MONITORIA
EM HISTÓRIA SOCIAL E ECONÔMICA DA AMAZÔNIA: ENSINO DE HISTÓRIA E FORMAÇÃO
DOCENTE
O
Programa Institucional de Monitoria na disciplina História Social e Econômica
da Amazônia, teve como intuito criar um
sistema de cooperação dentro de sala de aula aproximando o docente das reais
dificuldades dos discentes, proporcionando um horário de atendimentos
individualizado aos alunos matriculados na disciplina (os discentes poderiam
tirar dúvidas por e-mail ou pessoalmente, nos horários preestabelecidos para as
atividades de monitoria 20 h semanais), e em especial no caso do aluno-monitor o
projeto propicia a vivência de experiências novas e satisfatórias para a
formação docente em História. Ou seja, a monitoria é um projeto de ensino que
no caso dos cursos de licenciatura é um programa que favorece uma iniciação da
experiência docente ao aluno-monitor.
De
acordo com Frision (2016), a monitoria teve início nas universidades europeias
nos séculos XII e XIII, quando os professores escolhiam alunos para
apresentarem argumentos a respeito de um determinado tema elencado pelo
professor e atualmente os programas de monitoria tem sido uma estratégia de
apoio aos alunos com dificuldades de aprendizagem, além de auxiliar o professor
em atividades específicas.
Este
artigo pretende apresentar a experiência de monitoria na disciplina História
Social e Econômica da Amazônia, enfatizando todo o processo (planejamento,
execução e resultados), enfatizando as oficinas: Oficina temática: Cabanagem e
Oficina de Produção de Material Didático em História da Amazônia.
A disciplina História Social e Econômica da Amazônia é uma
disciplina do Curso de História do Instituto de Estudos do Trópico Úmido da
Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará prevista nos PPCs referentes as
turmas iniciadas nos anos de 2014, 2015 e 2016. Com a mudança do PPC em 2017,
essa disciplina se desmembrou em três disciplinas de História da Amazônia
delimitadas periodicamente.
Os textos que foram debatidos no decorrer da disciplina
partiam de uma produção historiográfica recente a respeito da formação social e
econômica da Amazônia, para refletir sobre a especificidade da região no
decorrer do tempo, discorrendo sobre temas que abrangiam os projetos coloniais
da Amazônia Portuguesa ao tempo presente, perpassando sobre o período de
formação da nação, o império e a república. (Chambouleyron, 2010; Sarges, 2002;
Castro, 2010; Martins, 1998)
No
processo de planejamento da disciplina, foi realizada uma reunião entre
coordenadora e monitora para apresentação detalhada do programa da disciplina e
planejamento das atividades a serem desenvolvidas como as leituras e
fichamentos para a organização das oficinas.
Oficina sobre a Cabanagem
A
cabanagem ocorreu na província do Pará, foi uma revolução popular sendo seu
auge em 1835, acredita-se que esse movimento se iniciou bem antes, com duração
de cinco anos até 1840, sendo que em até 1845 prolongou na zona rural. Seu nome
deriva das cabanas construídas às margens dos rios, onde se encontravam a maior
parte da população daquela época. Gerando uma sangrenta guerra, entre os
cabanos e a tropa do governo central. O movimento matou mais de 30 mil pessoas
entre eles mestiços, índios e africanos pobres ou escravos, também dizimou
parte da elite local que só voltou a crescer significativamente em 1860. O
principal alvo dos cabanos eram os portugueses e seus descendentes que eram
senhores donos de escravos e comerciantes daquela região durante o período
regencial brasileiro do primeiro império. A cabanagem foi marcada por um
cenário de pobreza, fome e doenças, gerando várias crises entre elas a de
abastecimento de alimento na capital devido à zona rural também estava em
conflito. (Ricci, 2006)
Os
cabanos visavam outras perspectivas políticas e sociais, que melhorasse a
condição de vida dos indígenas, negros de origem africanas e mestiços. As
causas principais foram à revolta dos liberais contra o presidente nomeado pelo
governo regencial e a situação de miséria dos cabanos. Devido a esse sentimento
de ódio em comum entre essas classes, se juntaram para lutar contra os
portugueses que permanecia no governo, pelos seus direito e liberdade. A
cabanagem foi tão intensa que chegou a atingir as fronteiras do Brasil central
e se aproximou do litoral norte e nordeste. (Ricci, 2006)
Como
referencial teórico para esta atividade foram utilizados textos de produção
historiográfica recente e clássica sobre a região amazônica, em especial os
relacionados à temática da Cabanagem como Ricci (2006), Coelho (1993), Bastos &
Lopes (2008) e Bezerra Neto (2005).
