Rafael José Hinça


BASTARDOS INGLÓRIOS: UMA NOVA CONSTRUÇÃO DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL E A RECEPÇÃO ESTUDANTIL


História bastarda:
Muitas vezes quando assistimos a um filme referente a determinado assunto do qual não temos conhecimento formal, é natural que a primeira impressão seja mais informativa, ou seja, que as informações apresentadas no audiovisual terão uma recepção tendenciosamente verídica, até que se obtenha o conhecimento formal da temática apresentada no filme.

Considerando essa ponderação associada ao senso comum que se apresenta em redes sociais, mídia e mesmo debates em ambientes escolares, é cada vez mais importante repensar o papel do audiovisual na sociedade e, sobretudo, na educação como ferramenta pedagógica.

Há a responsabilidade dos educadores em contextualizar as produções audiovisuais, tanto no preparo de uma turma para a atividade de assistir um filme, por exemplo, como no pós-exibição, explicando detalhes com os quais o audiovisual não problematiza ou subentende conhecimento prévio ou mesmo quando a obra assume um perfil ficcional, criando situações anacrônicas, falsas, sem contexto, dentre outras situações, ou seja, algo que torne aquele audiovisual mais vendável. Porém a participação dos educadores não pode se restringir a isso, é necessário problematizar a ideia do que é um produto audiovisual, deve-se preparar o público para o lazer nesse tipo de mídia, sobretudo a cinematográfica, pois é preciso que a sociedade, de um modo geral, perceba que uma obra audiovisual pode possuir intencionalidades diversas, sejam elas financeiras, políticas, religiosas, ideológicas, dentre outras. Perceber a existência de intencionalidades possibilita que o público não seja levado a pensar que obras audiovisuais são representações da verdade, quando no máximo são uma das possíveis interpretações daquilo que está sendo retratado.

Este trabalho está direcionado à análise da recepção do audiovisual ‘Bastardos Inglórios’ (título original Inglourious Basterds) de Quentin Tarantino, tendo como público alvo desta pesquisa alunos do Ensino de Jovens e Adultos (EJA) do Ensino Fundamental da rede pública de ensino do Estado do Paraná, especificamente do município de Piraquara, este estudo segue uma metodologia pensada na análise da construção do conhecimento do corpo discente analisado.

A escolha desse público alvo em específico tem duas razões principais, a primeira é a possibilidade de acesso aos alunos, tendo em vista que os estudantes envolvidos na pesquisa eram alunos regulares do presente autor. A segunda e mais importante razão é a ausência do contato formal com os conhecimentos referentes à Segunda Grande Guerra por parte desses alunos até o momento do início do estudo.

Metodologia:
Inicialmente é verificada a escolha do audiovisual para a pesquisa, assim como a intencionalidade da obra (função exclusiva do professor/pesquisador), então se seguem as seguintes etapas junto aos alunos (é importante que a atividade toda seja realizada antes dos alunos terem recebido aulas referentes ao tema da Segunda Grande Guerra):

1ª Solicitar aos estudantes que escrevam tudo o que sabem referente à Segunda Grande Guerra, este exercício nada mais é que um estudo exploratório sem a participação do professor (essa atividade pode ser produção de texto, chuva de ideias, mapa mental, dentre outros). O material produzido deve ser entregue ao professor/pesquisador (as demais atividades a serem propostas, conforme as próximas etapas devem ser do mesmo modelo).

2ª Exibição do audiovisual (atentar para a faixa etária dos estudantes e a classificação de censura do filme. A pesquisa foi realizada com alunos da modalidade EJA, onde todos eram maiores de 18 anos, atendendo à classificação indicativa do filme). Nesse momento o professor/pesquisador não deve realizar qualquer interferência, seja apontamento, correção ou complemento.

3ª Repete-se a atividade inicial, ainda na forma de estudo exploratório. Não deve haver intervenção por parte do professor/pesquisador nesta etapa também.

4ª Momento do conhecimento formal e acadêmico referente à Segunda Grande Guerra, de acordo com a metodologia de cada professor. Para este estudo foram utilizadas aulas expositivas e trabalhos com evidências históricas documentais e cultura material (nesse momento da pesquisa é importante desconstruir as ideias ficcionais do audiovisual, toda a contextualização referente ao filme, intencionalidades e outros apontamentos relevantes).

5ª Após os estudantes terem desenvolvido conhecimentos formais referentes à Segunda Grande Guerra, repete-se novamente a atividade inicial, porém não mais com o perfil exploratório, agora pode inclusive possuir um perfil avaliativo.

