Carolina Lima Costa


MONITORIA EM HISTÓRIA: UMA ATIVIDADE DE EXPERIÊNCIA, ENSINO E APRENDIZADO NA GRADUAÇÃO



Este texto é o resultado (em forma de relato) das experiências desenvolvidas durante o processo e atividades de monitoria realizada no curso de Ciências Humanas na Universidade Federal do maranhão- UFMA, no Campus de São Bernardo no período letivo 2018.2. Por ser um curso interdisciplinar a monitoria agrega especificidades nas áreas de História, Filosofia, Geografa e Sociologia. Porém, mesmo abrangendo as ciências humanas a intenção deste texto é voltada para o desenvolvimento ocorrido em uma disciplina de História do 5º (quinto) período.

O contato com a sala de aula
O contato com a sala de aula, se deu de forma bastante concreta. Durante do desenvolvimento das atividades foi possível vivenciar a oportunidade de cursar a disciplina e ser monitora simultaneamente. Esse foi um dos pontos positivos alcançados. A disciplina monitorada foi ‘A história da América Colonial’. Por estar matriculada na mesma houve a chance de observar o comportamento da turma e ao mesmo tempo experimentar de forma singular juntamente com a professora orientadora, o ofício em sala de aula, em nível superior. Apesar de já ter concluído os estágios obrigatórios na educação básica que o curso de licenciatura proporciona, a opção pela monitoria em história foi um complemento de formação em relação a sala de aula, atuando no programa de monitoria. A turma que atuei estava no quinto (5º) período do curso de licenciatura em ciências humanas/ sociologia, no qual tive bastante aproximação com os discentes que por sinal me trataram de forma positiva na sala de aula e fora dela. Assim a ocasião foi favorável para assistir quase todas as aulas, participei de forma direta de todas as avaliações e atividades da disciplina. Este exercício foi rico, pois, estava envolvida no engajamento em sala de aula e com os conhecimentos metodológicos sobre o ensino de história.

A experiência proporcionou a abertura para o contato e aprendizagem na área da disciplina escolhida. No meu caso, apaixonada por historiografia, pude progredir em termos de conhecimento teórico e prático através deste exercício, que é enriquecedor quando vinculado ao compromisso com o ensino. Podemos afirmar com as palavras de Nunes [2007, p. 46], em relação a monitoria que diz:

“Podemos intuir que as experiências vivenciadas como aluno na graduação exercerão influência na formação do futuro professor universitário[...] A monitoria acadêmica tem se mostrado nas Instituições de Educação Superior (IES) como um programa que deve cumprir, principalmente, duas funções: iniciar o aluno na docência de nível superior e contribuir com a melhoria do ensino de graduação”.

Nesse sentido, podemos sem dúvidas concordar com o fragmento, pois, a formação universitária é em si um processo de adequação a vida docente. E quando esta formação faz links com o objetivo do estudante de atuar na docência superior há um resultado igualável, um amadurecimento incrível. Pontualmente por ter contato mais satisfatório e aproximado com a área que deseja seguir no seu processo acadêmico. Com isso há no programa a possibilidade de melhorar a qualidade da formação nos cursos universitários. Como graduanda de humanas, senti que minha ‘vida acadêmica’ tomou rumos e horizontes e termos de ensino. Mudou a percepção de como devo e posso me colocar como atuante no exercício da docência.

No cenário de uma turma do 5º período foi possível perceber que o conhecimento histórico por parte dos discentes em relação aos povos mesoamericanos mudou ao longo dos discursões nas aulas através de textos trabalhados na disciplina. No início da disciplina podemos perceber que os graduandos tinham certa distância em relação aos assuntos que envolvia os povos nativos do continente americano, posteriormente esse afastamento foi diminuindo satisfatoriamente. E é correto afirmar que houve bons resultados das discursões e leituras durante o decorrer do semestre.  Contudo, trabalhamos diversos tópicos sobre América colonial entre eles alteridade dos povos nativos coloniais e suas especificidades.

Planejamento e execução da avaliação
O plano de monitoria ocorreu em acordo com o plano de atividades que a professora orientadora propôs. Que foi que as monitoras, eu e outra colega, pudessem avaliar os trabalhos produzidos pelos discentes. Trabalho em formato de mini artigo.