O
tema foi desenvolvido em forma de oficina no decorrer de duas aulas com
acompanhamento da orientadora. Na primeira parte foi utilizada a metodologia
aula expositivo-dialogada, com participação da monitora no debate dos textos
acadêmicos a cerca do tema. Na segunda parte da oficina foram utilizadas duas
pinturas de artistas paraenses que dentro da pintura histórica procuraram
representar o movimento cabano: Norfini, Alfredo. “Assalto dos cabanos ao trem
de guerra” (1940) e Mariz Filho, Romeu. “O
Massacre do Brigue Palhaço” (s,d).
A
primeira tela “Assalto dos cabanos ao trem de guerra” representa um evento ocorrido durante a segunda tomada de Belém
pelos cabanos em agosto de 1835, a luta sangrenta em frente a Igreja dos
Mercedários culminou com a derrubada do portão do trem de guerra pelos cabanos,
nesse processo um dos principais líderes cabanos foi morto (Antonio Vinagre), assumindo o
poder Eduardo Angelim.
A
segunda pintura intitulada “O Massacre do Brigue Palhaço”, descreve um dos
episódios motivadores da Cabanagem, ocorrido no estado do Pará no ano de 1823,
em que as tropas da força naval imperial visando combater uma desordem pública
de cunho antilusitano recolheu duzentos e cinquenta e seis para bordo de um
brigue denominado palhaço, as pessoas foram confinadas no porão da embarcação,
quando os prisioneiros reclamaram por água a abertura do porão foi encerrada
com cal viva, no total duzentos e cinquenta e dois homens morreram asfixiados.
Apresentou-se
uma contextualização do período de produção e da trajetória dos artistas. As
pinturas foram projetadas através do Datashow. E a turma fez explanações e
interpretações sob a forma pela qual a Cabanagem foi representada. Deve-se
atentar que o trato com a imagem, em especial pinturas históricas possuem
regras próprias de composição, convenções e linguagens. (Napolitano, 2005)
Oficina de produção de
material didático em História da Amazônia
O
outro momento em que o tema Cabanagem ocorreu foi na oficina de produção de
material didático. Nesse momento os alunos deviam se reunir em duplas e
escolher quais quer temas referentes às unidades do curso: 1. Amazônia
Portuguesa, 2. Cabanagem e Pós Cabanagem, 3. A “belle-époque amazônica” e 4.
Amazônia de: 1914 ao tempo presente. Após a escolha do tema os alunos deveriam
produzir um material didático que versasse sobre a temática escolhida.
Na
oficina proposta o monitor Co orientou as duplas, sanando duvidas e auxiliando
a orientadora nessa tarefa. Cada dupla produziu seu texto que foi corrigido
para ser revisado e somente essa versão final foi avaliada nos itens: adequação
da linguagem para a série escolhida, domínio conceitual, uso adequados de
fontes e formatação do texto. Posteriormente alguns desses textos didáticos
foram utilizados com alunos do Ensino Básico em atividades de estágio ou de
extensão.
No
que tange ao tema Cabanagem podemos notar que houve uma boa receptividade e
compreensão sendo possível de observar nas escolhas de tema para desenvolver
material didático, a Cabanagem foi o segundo tema mais recorrente.
