UM ROMANCE PELO
PRÓPRIO HOMEM EM ”ROMEU E JULIETA“
A
equipe do subprojeto de História, do Programa Institucional de Bolsas de
Iniciação à Docência (PIBID) – 2014-2018, da Universidade Estadual de Ponta
Grossa (UEPG), atua no Colégio Estadual Professora
Linda Salamuni Bacila (CELISABA), Ponta Grossa-PR. No atendimento ao Plano de
Trabalho Docente (PTD), previsto para os alunos do sétimos anos, do ensino
fundamental, pelo professor Marcelo Kloster (supervisor do subprojeto de História)
de 2015, pode-se verificar que faltariam horas-aulas para se tratar sobre o
conteúdo do Renascimento, devido às mudanças feitas no calendário escolar de
2015.
Observando
a importância de se explorar esse assunto, por marcar um período de transição e
até mesmo para o entendimento dos próximos conteúdos, os pibidianos propuseram
a realização de uma oficina pedagógica, que acontecesse em duas aulas e
abordasse a mudança de pensamento em relação ao homem no período, o
Renascimento Científico e o Cultural.
Objetivos
• Despertar
a atenção dos alunos para o assunto da aula, através de uma releitura do
romance de Romeu e Julieta, na forma de uma dramatização.
• Conduzir os alunos a uma reflexão acerca
da importância do Renascimento no que diz respeito a mudanças de pensamentos em
relação ao próprio homem.
·
Correlacionar os avanços do
Renascimento Científico com o cotidiano dos alunos.
•
Incentivar a sensibilidade dos alunos para a linguagem cultural do
Renascimento.
• Proporcionar aos alunos, uma experiência
de expressão de suas ideias e criatividade através da escrita do final
alternativo de Romeu e Julieta.
Referencial teórico-metodológico
Tendo em vista que a Idade Média foi o cenário dos conteúdos de
todo o ano letivo, dos sétimos anos do ensino fundamental, como prevê as
Diretrizes Curriculares Estaduais do Paraná (DCE’s) História, para tratar o
processo de transição para a Idade Moderna, os alunos foram questionados sobre
o que viria após esse período. Durante a conversa entre os pibidianos ministrantes
e a turma, deu-se início a uma dramatização do romance “Romeu e Julieta” com
elementos atuais (portanto historicamente anacrônicos) como o uso de Tablet
pelo Romeu para tirar selfies.
O
intuito foi de demonstrar que, por mais modificações que a obra tenha sofrido
ao longo dos anos, pode-se perceber que mesmo
sendo retratada de diversas formas, é possível reconhecer que se trata de um
clássico de Shakespeare, escrito no final da Idade Média, de acordo com o
próprio livro didático usado em sala: BOULOS JÚNIOR, Alfredo. História: sociedade & cidadania.
Edição reformulada, 7º ano / Alfredo Boulos Júnior, 2 ed. São Paulo: FTD, 2012.
A dramatização teve como objetivo conduzir os alunos ao cenário
histórico do Renascimento de forma descontraída, e utilizando-se de elementos
culturais de seu cotidiano e de seu conhecimento para inseri-los no contexto
histórico do Renascimento, entre os séculos XV e XVI que marcou a transição entre a Idade Média e a Idade
Moderna.
Após o teatro, passou-se ao tema chave da aula, que consistiu em
caracterizar o processo de transição de um período histórico a outro pela
mudança de pensamento social. Utilizou-se do pensamento de Giovanni Pico Della
Mirandola [Giovanni Pico Della Mirandola, filósofo italiano, da segunda
metade do século XV, que publicou “De hominis dignitate oratio”
(Discurso sobre a Dignidade do Homem) que serviu de introdução às suas teses.
(In: http://www.arcos.org.br/, acesso em
23/04/2016)] em contraposição com o de Santa Catarina de
Sena [Doutora da Igreja Católica que viveu na segunda metade do século
XIV, na Itália.(AQUINO, 2008, p. 81)], com o propósito de
demonstrar mudanças de um pensamento baseado no teocentrismo, para um
pensamento com base na racionalidade humana, estabelecendo-se assim outra visão
sobre a posição do homem no mundo, ou seja, o antropocentrismo, como uma
das características centrais do período Renascimento.
