EXPERIÊNCIA COMA PROPOSTA "CAIXA DE HISTÓRIA” (2018)
A “caixa de história” é um projeto
apresentado a nós na disciplina de História da América ministrada pelo
professor Dr. Michel Kobelinski, no 3° do curso de História na Unespar. Ela
possui um design simples, porém sua aplicação revela a sofisticação da proposta
como proposta de superação de problemas educacionais. Como o próprio nome já
diz, a caixa consiste em acumular em um recipiente várias atividades,
proposições, textos e orientações para os participantes. Sua preocupação
inicial é com a história local, porém o conceito pode ser estendido para outros
assuntos. Por sua simplicidade estética, a caixa de história também amplia os
horizontes dos professores/pesquisadores ao promover o aumento de uma
audiência, elevando assim a procura e o consumo por história.
Nossas atividades na caixa de história se iniciaram com a leitura e fichamento de textos sobre a Guerra Peninsular e seu acarretamento em outras partes do mundo. Como consequência as discussões se voltaram também para uma realidade mais próxima a nós que foi a Guerra do Contestado, “é preciso aproveitar os recursos do local” (ROCHA, p. 16) e “usar documentação que se achar disponível em cada local” (ROCHA, p. 18) como atenta Helenice Rocha em seu texto “Caixa de história local: criação e recriação na prática docente”. Por esse motivo os símbolos, as bandeiras, as canções e versos são, além de uma rica fonte histórica, se constituem como uma abordagem diferenciada sobre algo implícito, porém invisível no cotidiano das pessoas as quais a caixa se destina.
As questões territoriais e de aspecto cultural aparecem de forma bastante expressiva dentro da proposta da caixa de história e trazem á tona como a entrada de espanhóis e outros povos em territórios de nativos nos remete a se colocar no lugar dos indivíduos pelos quais os contextos de posse, de guerra e batalha possam ter um olhar mais amplo.Assinalar a forma pela qual a existência de um determinado grupo de indivíduos conflita com outro demonstra como a formação grupal tem bases consistentes que reafirmam suas convicções culturais passando por cima dos preceitos dos grupos com menor força representativa.
Ao realizar o trabalho da caixa de história com imagens e a visão de símbolos nacionais fica nítido como essas imagens e hinos demonstram a luta e batalha de povos que vão além de questões de terras, mas questões étnicas, econômicas e também culturais. Pois bem se sabe que nem todas as fusões ou essa vinda de indivíduos de fora desmantelam muito da cultura e costumes dos povos.
Em dias cada vez mais cheios e pouco tempo para perceber tudo que esta a sua volta, os símbolos nos dias de hoje ganham uma função estética imediata e extremamente clara para o que ela se propõe a representar. A história tem uma visão que pode abranger proporções diferenciadas, usando passado e o presente também como a linha de acesso e norteamento entendendo a forma pela qual no período e atualmente se preserva títulos, terras e seriação cultural, levando em conta a diferença nas proporções de uma guerra e de outra, de uma compreensão cultural de cada espaço.
Demonstrar como a partir do momento que os indivíduos dentro de suas organizações percebem a importância das práticas grupais únicas dos sujeitos é o intuito do material da caixa, com uma didática que abrange um olhar atento a história e construção indenitária dos indivíduos. Assim eles compreendem que as fronteiras entre o tempo o espaço e a cultura étnica vão gerir muito das ações de suas vivencias.
Dar ao aluno a possibilidade de criar uma linha de raciocínio sobre como os conflitos deixaram resquícios históricos, e possibilitar que por meio de aulas dinâmicas eles possam acessar um mundo histórico por traz dos textos, livros, poemas, hinos, símbolos, bandeiras.
O local escolhido foi organizar nossas atividades na Praça do Contestado na Av. Getúlio Vargas, Porto União - SC. Este local em especial tem consigo um forte viés identitário com os monumentos e com as bandeiras lá presentes. Nesta praça vemos propor aos participantes dessa atividade a criação de Estado, um território, de uma bandeira, de um hino, de brasões e etc. Tudo isso levando em conta as particularidades de cada participante.
O que esperamos dessa atividade é o
sentimento despertar de um pertencimento a história local e o desmistificar a
percepção do senso comum que história local é a história dos primeiros (o
primeiro prefeito, os primeiros vereadores, os primeiros habitantes), ao mesmo
tempo em que a história da guerra peninsular é explorada com as imagens do
Goya, fazendo com que os participantes produzam uma percepção própria os
paralelos sobre as duas guerras e principalmente suas implicações para os
campos sociais, culturais e econômicos. Proporcionando a possibilidade da
criação de um saber atrelado ao entretenimento e a própria realidade do
participante. Apresentar na didática da caixa a forma pela qual a história pode
transformar um instrumento de ponte entre os acontecimentos do passado e as
inquietações do presente.
REFERÊNCIAS
Sirlene Maria Hutchok, graduanda em
História pela Universidade Estadual do Paraná, campus União da Vitória-Pr.
Welerson Fernando Giovanoni, graduando em
História pela Universidade Estadual do Paraná, campus União da Vitória-Pr,
bolsista de Iniciação Científica (2018-2019), estudante no grupo de pesquisa
“Cultura & Sensibilidades”.
