fonte escrita, como garantir o que o autor de um documento pretendia exatamente quando o escreveu? Nunca seremos capazes de entender em sua totalidade, com as imagens não é diferente.

      Ana Patrícia da Silva e Maria Jocilene de Lima

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  14. Excelente texto! Vocês bem no começo, informam acerca do uso da imagem sendo usada como ilustração e não problematizada, gostaria de saber como foi fazer esse exercício de leitura de imagem com os aluno, houve dificuldades?

    -Caroline Souza Silva

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    1. Olá, Caroline! Obrigada pela leitura e questionamento. Podemos considerar um exercício de grande aprendizagem, mas muito desafiador. Percebemos que mesmo apoiadas pela teoria, as dificuldades estiveram presentes, pois é preciso saber lidar com a turma, além de preparar bons questionamentos e reflexões que direcionem o olhar dos alunos. Precisamos nos preparar também para recepção dos alunos, porque uma turma pode se mostrar super disposta a colaborar com a discussão em torno das imagens, enquanto outra pode silenciar, o que dificulta o caminhar da aula. No mais, são dificuldades semelhantes enfrentadas pelo professor que opite trabalhar com um filme, música, poema, texto, etc.

      Ana Patrícia da Silva e Maria Jocilene de Lima

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  15. Olá! Muito bom ler textos como este que traze aplicabilidade aos conhecimentos históricos e o tornam mais interessantes para os alunos. Gostaria de saber se uma leitura como essa é possível fazer através de fotos de redes sociais?

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    1. Olá Denise, dependendo de sua temática e abordagem é possível sim. Nós e nossos colegas fizemos uma atividade assim com nossa coordenadora, selecionamos selfies de nossas redes sociais, essas foram exibidas no projetor, e as analisamos em conjunto. Onde a foto havia sido tirada e por que, como estava a expressão facial, se a foto tinha algum tipo de filtro e etc. Enquanto isso íamos interpretando o que a pessoa na selfie desejava passar com aquela imagem, buscando entender traços de sua personalidade através da foto. Achamos muito válido fazer isso em sala de aula, os alunos iniciam um contato com a análise e problematização de fotos a partir de algo do seu cotidiano, o que torna o conhecimento mais significativo para eles.

      Ana Patrícia da Silva e Maria Jocilene de Lima

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  16. Boa tarde Ana Patrícia! Parabéns pelo texto! Muito rico o relato dessa experiência. Também gosto muito de trabalhar com fotografias como fontes históricas em sala de aula.
    Você considera que as fontes iconográficas podem auxiliar na construção do conceito de tempo histórico para alunos dos anos iniciais, visto que esse conceito é tão abstrato para as crianças?

    Eunice Aparecida Antunes Fleury

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    1. Boa tarde, Eunice. Essa é uma boa reflexão a ser feita. Realmente, ao se trabalhar uma fotografia do século XIX, por exemplo, é possível destacar elementos pertencentes aquele período que contribua para a compreensão do tempo histórico, além da oportunidade de destacar as pectos referentes as permanências e rupturas da história que também fazem parte desse conceito.
      Quando ministramos uma aula para o 9° ano sobre Segunda Revolução Industrial, fizemos uso de imagens com invenções da época, construindo uma discussão em torno desses objetos que permanecem no cotidiano dos indivíduos, mas que ao longo do tempo ganham novos usos e significados. Também ressaltamos que a apropriação desses objetos feita pelos sujeitos ocorreu de forma e ritmos distintos devido fatores sociais, econômicos e cultutais, sendo possível também relacionar essa reflexão ao conceito de tempo histórico, que não se restringe aquele tempo cronológico e não se aplica da mesmo forma no estudo das diversas sociedades do passado e contemporâneas, visto uma série de subjetividades envolvidas.

      Ana Patrícia da Silva e Maria Jocilene de Lima

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  17. Boa tarde meninas! Primeiramente quero parabenizá-las pelo texto, muito interessante e de grande valia para nós, enquanto historiadores, termos uma visão de novas fontes a serem trabalhadas, que não se remeta apenas à fonte escrita. Assim, meu questionamento é o seguinte: a partir do uso de imagens em sala de aula, é possível criar no aluno um espírito mais crítico e reflexivo, do que somente com o trabalho em fontes escritas? Além disso, existe algumas restrições quanto ao que não fazer, quando se utiliza em sala de aula, o trabalho com imagens?

    Nathany V. dos Santos

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    1. Olá, Nathany, ficamos agradecidas por sua participação. Comentamos anteriormente da importância em considerar a forma que o professor faz a abordagem dos conteúdos e sua concepção de História para podermos afirmar se o senso crítico do aluno será melhor trabalhado com o uso da iconografia. Contudo, consideramos sim que um professor preparado para utilizar a imagem como fonte histórica conduzirá uma aula onde seus alunos poderão exercitar suas capacidades de interpretação, reflexão e senso crítico. Para isso, é preciso evitar o tão criticado uso da imagem como ilustração, ou seja, abordar um assunto e logo após trazer a imagem apenas para afirmar o que já se falou, ignorando seus elementos principais, e até mesmo os que não estão na imagem, como o autor da imagem, seja ele um fotógrafo, pintor, cartunista, ilustrador, etc. Outro equívoco é reservar uma aula específica para conduzir a aula a partir de imagens, e, em outros momentos, ignorar as imagens do livro didático, pois esse é um exercício que precisa ser feito constantemente. Da mesma forma não podemos ignorar as atividades do livro que tragam imagens. Os erros citados dificultarão para que os alunos compreendam a importância da imagem no estudo da História.