Para tanto, utilizou-se um pequeno texto de Santa Catarina de
Sena, autora que foi apresentada aos alunos,
e depois foi refletido sobre duas frases de sua autoria: “Conhecendo-te, tu te
humilharás ao perceber que, por ti mesmo, nada és” (Apud:AQUINO, 2008, p. 82);
e, “Que motivo Voz fez constituir o homem em dignidade tão grande?” (Ibidem, p.
99). Em discussão junto aos alunos foi
possível perceber que na visão de Santa Catarina, aqui colocada como visão
medieval, à dignidade do homem estava totalmente voltada para Deus: em um
primeiro momento, o homem por si só não é nada, mas se voltado para Deus,
encontra a dignidade.
Exposto
o pensamento medieval, apresentou-se o outro autor escolhido, Giovanni Pico
Della Mirandola, que viveu cem anos após Santa
Catarina, apresentado como um influente pensador do Renascimento.
Transcreveu-se um trecho do texto “A Dignidade Humana em Giovanni Pico Della
Mirandola”:
Imaginando o que Deus disse a Adão quando o
criou, Pico diz:
”Coloquei-te
no meio do mundo para que daí possas olhar melhor tudo o que há no mundo. Não
te fizemos celeste nem terreno, nem mortal nem imortal, a fim de que tu,
árbitro e soberano artífice de si mesmo, te plasmasses e te informasses, na
forma que tiveres seguramente escolhido. Poderás degenerar até aos seres que
são as bestas, poderás regenerar-te até às realidades superiores que são
divinas, por decisão do teu ânimo“ (In: LACERDA, 2010, p. 19)
Com a apresentação desse texto, chega-se ao ponto principal do
tema em estudo, o antropocentrismo, segundo o qual o homem é visto como o centro de toda a criação para
dominá-la da forma como bem quiser, como afirma Pico, pela “decisão do teu
ânimo”, pois é superior a todas elas.
Expostos
e debatidos os dois pensamentos, foram propostas os
alunos duas atividades. A primeira consistia em localizar nos pensamentos dos
dois autores, Pico Della Mirandola e Santa Catarina de Sena, algumas
características do Renascimento e diferenças marcantes entre a Idade Média
e a Idade Moderna, com a finalidade de clarificar
para o aluno, a mudança de pensamento
entre um período e outro.
A
segunda atividade foi
um questionamento sobre a dignidade humana.
”Qual a diferença entre o pensamento dos autores Pico Della Mirandola e
Santa Catarina de Sena sobre a dignidade humana?“. Esta possibilitou aos alunos a percepção
sobre como a mudança na forma de pensar sobre a posição do homem no mundo
com a teoria do Antropocentrismo.
Dando
sequência ao trabalho, os pibidianos expuseram sobre o Renascimento Científico
e Cultural, com apoio da apresentação de
slides, em constante diálogo com a turma, buscando partir dos conhecimentos
prévios dos alunos. E, para concluir a oficina
pedagógica, retomando o início, solicitou-se que cada aluno escrevesse
um final alternativo para Romeu e Julieta.
Resultados
Os resultados da experiência didática foram satisfatórios, foi
possível tratar o conteúdo previsto no PTD, com a adequação ao tempo pedagógico
disponível (2 horas-aulas), pela opção metodológica da problematização. O planejamento e desenvolvimento conjunto
possibilitaram aos pibidianos uma intervenção coletiva, portanto enriquecida
pelo conhecimento e formas didáticas de atuação, estudo prévio sobre o assunto,
organização do material didático utilizado e posterior avaliação conjunta da
experiência.
A partir da sensibilização dos alunos ao assunto, por meio de uma
dramatização sobre o romance de Romeu e Julieta e o reconhecimento da obra,
fez-se a abordagem de alguns aspectos
sobre o tema Renascimento. Durante a
realização da oficina pedagógica, destacou-se o interesse e participação dos
alunos às atividades propostas e, na atividade final, percebeu-se o
conhecimento histórico construído pelos alunos.
As
respostas a respeito da dignidade humana em Pico e Santa Catarina foram
satisfatórias em demonstrar que os alunos se localizaram temporalmente e
perceberam a mudança de pensamento. Entretanto, foram debatidas em sala, e não
recolhidas pelos pibidianos, a fim de que os alunos permanecessem com as suas
anotações para eventuais consultas futuras.