Passadas essas etapas com os estudantes, é realizado o levantamento das informações das três atividades propostas seguida da análise dos resultados.

Escolha do Audiovisual e intencionalidade:
O filme Bastardos Inglórios é uma obra que chama a atenção pelo perfil comercial, um elenco relevante, um diretor polêmico, um tema que desperta interesse em um grande público, mas também chama a atenção de um público mais especializado devido à falta de rigor com o conhecimento histórico. Uma vez compreendida a ficção do filme, este se torna um entretenimento que pode agradar aos mais diversos públicos, inclusive especializado.

“Bastardos Inglórios” não possui fundamentação teórica expressiva, exceto pelo fato de haver judeus, franceses, alemães e estadunidenses na Segunda Guerra Mundial, pois os eventos narrados chegam a ser escandalosamente fictícios (o melhor exemplo disso é a morte de Hitler e do alto comando nazista em um cinema francês, pertencente a uma judia). Nesse sentido o audiovisual ignora quase por completo a resistência francesa, mas se o filme não se propusesse a ser histórico, isso não seria problema.

Em reportagem publicada na revista Época, Tarantino afirma que apenas quis representar “do seu jeito” a participação dos Estados Unidos da América na guerra na Europa [Giron, 2009]. É claro que uma representação midiática como um audiovisual deve ser problematizada diferentemente de uma obra historiográfica, pois sua proposta é diferente, assim como a forma de trabalhar história, Guynn e Rosenstone argumentam que audiovisuais não permitem um debate como é possível em obras escritas. Entretanto, tal problematização sobre a “verdade histórica” de um filme é dada por profissionais da história ou então por um público culto médio (pessoas com hábitos de leitura sobre o assunto, com conhecimento do tema um pouco aprofundado) e, o grande perigo de produções como esta recai justamente num público que não detém tal formação. Torna-se importante então diferenciar representações históricas nos audiovisuais, em que há a representação fundamentada numa historiografia e outra baseada simplesmente na vontade do roteirista e/ou diretor. Professores devem se preocupar com essa abordagem desde o início, sempre lembrando aos estudantes que uma obra audiovisual pode possuir uma temática histórica, mas ser completamente ficcional, deve-se aprender a identificar e diferenciar as propostas das obras audiovisuais.

Considerado por boa parte da crítica internacional como um ótimo filme, tendo grande arrecadação, chegando a ultrapassar U$ 245 milhões até o final de setembro de 2009, sendo que o filme teve um orçamento de U$ 70 milhões. Foi muito bem recebido em sua estreia no Festival de Cannes, mas também recebeu duras críticas como a de David Denby apresentada na ‘Revista Época’ [2009]. De acordo com Tarantino e alguns dos atores do grupo “Bastardos”, o filme funcionou como uma espécie de vingança contra o nazismo, nas palavras do próprio Tarantino “foi assim que acertei as contas com a injustiça da história” [Giron, 2009, p. 99], mas onde fica a justiça histórica da resistência francesa? Ou então da ofensiva russa? Sem uma intervenção acadêmica formal, perspectivas como essa de “justiça histórica” acabam por formar conhecimentos falsos, teleologicamente corrompidos ou mesmo uma cultura de senso comum altamente prejudicial a contexto históricos e políticos.

Atividades Exploratórias:
Alunos periodizados no 9º ano do ensino fundamental regular normalmente possuem poucas informações sobre a Segunda Grande Guerra antes de estudarem o assunto na escola, salvo alguns casos em que há interesse no estudo de conflitos (seja na literatura ou mesmo audiovisuais) ou há orientações prévias pelos pais, por exemplo. Já no ensino de jovens e adultos, os alunos possuem mais idade e consequentemente possuem mais experiência acumulada, a chance de possuírem conhecimentos prévios é muito maior, mas ainda assim estão numa faixa de público alvo capaz de enriquecer o estudo.

Propõe-se então um estudo de conhecimentos prévios que pode consistir na elaboração de um mapa mental, chuva de ideias, dentre outras possibilidades. Para este estudo foi optado pela produção de texto, a narrativa (se possível ordenada) sobre todo conhecimento possuído referente à Segunda Grande Guerra. Após a escolha da ferramenta exploratória, recomenda-se utilizar o modelo de atividade em todas as etapas para possibilitar uma análise comparativa mais clara do entendimento sobre como o conhecimento histórico vai sendo construído em cada indivíduo, etapa por etapa.