      Ana Patrícia da Silva e Maria Jocilene de Lima

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  18. Considerando a fotografia como fonte histórica, objeto de estudo e investigação da História, o olhar sensível para esse objeto pode conformar experiências com o passado? Parabéns pelas contribuições!
    Daiane dos Santos Piassarollo

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  19. Olá, boa tarde. Parabéns primeiramente pelo texto de vocês, a importância das imagens como fontes para esses alunos é de extrema necessidade, visto a carência de métodos que façam com que o aluno assimile melhor o conteúdo que está estudando com a realidade. Dessa maneira, de que forma vocês poderiam ampliar essa experiência que vocês realizaram, fazendo com que há uma melhor resposta em relação a criticidade do aluno e sobre a escrita diante do que foi visto, ou seja, até que ponto o aluno consegue escrever sobre um determinado assunto a partir de uma imagem que ele venha a estudar? Visto que a escrita também se torna algo preocupante diante da pouca flexibilidade do aluno em descrever algo que ele esteja aprendendo.

    Melissa Jéssica Beleza Souza

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    1. Olá, Melissa boa tarde. Obrigada por sua contribuição. Entendemos sua preocupação, a escrita, de fato, é algo muito urgente visto que muitos alunos terminam o fundamental sem conseguir aplicar a ortografia e concordância corretamente. Nós não temos tanta experiência em sala de aula ainda, mas vemos que a melhor abordagem é a do conhecido, levar imagens que eles possam fazer uma conexão com seu cotidiano, e se não for possível, por conta do conteúdo, o professor pode levantar algo de semelhante para eles terem por onde começar a relacionar, isso pode facilitar a criticidade, de qualquer forma, a escrita deve ser sempre exercitada. No caso em específico narrado na nossa pesquisa, nosso passo seguinte a oficina foi uma exposição fotográfica que organizamos com eles na escola, dissemos a eles quais informações iríamos priorizar sobre suas fotos e eles teriam de trazê-las por escrito, com as informações, elaboramos junto com eles as legendas para colar nas fotos impressas.

      Ana Patrícia da Silva e Maria Jocilene de Lima

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  20. Excelente texto. Gostaria de ressaltar que esse trabalho pedagógico com imagens é muito importante, eu mesma, uso em sala de aula as fotografias post-mortem e minhas alunas ficam chocadas em pensar que são pessoas mortas, com isso aproveito para contextualizar a época. Minha pergunta é como trabalhar as imagens da contemporaneidade, em tempos de redes sociais, em que as pessoas, geralmente, passam uma imagem falsa, que estão felizes, lindas e ricas... ou mesmo, quando viajam e mostram somente o que há de belo nas cidades, o lixo, a desordem e a pobreza sempre são descartados.
    Angelita Maria Rocha Ferrari da Costa

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  21. Belo trabalho, parabéns, gostei bastante da proposta. Tendo em vista todo o cuidado na seleção de imagens e conteúdo a ser trabalhado, como vocês enquanto bolsistas e estudantes sentiram com a noção de absorção de conhecimento por parte dos alunos? durante a a execução o que pra vocês foi mais gratificante enquanto pesquisadores?.
    Sucesso!
    (Maria do Carmo Rodrigues do Nascimento)

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    Respostas
    1. Boa tarde Maria do Carmo, muito obrigada por sua contribuição. Em relação a seu primeiro questionamento foi algo gradual, nós tivemos diversos encontros com os alunos e os deixando absorver aos poucos, nos primeiros encontros nós debatemos com eles os conceitos que guiariam nosso projeto (destaque a História, Memória e Patrimônio), depois lançamos a proposta de trabalhar imagens e trouxemos discussões sobre o assunto, a última etapa antes da montagem da exposição foi a oficina narrada no presente projeto. O comum entre todos os nossos encontros, foi que sempre partíamos nossas discussões do conhecimento prévio deles e também retomando discussões anteriores para não ultrapassar o entendimento deles e nem subestimá-los, eles nos ajudaram muito. E acreditamos que o momento mais gratificante de todo o processo foi ver a nossa exposição fotográfica finalizada. Ela simbolizou nosso trabalho ao longo do semestre, assim como a compra dos alunos da nossa proposta. Mesmo nem sempre tão empolgados com todos os aspectos do longo processo, eles ficaram felizes e orgulhosos do resultado. Uma experiência gratificante.

      Ana Patrícia da Silva e Maria Jocilene de Lima

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  22. Bom dia, Ana Patrícia e Maria Jocilene. O texto de vocês me suscita a oportunidade enquanto futuro docente de entender o processo de ensino aprendizagem de forma ampla, rompendo com as 'ditas amarras' do sistema. Outra oportunidade que percebi ao ler é que, vocês trabalharam de forma lúdica a autonomia dos alunos, como vocês se deu o retorno com os alunos através dessa atividade?

    Leandro Nogueira da Silva.

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  23. Olá meninas!! Gostei muito da iniciativa de vocês. Gostaria de saber se para fazermos uma leitura da imagem fotográfica enquanto documento histórico é necessário possuir conhecimentos básicos sobre fotografia, ou isso não seria necessário?
    Maria Izeth Braga Beltrão

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