Dentre
os finais alternativos dados à história de Romeu e Julieta, constatou-se que os
alunos conseguiram se localizar temporalmente, reconhecendo as diferenças entre períodos históricos, como a transição da
Idade Média para a Idade Moderna. Como os que se apresentam a seguir:
“Ela morre e renasce na idade contemporânea e
conhece Romeu como um astro de cinema os dois se conhecem e se apaixonam”.
(Aluno A).
“Assim que Julieta morreu colocam numa
cápsula de congelamento e era tão frio que ela renasce e a história se repete
na idade contemporânea”. (Aluno B).
“Após a bruxa envenená-los Romeu e
Julieta acordaram no século XXI moravam em um apartamento e cada um tinha um
emprego eles tiveram filhos, ficaram velhos e morreram felizes”. (Aluno C).
“Depois que Julieta bebeu a poção,
Romeu ficou deitado ao seu lado por cinco minutos, os dois se levantaram,
fizeram as pazes entre seus reinos, compraram um iphone novo e tiveram lindos
filhos que também tiveram iphones” Aluno E.
Nota-se nas citações apresentadas que os três alunos demonstraram
reconhecer que há mudanças no desenvolvimento científico e cultural, ao
apresentar avanços tecnológicos ,
como cita o Aluno A sobre a existência
do cinema que ocorreu no século XIX, e o
Aluno B fala sobre a cápsula de congelamento.
Já o Aluno C situa e caracteriza as condições de vida do casal no
século atual, apresentando um elemento importante sobre a temporalidade
histórica, a longevidade da vida humana. Além disso, esse aluno revela a
preocupação com a preservação da espécie e o sentido da vida ao afirmar que
“tiveram filhos, ficaram velhos e morreram felizes”. Na afirmação sobre a felicidade, o aluno está
evidenciando um elemento filosófico – o conceito de felicidade – modificado a
partir do Antropocentrismo e a racionalidade humana – o qual ainda está
presente na atualidade.
Quanto ao final dado à história pelo Aluno E nota-se a presença de
ideias que caracterizam as mudanças que estão ocorrendo na sociedade atual,
como a imediaticidade, na afirmação de que em 5 minutos o casal resolveu o
problema, e a felicidade está em ter e dar acesso aos filhos às tecnologias.
Considerações Finais
Levando-se em consideração que o ensino de História tem uma carga
horária restrita para uma grande quantidade de conteúdos, e ainda que, o
planejamento anual do professor pode ser prejudicado por imprevistos e
alterações no calendário escolar, os acadêmicos-bolsistas, participantes do subprojeto de História, do
PIBID/UEPG puderam presenciar esse
cenário e tiveram a oportunidade de construir formas alternativas de ensino
para que os alunos do sétimo ano pudessem compreender o Renascimento em suas características
principais por meio de uma oficina pedagógica, com duas horas-aula de duração.
O
teatro com teor cômico no início das atividades, além de favorecer a
localização temporal dos alunos por uma peça conhecida produzida no período
histórico em estudo, prendeu a atenção dos mesmos durante o desenvolvimento dos
trabalhos, e os desinibiu para interagirem com os acadêmicos e assim, construir novos conhecimentos históricos,
válidos para a compreensão de como ocorre a ação humana no tempo e no espaço, as mudanças ocorridas no passado, percebidas
e vividas no presente.
Referências
Isabele Fogaça de Almeida é
Mestranda em História, Cultura e Identidades na UEPG.
Apoio: Coordenadoria de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES
AQUINO,
Felipe Rinaldo Queiros de. Na escola dos
Santos Doutores. 6 ed. Lorena: Cléofas, 2008.
BOULOS
JÚNIOR, Alfredo. História: sociedade
& cidadania. Edição reformulada, 7º ano / Alfredo Boulos Júnior, 2
ed. São Paulo : FTD, 2012.
LACERDA,
Bruno Amaro. A Dignidade Humana em
Giovanni Pico Della Mirandola. Revista Legis Augustus. Vol. 3, n. 1, p.
16-23, setembro 2010. Disponível em: < http://apl.unisuam.edu.br/legis_augustus/pdf/ed1/Artigo_2.pdf>.
Acesso em: 13 fev. 2019.
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