A recepção dos estudantes:
Trabalhado o filme de Tarantino com seis turmas de EJA do Ensino Fundamental que ainda não haviam estudado o conteúdo referente à Segunda Guerra Mundial, pode ser verificada a recepção do filme como uma representação da verdade por boa parte dos alunos.

O levantamento inicial (1ª etapa) para basear o estudo foi o do conhecimento prévio de cada um dos 161 alunos pesquisados ao longo de três anos com a seguinte distribuição: 2011 – Duas turmas com 29 e 26 alunos; 2012 – Duas turmas com 26 e 22 alunos; 2013 – Duas turmas com 30 e 28 alunos, sendo que 57 alunos não possuíam conhecimento algum, 29 alunos tinham noção de onde ocorreu e quem participou da guerra, 47 alunos com conhecimento de nomes e eventos da guerra, tais como Hitler, Stalin, Patton, Max Wolf Filho, Batalha de Stalingrado, dentre outros, 13 alunos tinham bom conhecimento sobre o conflito e 15 conseguiram descrever com detalhes a guerra.

Tais conhecimentos foram refletidos na terceira etapa do estudo, com a apresentação das ideias recém construídas após a exibição do audiovisual (segunda etapa) juntamente com os conhecimentos prévios. As atividades revelaram que 37 alunos identificaram falhas históricas em todo o audiovisual (identificando a ficção da obra), 43 identificaram pequenos problemas sendo o mais recorrente, em 15 casos, o assassinato de Hitler, sendo que dois deles “corrigiram” o próprio texto alegando que “acreditava que Hitler havia cometido suicídio e não sido morto em um teatro” (Paráfrase do texto dos dois alunos. Na primeira etapa, ambos haviam identificado o suicídio de Hitler), 6 alunos consideraram o filme elucidativo, mas incompleto (não contemplando a participação de outros países no conflito, por exemplo) e, 75 alunos observaram o filme como uma narrativa real da guerra, possibilitando assim o conhecimento referente ao conflito.
Após a apresentação do audiovisual e aplicação da atividade exploratória da terceira etapa, iniciam-se os procedimentos formais de construção do conhecimento. A quarta etapa consistiu em aulas expositivas, apresentação de imagens e mapas do conflito, assim como o uso de evidências primárias traduzidas (relatórios de oficiais e material midiático). É de grande importância a problematização das informações apresentadas no audiovisual para possibilitar a desconstrução das informações apresentadas na obra fílmica e a construção de um conhecimento historiográfico mais sólido.

A última etapa do levantamento de informações foi direcionada aos alunos para comparar os conhecimentos dos estudantes (após as intervenções do professor/pesquisador) com o audiovisual, onde apenas 5 alunos não conseguiram problematizar o filme. Os demais 156 alunos verificaram que o filme conduz a uma interpretação errônea da história assim como a existência da intencionalidade ideológica no audiovisual por parte do diretor, entretanto, 107 alunos indicaram que apesar de não ser uma obra historicamente comprometida, ainda assim o filme foi um entretenimento.

Análise da pesquisa:
Podemos verificar que na segunda etapa da pesquisa, a presença de uma construção histórica perigosa por parte dos alunos, pois nesse caso, a leitura do filme “Bastardos Inglórios” foi direcionada por um professor e posteriormente problematizada, entretanto para um público externo à escola e, que não venha a ter acesso a tais recursos historiográficos, uma nova história pode iniciar a se arraigar. Segundo Giroux, “a mídia tem se convertido num substituto da experiência” [GIROUX, 1996], com as pessoas pouco interessadas em verificar a veracidade dos eventos que observam em produções audiovisuais, podendo formar paulatinamente com uma nova verdade histórica [Rosenstone, 1995, p. 35], construindo ideias de que Hitler foi assassinado e a guerra findou-se pelas mãos dos estadunidenses, já que tal proposta tem grande poder de sedução junto aos Estados Unidos, principalmente. Tal ideia pode ser comparada com a vasta produção audiovisual referente à guerra do Vietnã, que para aqueles enquadrados no referido público leigo, tendo como base apenas produções cinematográficas, não apresentam a derrota estadunidense na referia guerra.

Considerações finais:
Filmes são sempre carregados com uma forte intenção de despertar emoções em seus espectadores e essa é a força de “Bastardos Inglórios”, durante a pesquisa foi possível observar a aversão de alguns alunos (principalmente mulheres) quanto às cenas de violência, mas na maioria, após tida a exposição do conteúdo referente, o filme foi recebido como gênero de comédia, devido a descontração do tratamento histórico.