HALBWACHS, Maurice. A Memória coletiva. Biblioteca Vértice. São Paulo, 1990.
ROCHA, Helenice Aparecida Bastos. Caixa de história local: criação e recriação na prática docente in: XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino. UNICAMP. Campinas, 2012.
RÜSEN, Jörn. Como dar sentido ao passado: questões relevantes de meta-história. How to make sense of the past: salient issues of metahistory Traduzido por Valdei Araujo e Pedro S. P. Caldas. In: História da historiografia. N° 02. Março, 2009.
ROCHA, Helenice Aparecida Bastos. Caixa de história local: criação e recriação na prática docente in: XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino. UNICAMP. Campinas, 2012.
RÜSEN, Jörn. Como dar sentido ao passado: questões relevantes de meta-história. How to make sense of the past: salient issues of metahistory Traduzido por Valdei Araujo e Pedro S. P. Caldas. In: História da historiografia. N° 02. Março, 2009.
Parabéns pelo texto!
ResponderExcluirGostaria de saber, como surgiu o interesse em discutir a temática dos símbolos?
Anna Luiza Pereira
Obrigado. A temática do símbolos se apresenta na necessidade de problematização do cotidiano. Os símbolos de modo geral se apresentam de uma forma pronta, transmitindo de uma forma rápida seu significado, entretanto sua constituição e seus usos são perdidos e/ou reutilizados ao longo do tempo, isso acarreta problemas pertinentes a história dos sujeitos e sua ação dentro da história.
ExcluirSirlene Maria Hutchok
Welerson Fernando Giovanoni
Acredito que o debate entre História local e e as demandas do currículo escolar, é válido e pertinente. Parabéns pela proposta.
ResponderExcluirGostaria de saber a visão de vocês escritores do artigo sobre a importância da interdisciplinaridade de trabalhos como este dentro das instituições acadêmicas, na própria formação do professor do ensino regular.
Grata desde já.
Libiane Karina Orth
Obrigada,dentro do espaço acadêmico propostas que envolvem a interdisciplinariedade precisam ser exploradas que realmente preparem os acadêmicos para o cotidiano dentro de sala de aula, aliar a base teórica e o trabalho mais dinâmico, levando em consideração a amplitude do ensino que a universidade deve proporcionar é uma questão que merece muita atenção. Também é valida a percepção que o ensino dentro da universidade precisa além de ser solido, preparar os indivíduos para compreensões sociais e de fatos históricos para que seja atuantes dentro da sociedade. Jörn Rüsen (2011) salienta que não foi desenvolvida ainda uma teoria consistente desse processo mental específico que é o aprendizado histórico, e que ocorre durante todo processo de ensino, O aprendizado histórico é apresentado e definido por ele como sendo “um processo mental de construção de sentido sobre a experiência do tempo através da narrativa histórica, na qual as competências para tal narrativa surgem e se desenvolvem” e incentivar a Construir sentido, é narrar o passado dando a ele através dos recursos da linguagem, uma forma interna e coerente de explicação para as intenções do agir humano no tempo.
ExcluirSirlene Maria Hutchok
Welerson Fernando Giovanoni
Parabéns pelo texto. Gostaria de saber de onde surgiu a ideia do projeto "caixa de história", e se o objetivo pretendido com a proposta foi alcançado.
ResponderExcluirDara Alice da Silva
A "Caixa de História" é um projeto que foi apresentado à nós ano passado na disciplina de História da América pelo professor Dr. Michel Kobelinski. O projeto já existe em diversas escolas Brasil a fora com dinâmicas variadas. Nós não pudemos aplicar a proposta por falta de logística e de um calendário extremamente curto para realização da atividade. Porém no campo teórico a atividade se mostra capaz de sanar algumas das dificuldades encontradas pelos professores em sala de aula, além disso a atividade se expande a outros públicos. Ela também auxiliou de forma indireta na construção de materiais para outras práticas de ensino.
ExcluirSirlene Maria Hutchok
Welerson Fernando Giovanoni
Olá Sirlene e Fernando, muito bom o texto, mas como podemos trabalhar de outras formas a Guerra do Contestado em Sala de aula? Alguma fonte em especifico para sugerir?
ResponderExcluirAtt: Ligia Daniele Parra
A Guerra do Contestado é um tema que tem variadas abordagens inclusive locais, um material bastante rico e que indicamos para abordagem da temática é do VII Coloquio Nacional de Historiografia no Vale do Iguaçu, em versão especial, que traz um dossiê sobre o contestado, publicado em 2012 pelos professores Everton Carlos Crema Eloy Tonon e Jefferson William Gohl, nesse dossiê de 120 paginas variados artigos trazem as diversas questões que o contestado impactou e principalmente as visões sobre esse acontecimento histórico. Dar visibilidade para materiais produzidos a nível local permite o aluno sentir que a história e o contexto que a envolve é construído dia a dia, e nos somos história e para compreendermos muito do nosso presente necessitamos buscar as questões, conflitos, conquistas do passado. Indicamos para uso e abordagens para uso em sala.
ResponderExcluirSirlene Maria Hutchok
Welerson Fernando Giovanoni