CAIXA DE HISTÓRIAS: O COTIDIANO DAS
GUERRAS PENINSULAR (1807-1814) E DO CONTESTADO (1912-1916)
A caixa de história foi um projeto elaborado pela
turma do 3º ano do curso de história da UNESPAR, Campus de União da Vitória. O
intuito era o de levar conteúdo dinâmico para a sala de aula. A Caixa de
História possibilita outros olhares sobre a educação e a prática do professor
em sala de aula.
E não há como não pensar na prática em sala de
aula já que falamos de um lugar de docência. Na licenciatura os graduandos
devem pensar constantemente nas formas e intencionalidades que os professores
podem usar para demarcar a relação do conteúdo trabalhado com a vida cotidiana
dos alunos. A título de exemplo, pode-se criar uma consciência histórica nas
pessoas a fim de pensar e interpretar a forma processual que é extremamente
complexa da Guerra Peninsular e da Guerra do Contestado. Entendemos que os
acontecimentos históricos trazem várias possibilidades de interpretação e
aprendizagem. Portanto, esta ferramenta pode tornar as aulas mais agradáveis e
atrativas, levando os alunos a compreenderem melhor alguns acontecimentos
históricos.
Na
elaboração deste projeto resolvemos juntar dois conflitos históricos a Guerra
Peninsular e a Guerra do Contestado. O primeiro é claro, vinculado à disciplina
de graduação. E o segundo, em razão dos conteúdos da Educação Básica. Para isto
usou-se o método de análise do cotidiano através de obras de Hiedy Assis Corrêa e Francisco José de Goya.
Antes de tudo, devemos explicar minimamente a
Guerra Peninsular e a Guerra do Contestado, destacar o recorte temporal
diferente em cada um dos temas, o contexto da cada uma das guerras, os sujeitos
históricos que estavam participando do evento, as práticas cotidianas, os modos
de vida das pessoas, as ações, o lugar social em que a população envolvida
estava inserida e as relações existentes
entre as guerras. Tudo isto se justifica para que possamos abordar os temas com
certa profundidade, desenvolvendo aulas planejadas e com o uso de material
didático “caixa de história”.
A Guerra Peninsular ocorreu entre os anos de 1807 e 1814, durante as Guerras Napoleónicas. Envolveu o Império Francês e o domínio da
Península Ibérica. No início do século XIX a França e o Império
Britânico eram as maiores potências europeias, as quais alimentaram nos rivais
grande desconfiança. Por outro lado, a Guerra do Contestado foi um
conflito armado que ocorreu na região Sul do Brasil. Ganhou o nome de Guerra do
Contestado, pois os conflitos ocorrem numa área de disputa territorial entre os
estados do Paraná e Santa Catarina entre outubro de 1912 e agosto de 1916.
Cerca de 20 mil camponeses estavam envolvidos nesse conflito contra o Estado.
Objetivamente, neste trabalho procuramos
interpretar as imagens do cotidiano da Guerra Peninsular pelas obras do artista
espanhol Francisco José de Goya e o cotidiano da Guerra do Contestado pelas
obras do artista Hiedy Assis Corrêa, conhecido pelo nome artístico de Hassis e,
dessa forma, estabelecer relações com locais mais próximos dos alunos, tendo em
vista a região do Contestado. Deste modo, estas ações podem estimular os alunos
a criarem conexões e terem uma assimilação muito maior do conteúdo, além de
terem uma aprendizagem mais significativa a partir de seus conhecimentos
prévios.
Neste estudo do cotidiano das guerras por meio
das imagens verificamos vários aspectos. Entre eles a resistência da população
diante das desigualdades que motivaram os levantes. Nesse trecho de Certeau
(2015, p. 69) identificamos o conceito de cotidiano, as estratégias e as
práticas de resistências intrínsecas:
“Afirma que as micro resistências são possibilitadas,
uma vez que os indivíduos desenvolvem estratégias e táticas para “fugirem” do
poder exercido sobre eles. Essas micro resistências são realizadas
silenciosamente, apresentando-se apenas a quem estiver disposto a vê-las.
Compreendemos, diante de tal reflexão, que estar disposto a ver essas práticas
é estar disponível para um mergulho na realidade de seus “fazedores””.
As atividades elaboradas a partir da caixa de
história permitem aos alunos avançar em sua visão crítica, tendo também a
capacidade de interpretar e comparar eventos históricos distintos. Os
procedimentos metodológicos envolvem tanto a explicação dos conteúdos quanto a
participação em situações de aprendizado, nas quais possam demonstrar que
desenvolveram competências. É neste sentido que se aliam conhecimentos,
habilidades, atitudes e valores
relacionados aos indicadores de desempenho a partir da intencionalidade de cada
professor. Assim, recomendamos que a aplicação do projeto da caixa de história na
sua prática docente profissional é rica e estimulante.
Como fundamentação teórica e metodológica
sugerimos alguns encaminhamentos. O conceito de Representação pode ser visto em
Roger Chartier e o conceito de Cotidiano em Michel de Certeau. No primeiro caso, a partir de Roger Chartier
(1991), entendemos que a representação não descreve a realidade como de fato
aconteceu, mas sim a reprodução de uma ideia que se constrói como realidade. E
no segundo caso Michel de Certeau para estudar as práticas cotidianas, os modos
de ação e as operações realizadas pelo indivíduo durante a sua interação
social, ou seja, é preciso não somente analisar o indivíduo como também o lugar
social em que ele está inserido, sendo fundamental buscar o entendimento
através do contexto do período estudado.