Entretanto, como citado anteriormente, filmes como este trabalhado, não são apenas polêmicos, mas podem construir versões erradas quanto aos fatos, pois adaptações representativas são defendidas tanto por autores como Rosenstone e Guynn, porém tais representações devem ater-se a um mínimo de veracidade, caso haja uma intenção de representação histórica.

Como apresentado, Tarantino possuiu tal intenção de representação histórica, mesmo que a seu jeito, na produção de “Bastardos Inglórios”, sendo assim o que já foi caracterizado, como um perigo para a construção de uma falsa história, que nega fatos ocorridos, maximizando a vitória de alguns em detrimento e minimização (ou mesmo negação) da participação de outros importantes (e fundamentais) personagens do conflito, como a participação britânica, francesa, russa, brasileira, dentre outras. Como educadores, é responsabilidade de todos, independente da utilização de audiovisuais no ambiente escolar, ou da não utilização, é importante apresentar aos estudantes constantemente que os audiovisuais não são representações da interpretação de roteiristas, diretores e produtores (inclusive problematizar o conceito de verdade histórica), mas um produto comercial que pode ou não possuir embasamento histórico, a busca pelo conhecimento formal e científico deve orientar o espectador.

Referências:
Rafael José Hinça bacharel e licenciado em história, especialista em história e geografia e em ensino lúdico, professor de história no ensino fundamental e médio e em curso pré-vestibular.

BASTARDOS Inglórios. Direção de Quentin Tarantino. EUA: Universal Pictures, 2009. 1 DVD (153 min), color.

GIRON, Luis Antônio. O Sabor da Vingança. Época: São Paulo, Edição nº 594, p. 94 – 102, out. 2009.

GIROUX, H. Jovens, diferença e educação pós-moderna. In. CASTELLS, M. Novas perspectivas críticas da educação. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996. p. 63 – 85.

GUYNN, Willian. Writing History in Film. New York, Routledge, 2006 pp. 1 – 80.

ROSENSTONE, Robert A. Visions of the Past. The challenge of film to our idea of history. Cambridge, Harvard University Press, 1995.

8 comentários:

  1. Bom dia! Parabéns pelo ótimo texto! Bem escrito e fundamentado, além de ser baseado em ampla pesquisa empírica.
    Apenas queria indicação de bibliografia que trate exclusivamente do uso escolar de filmes como fontes históricas.
    Desde já, agradeço.

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    1. Boa noite. Obrigado pela boa crítica.
      Como indicação bibliográfica para audiovisuais como fontes históricas em sala de aula, indicaria o texto do Guynn, Writing History in Film citado nas referências bibliográficas acima, mas acho bem relevante outras pesquisas (dissertações e teses) que trazem um bom debate crítico sobre como utilizar audiovisuais em sala de aula, esses artigos são relativamente abundantes em bancos de teses e dissertações das universidades do Brasil, mas deve-se saber separar aquilo que lhe é útil e que corresponde aos seus objetivos, pois muitos são estudos de caso que podem não ser aplicáveis as suas necessidades.
      Somente indico a atenção especial para problematizar um audiovisual como fonte histórica, para perceber as limitações desse tipo de fonte.

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    2. Obrigada pela resposta!
      (Márcia Elisa Tetê Ramos)

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  2. Boa Tarde. Primeiramente parabéns pela pesquisa. A primeira vez que vejo utilizarem um filme de Tarantino como material numa aula de História.
    Mas fiquei em dúvida em relação ao tempo de filme e ao tempo de aula, os filmes de Tarantino, principalmente os últimos que abordam contextos Históricos tem quase 3:00 de duração (Bastardos inglórios, se não me falha a memória, deve ter 2:50), quais os métodos para trabalhar um filme de longa duração como estes em aula do EJA ?
    Ismael Lacerda Brasileiro.

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    1. Boa noite Ismael.
      Agradeço a crítica positiva. Nas escolas que trabalhei com EJA no município de Piraquara/PR as aulas são germinadas, as cinco aulas. Para possibilitar um bom rendimento das turmas, é necessário variar metodologias inclusive numa mesma noite de aula. Por estar com cinco aulas germinadas é que me ocorreu trabalhar um audiovisual mesmo sendo mais extenso. Estabelecer um clima mais leve também ajuda (combinar com @s alun@s para todos levarem pipoca, algo para beber) e o público adulto com um filme que, apesar de violento, possui um tom descontraído, facilitou muito o trabalho. Já realizei experiências com outros filmes como Alexandre (2004) de Oliver Stone, que possui 2:55, mas não obtive muito sucesso pela dinamicidade do audiovisual. Com o Bastardos Inglórios a experiência foi produtiva, sobretudo com os objetivos, que eram nitidamente diferentes do filme Alexandre.
      Entretanto, se as aulas não fossem germinadas, eu faria o que já fiz no ensino regular quando quis inserir audiovisuais em turmas que tinha uma ou duas aulas no dia, negociar aulas com outros professores ou mesmo realizar propostas interdisciplinares com o mesmo audiovisual, buscar professores envolvidos e que aceitem trabalhar em conjunto.