Em dupla, os discentes ficaram responsáveis por produzir o seguinte trabalho: cada dupla teria que pegar um livro didático de história do ensino fundamental e escolher um capítulo que falasse da América no período colonial.  Após isso teriam que fazer a identificação do material, crítica do conteúdo e propor uma escrita adequada baseada conforme suas críticas. Esta avaliação de início foi um desafio, pois, (particularmente, eu) nunca tinha vivenciado essa situação, de avaliar estudantes universitário. Já experimentei isso nos estágios do ensino fundamental e médio, mas na graduação foi de fato um desafio, porque minha relação com os discentes era boa, pois, fazíamos partes dos mesmos grupos de amigos. Apesar da situação, segui em frente. Essa foi uma das melhores experiências vivida na universidade. Não porque me senti avaliadora de algo, não é nada disso, mas foi ótima porque senti de fato que despertou amor em mim, amor pela docência.

Ficamos responsáveis, eu e minha colega monitora, por avaliar separadamente seis trabalhos separadamente.  A professora orientadora pediu que apresentássemos critérios para avaliação e em seguida estipulássemos as notas dos trabalhos (é interessante esclarecer que esta atividade era apenas para que pudéssemos exercer a atividade como um professor de nível superior, as notas foi a professora quem definiu, não nós, monitoras).  Os critérios que utilizei foram os três apresentadas pela professora:
·         Identificação da fonte. (Fonte, autor, edição, ect.).
·         Análise crítica do conteúdo do capítulo.  (O que saltou aos olhos dos discentes).
·         Proposta reescrita de capítulo a partir da crítica.
Baseado nesses critérios foi possível observar como os discentes avaliaram os livros didáticos de história do ensino fundamental. Muitos dos estudantes não conseguiram realizar o trabalho dentro do que foi proposto, em termos de estrutura do texto. Porém, foi possível observar suas interpretações em relação as histórias que os livros didáticos e como os professores da escola pública se relacionam com os conteúdos gerados nos livros. A maioria dos graduandos disseram que os autores dos livros se limitavam a um material apenas decorativo ou de consulta, sem a preocupação de fato de expor de modo satisfatório as especificidades dos povos coloniais da América. Segundo os alunos, os livros analisados apontavam de forma explícita o maniqueísmo, termos como mocinhos, vilões, conquistadores e conquistados. Mas será se os livros apresentam de fato essa característica? Eis uma questão a ser pensada, todavia a aqueles livros de história mais atuais que apresentam uma interpretação ou tradição historiográfica direcionada aos modelos mais recentes de narrativa histórica, que é a tradição contemporânea dos movimentos dos Annales. Porém, o que mais prevaleceu nesta avaliação foi a tradição historiográfica cientificista, a história contada a partir de uma concepção vinculada a política, a tradição herdada do século XIX. Aproximada a disciplina histórica como científica.

“Não é difícil encontrar, nos livros didáticos, expressões como “conquistadores e conquistados”. “Europeus destemidos para enfrentar os mares desconhecidos” opondo-se a índio entregues ao “mais desolador sentimento de apatia” [...] Em outras palavras, “a superioridade das armas dos conquistadores sobre o equipamento de guerra dos nativos”: armas de fogo e aço em oposição a arcos, pedras e flechas.” [FERNANDES E MORAIS, 2012, p. 146-147].

Esta tradição é sem dúvida importante para pensarmos o conhecimento histórico que os livros didáticos nos apresentam, mas temos que ter em mente também que esta é apenas uma das tradições historiográficas, pensada para criar um passado positivista visto de cima para baixo. Em que foram enfatizados os grandes homens, as grandes civilizações e por consequência as “minorias”, os povos que não tinham contato com a escrita (não tinha a escrita oficial do ocidente, pois, os povos coloniais da América tinham uma organização de escrita específica). Portanto essa atividade nos proporcionou, a nós monitoras e discentes uma descoberta em relação a produção de conteúdo nos livros didáticos. Descoberta essa que nos possibilitou a atenção especial em relação a organização, como o livro é pensado.

“Não é fácil elaborar um livro didático. Isso supõe tanto o domínio das conquistas didáticos pedagógicas –pois se trata de atividade extremamente complexa, como é o ensino–, como também o conhecimento preciso e atualizado dos conteúdos que são trabalhados.” [BEZERRA, 1999, p. 196].