Os
percentuais das escolhas dos alunos da turma foram às seguintes: 40,9%
escolheram fazer o material didático sobre a belle-époque amazônica; a temática
Cabanagem e Pós Cabanagem foi escolhida por 31,9 % dos alunos do curso, 18%
optaram por desenvolver uma temática a respeito do tempo presente e 4,5%
escolheram a Amazônia Portuguesa como tema.
Algumas reflexões sobre a
experiência
Após
o processo da monitoria, com ênfase no tema Cabanagem, podemos concluir que
apesar da curta duração da monitoria (2 meses) o resultado foi positivo pois,
em comparação com a disciplina anterior História do Sul e Sudeste do Pará,
pertencente ao núcleo de História da Amazônia, percebemos que houveram três consequências
positivas.
A
primeira foi o aumento da aprovação de 65% para 88%. A segunda foi a diminuição
da taxa de evasão de 30% em História do Sul e Sudeste do Pará para 3,7% em
História Social e Econômica da Amazônia. Considerando os diversos motivos para
a evasão, acredito que o principal resultado da monitoria foi o aumento das
médias da notas e conceito finais em comparação: a disciplina História do Sul e
Sudeste do Pará apresentou um percentual de 20% de conceitos regulares, 40% de
conceitos bons e 5% de conceitos excelentes; já a disciplina História Social e
Econômica da Amazônia apresentou 3,7% de conceitos regulares, 62% de conceitos
bons e 22% de conceitos excelentes.
Além
desse resultado positivo, o projeto de monitoria pode proporcionar uma efetiva
aproximação do aluno-monitor com as atividades docentes como planejamento,
pesquisa, orientação e avaliação.
É
importante ressaltar que a aluna-monitora após essa experiência, demonstrou
interesse em pesquisar temas relacionados à História da Amazônia e ao ensino da
História, tanto que posteriormente participou do projeto de extensão: “A
temática indígena na escola – A lei 11.645/08: Imagens e representações dos
alunos da educação básica em Xinguara-PA acerca dos povos indígenas” coordenado
pelo Prof. Me. Rafael Rogério Nascimento dos Santos e atualmente está
escrevendo uma monografia que trata da experiencia e memória indígena a
respeito da guerrilha do Araguaia.
Nossa
reflexão sobre a experiência da monitoria como uma prática positiva tanto na
potencialização da aprendizagem quanto na formação docente nos cursos de
graduação, dialoga com o que foi observado por Frison:
“Do
que foi dito pela totalidade dos envolvidos na pesquisa (professores,
estudantes e monitores), infere-se que a monitoria é uma proposta de trabalho
que solicita competências do monitor para atuar como mediador das
aprendizagens; investe nas possibilidades que cada estudante tem para aprender;
fortalece os professores orientadores a continuarem abrindo oportunidades para
que os estudantes potencializem sua aprendizagem.” (Frison, 2016, p.148)
Referências.
Iolanda de Araújo
Mendes é graduanda do Curso de Licenciatura Plena em História (IETU/Unifesspa),
foi bolsista do Projeto Integrado de Monitoria em História Social e Econômica
da Amazônia e bolsista de Projeto de Extensão. E-mail: iolandaamendes@gmail.com.br.
Anna
Carolina de Abreu Coelho é doutora em História pelo programa de História Social
da Amazônia da UFPA e professora vinculada ao Instituto de Estudos do Trópico
Úmido da Unifesspa e ao PPGHIST/Unifesspa. Participou do Projeto Integrado de
Monitoria orientando bolsistas nas disciplinas: História Social e Econômica da
Amazônia, Formação dos Estados Nacionais e História da Amazônia I. E-mail: annacarolinaabreu@unifesspa.edu.br
BEZERRA
NETO, José Maia. A Cabanagem: A Revolução no Pará. In: ALVES FILHO, Armando;
ALVES JUNIOR, José; BEZERRA NETO, José Maia. Pontos de História da Amazônia. Belém: Paka-Tatu, 2001. p. 73-104.