Na parte prática pode-se estabelecer relações e
diferenciações entre as imagens, interpretá-las, compará-las, descrevê-las,
observar cada detalhe e criar situações de aprendizagem, além de metas a serem
atingidas em cada uma das atividades propostas.
Devemos buscar também a interdisciplinaridade com
outras matérias e levar em consideração os conhecimentos prévios dos alunos e
seu meio. Algumas atividades pensadas foram a elaboração de textos, poemas,
músicas ou até mesmo a própria legenda da imagem relacionando tempo e
acontecimento. Além disto, a elaboração de mapas trocadas por pessoas (sujeitos
históricos que aparecem nas imagens); elaboração de mapas sobre a região
representada na imagem com Geografia; a religiosidade e suas representações,
relacionadas ao Ensino Religioso, Encenações representando os conflitos com
artes e Educação Física e a própria produção da Caixa Histórica.
Pensando a aplicabilidade da extensão
universitária, o projeto se encaixa de forma excelente nas atividades docentes,
uma vez que ela é “uma atividade acadêmica, articulada de forma indissociável
ao Ensino e à Pesquisa marcada por um processo educativo, cultural e científico
que orienta a relação transformadora entre Universidade e Sociedade”. (CORRÊA,
Edison J. Regulamento de Extensão Universitária
UNESPAR, 2015, P. 3)
Para
concluir, nosso objetivo com o projeto da caixa de história é utilizar também
das diversas abordagens a serem realizadas a partir de um único projeto que
visa uma aula mais dinâmica, buscando facilitar o aprendizado do aluno. Assim,
ter-se-á a melhor fixação dos conteúdos que o docente deseja trabalhar. Enfatizamos que a aplicação do projeto é muito
interessante, uma vez que permite criar várias caixas de história, uma para
cada conteúdo programático. A criação de caixas de histórias itinerantes pode
propiciar conhecimentos históricos de forma mais lúdica, interessante é
indispensável. Neste sentido, entendemos que nossa atuação como docente se
embasa na crença de que podemos melhorar a educação brasileira.
REFERÊNCIAS
Maria Carolaine Domingues Maciel, acadêmica do 4º
ano de história.
Sergio Magalhães Junior, acadêmico do 3º ano de
história
Michel Kobelinski Professor do colegiado de História, Unespar
(União da vitória). Orientador
GOUVÊA,
Josiane Barbosa. Alienação e resistência: um estudo sobre o cotidiano
cooperativo em uma feira de pequenos produtores do oeste do Paraná.
Universidade Estadual de Maringá. Revista Gestão & Conexões. Vitória (ES),
v. 4, n. 1, jan./jun. 2015
CHARTIER, Roger. O mundo como representação. In:
Estudos Avançados, 11 (5), 1991.
http://projetocaixadehistoria.blogspot.com/ acesso em 05/11/2018
Regulamento
de Extensão Universitária UNESPAR
http://proec.unespar.edu.br/menu-principal/documentos/regulamentos/regulamentos-extensao-universitaria-1.pdf/@@download/file/Regulamentos - Extens%C3%A3o Universit%C3%A1ria (1).pdf Acesso em 05/11/2018
ANEXOS:
Primeiramente parabéns pela iniciativa de trabalhar com estes dois conflitos, em especial o conflito do Contestado, que tão pouco é trabalhado em sala de aula. Sou professora do ensino básico e pesquisadora do Contestado, portanto posso afirmar que este evento está ainda muito mal representado nos nossos materiais didáticos, daí a importância de se pensarem novas metodologias de ensino para ele. Fica como sugestão que vocês realmente ampliem a pesquisa sobre as metodologias e possibilidades de ensino da temática, visto que existe pouquíssimo material publicado sobre.
ResponderExcluirKaroline Fin Nunes
Olá Karoline Fin!
ResponderExcluirBoa noite! Muito grato pela leitura do nosso trabalho e pelo elogio, foi uma ideia que surgiu nas aulas de História das Américas com o Prof. Michel Kobelinski onde minha colega resolveu trabalhar a Guerra Peninsular e eu mais que depressa achei um jeito de incluir a temática referente ao Movimento do Contestado por ser um pesquisador dessa área local regional e por concordar contigo no sentido de ser um conteúdo pouco trabalhado em sala de aula. Sou professor do ensino fundamental e básico e sabemos que por vezes o material didático acaba por tentar silenciar o que foi o Movimento do Contestado como um processo histórico, as novas metodologias e diversificação de linguagens de ensino são obrigatórias nesse tema em específico. A ideia é exatamente essa de continuar as pesquisas e pensar a prática em sala de aula, o ensino de história e a extensão universitária na prática, pois esse era um dos principais objetivos do Projeto: CAIXA DE HISTÓRIAS: O COTIDIANO DAS GUERRAS PENINSULAR (1807-1814) E DO CONTESTADO (1912-1916). Só temos a agradecer pela leitura, pela sugestão que com certeza vai ser acatada e esperamos poder trocar figurinhas sobre a temática futuramente.
Sergio Magalhães Júnior Acadêmico de Licenciatura Plena em História UNESPAR Universidade Estadual do Paraná Campus FAFIUV União da Vitória PR.