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  3. Estimado Prof. Rafael, tudo bem?

    Antes de mais nada, gostaria de parabenizar pelo trabalho e pesquisa, o qual foi excelentemente exposto. Me filio a esse ramo do ensino, através de formas interacionais entre o lúdico e o didático, pois consegue trazer o discente a atenção aos conteúdos e exercer sua crítica quanto a forma e conteúdo apresentado.


    Adorei a escolha do filme (principalmente considerando o público alvo e a faixa de censura), pois ele é muito evidente em seu distanciamento com a realidade, facilitando a crítica.

    Contudo, algo sobre a forma em que a pesquisa foi realizada me deixou inquieto. Pelos números apresentados, me pareceu que a sequencia da pesquisa teria melhor eficacia se os conteúdos fossem apresentados antes do filme. Ficou, pelo menos numa análise rasa, confesso, que muitos alunos que antes pareciam dominar a matéria, ficaram confusos após a exibição do filme, e questionaram, inclusive aquilo que tinham convicção.
    Sou adepto a didática de ensinar "como fazer" e não "como não fazer". o sr mesmo inicia seu texto indicando que os filmes costumam trazer uma convicção de aprendizado historiográfico, e assim, me parece que os alunos desconstruíram o que já sabiam, para re-aprender.

    Na sua experiencia, de quem viveu esse experimento e sentiu essas mudanças e transformações conceituais, o sr acredita que a sequencia escolhida foi pertinente ou caberia uma nova pesquisa invertendo essa lógica?

    Grato desde já,

    DANIEL FREITAS DE VASCONCELLOS CRUZ

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    1. Bom dia Daniel,
      Agradeço as críticas e apontamentos. Realmente me ocorreu esse possível problema após a primeira experiência, afinal eu não estaria prejudicando ao invés de auxiliar o aprendizado? Acredito sim que em dado momento a metodologia pode ser prejudicial em alguns casos, porém com o público da experiência foi muito bem aproveitado. Foi possível perceber que aqueles que estavam desconstruindo aquilo que conheciam e estava correto, conseguiram perceber a necessidade do cuidado com materiais audiovisuais, não apenas em ambiente didático, mas fora dele também, conforme coloquei no texto. O objetivo didático não foi apenas reconstruir os conhecimentos, mas possibilitar que o aluno questione o próprio conhecimento ao ter contato com o novo ou diferente, e nesse sentido eu pude perceber que houve um grande ganho comparado a experiências anteriores, como por exemplo, contextualizações prévias seguidos de audiovisuais (sejam eles fiéis ou não ao processo histórico). Essa última perspectiva sempre se mostrou produtiva para vários, mas raramente todos, já a experiência que realizei possibilitou um envolvimento muito maior d@s discentes e os resultados posteriores (não apenas da atividade) foram superiores ao esperado. Por se tratar de pessoas adultas, sempre apareceram comentários em aulas posteriores de questionamentos de telenovelas, e filmes assistidos em que por conta própria, @s alun@s buscaram por confirmações históricas daquilo que assistiram, passaram de um status de público passivo para o crítico (obviamente que não foi percebido isso com todos, mas uma boa parcela a qual ingenuamente negligenciei o registro, pois não havia tal preocupação). Essa perspectiva me trouxe algo que foi meu objetivo inicial (antes de pensar em fundamentar isso num artigo), fazer com que @s alun@s desconstruam a ideia de que audiovisuais e mesmo bibliografias não são representações da verdade, mas interpretações repletas de intenções.
      Como resultado final, foi possível perceber de maneira geral um aprofundamento muito maior ao tema por parte dos alunos que foram algo da metodologia comparado com turmas anteriores. Mas independentemente, creio que uma inversão metodológica poderia ser tão produtiva quanto essa experimentação foi, mas eu preferi apostar na curiosidade d@s discentes, em que até o momento se mostrou positivo.

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