BASTOS,
Carlos Augusto; LOPES, Siméia de Nazaré. Nas Rotas do Xingu e do Tapajós:
Desertores, Remeiros e Regatões no Grão-Pará do Pós-Cabanagem. In: SOUZA, César
Martins de; CARDOZO, Alírio. Histórias do
Xingu: Fronteiras Espaços e Territorialidades (Séc. XVII - XXI). Belém: Ed.
Universitária UFPA, 2008.
CASTRO, Edna. Políticas de Estado e
atores sociais na Amazônia Contemporânea. BOLLE, Willi;
CASTRO, Edna; VEJMELKA, Marcel (orgs.). Amazônia: região universal e teatro do mundo. São Paulo: Editora Globo, 2010.
CHAMBOULEYRON,
Rafael. Povoamento, ocupação e
agricultura na Amazônia colonial (1640-1706). Belém: Acaí/PPHIST/CMA, 2010
COELHO,
Geraldo Mártires. Anarquistas, Demagogos
e Dissidentes: a Imprensa Liberal no Pará de 1822. Belém: CEJUP, 1993. p. 149-295.
FRISON, Lourde Maria Bragagnolo.
Monitoria: uma modalidade de ensino que potencializa a aprendizagem
colaborativa e autorregulada. Pro-Posições | v. 27, n. 1 (79) | p.
133-153 | jan./abr. 2016. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/pp/v27n1/1980-6248-pp-27-01-00133.pdf
MARTINS, José de Souza. A vida
privada nas áreas de expansão da sociedade brasileira. SCHWARCZ,
Lilia Moritz (org.) História da Vida Privada no Brasil. Vol. 4. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.
NAPOLITANO,
Marcos. A história depois do papel (fontes
audiovisuais). In: PINSKY,
Carla Bassanezi (org.). Fontes históricas.
São Paulo: Contexto, 2005.
RICCI,
Magda. Cabanagem, cidadania e identidade revolucionária: o problema do
patriotismo na Amazônia entre 1835 e 1840. Revista
Tempo, 22, 2006, disponível em: http://www.scielo.br/pdf/tem/v11n22/v11n22a02. Acesso em: 25 de Fev. de 2016.
SARGES,
Maria de Nazaré. Belém: Riquezas produzindo a Belle Époque.
Belém: Paka-tatu, 2002.
Quais foram os maiores desafios encontrados pelos discentes ao produzir um texto didático?
ResponderExcluirAtt,
Lóren Graziela Carneiro Lima
Boa noite
ExcluirO principal deles foi a forma como se deveria apresentar um conteúdo de textos acadêmicos para uma turma específica do ensino básico. O uso de fontes e a formatação do texto também geraram dúvidas.
Atenciosamente
Anna Carolina de Abreu Coelho
Boa noite, desde de já agradeço.
ExcluirProduzir um texto didático, para nós discentes, é sempre um desafio ainda mais quando estamos no início da graduação. Na medida em que temos uma noção de ensino como alunos da rede básica, nossa linguagem e postura ainda é como de alunos mesmo. Havia várias dúvidas que a monitora junto com a professora responsável sanamos, perguntas como usar uma fonte com análise de crítica de pesquisador. Para os alunos iniciantes é bem desafiador o que deu um certo receio quando foi apresentado aos mesmos. Contudo, a proposta foi maravilhosa, além de nos fazer mais confiantes como pesquisadores, a partir da análise das fontes, tivemos outro olhar acerca do ensino na produção do material didático, olhar de professor. Olhar esse que passou por várias transformações na hora de colocar em prática esse material, anos depois no estágio e nas disciplinas de estratégia de ensino. Eu como monitora e meus colegas tivemos a chance de perceber nosso crescimento através dos erros e acerto desse material didático, que foi produzido no início de nossa formação,agora quase concluindo vemos como ter uma boa linguagem, escrita e uma pesquisa séria é fundamental para o ensino e aprendizagem.
Att: Iolanda de Araújo Mendes
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