Que por sinal não é nada fácil, é necessário muito cuidado e dedicação e compromisso por parte dos autores. Já em relação a avaliação posso dizer que não é fácil ser professor, é um ofício que exige muito compromisso. Mas é um trabalho belo, orientar quem deseja aprender e desenvolver-se em algo, principalmente quando há interesse e quando vemos o progresso por parte dos discentes. Apesar de ainda estar no processo de formação reconheço e já experimentei um pouquinho deste prazer de poder auxiliar estudantes em sala de aula. A monitoria é como um norte que pode nos aproximar de inúmeras possibilidades.

Apesar de não me sentir confortável em definir as notas (apesar de não serem as notas definitivas) me senti feliz realizando essa atividade porque foi um aprendizado incrível, que eu não poderia imaginar se não tivesse passado pela monitoria. A monitoria é sem dúvidas uma formação de como atuar na docência, independente de for na escola básica ou na graduação. Enfim, desde o planejamento a execução da avaliação houve aprendizagens em relação ao ensino de história na sala de aula e com foi possível olharmos para as possibilidades de avaliação que há dos conteúdos didáticos.  E junto deste conjunto de características positivas é importante ressaltarmos que para que a monitoria seja de fato realizada de forma como tem que ser é necessário um(a) professor(a) orientador(a) que seja responsável com as seu papel de orientador(a). Foi o que ocorreu no desenvolvimento da disciplina, desde o início podemos contar com apoio e confiança da parte da professora e ordenadora que ministrou História da América Colonial. Como aponta Nunes (2007, p. 49),

 “O professor orientador necessita envolver o monitor nas fases de planejamento, interação em sala de aula, laboratório ou campo e na avaliação dos alunos e das aulas/disciplina. [...] . Além disso, deve-se envolver o monitor nas atividades de aplicação das avaliações.”.

A aproximação com o professor é uma das mais belas formas de adquirir o conhecimento, creio que a gente aprende ao lado dos bons mestres, que amam seu serviço, que transmitem o saber com zelo, conhecimento esse que tanto se esforçaram para adquiri-lo.

Etapas da monitoria e resultados
O programa de monitoria em nosso campus (Campus de São Bernardo) é desenvolvido em três etapas que são: ensino, pesquisa e extensão. Ambos podem ser observados de forma fragmentada. Mas prefiro analisar cada um como um todo, cada etapa completa a outra e penso que é isso que faz do programa algo tão renovador na vida acadêmica. Cada etapa é desenvolvida a partir de atividades durante o semestre. Desse modo podemos perceber o avanço dos discentes empenhados neste processo.

As atividades desenvolvidas relacionadas ao ensino são diversas e entre elas o planejamento ligado à docência superior, como por exemplo, avaliação, exposição oral, etc. (todas as atividades são planejadas junto com o professor). Na disciplina História da América Colonial a atividades de ensino foi realizada através da avaliação dos trabalhos escritos dos discentes. Como mencionado anteriormente fui contemplada em ter acesso a uma mínima experiência em sala de aula e fora dele que os professores saboreiam. Sendo que para mim foi difícil no início, porém, enriquecedor porque foi uma das experiências mais responsáveis que me deparei esses últimos semestres no curso.

As atividades de ensino nos colocam literalmente em contato com a atividade docência.  É importante ressaltar também que anteriormente, no semestre 2017.2, no ano de 2017 fui monitora da disciplina Introdução à História que pude ministrar uma aula de monitoria. Essa lembrança e vivencia (da monitoria na disciplina de Introdução à História) juntamente com as correções que desenvolvi na disciplina de América foram um complemento. Todos os resultados positivos em termos de ensino (e em particular na monitoria) são acréscimos, todas as etapas entram em harmonia para o processo de ensino-aprendizagem por parte dos estudantes. De acordo com Nunes (2007, p. 51), a monitoria “[...] visa contribuir com a melhoria da qualidade de ensino de graduação.”  E nesta contribuição podemos perceber que a qualidade do ensino ocorre por completo, pois, (enfatizando nos monitores) a monitoria é como um espaço a ser descoberto e neste lugar há uma variedade enorme de possibilidades, onde o estudante pode aprofundar nas disciplinas que ele mais se identificar e seguir dali em frente com uma bagagem que ninguém pode retirar dele. E relacionado ao ensino essa bagagem tem um peso bonito, belo em que sempre podes ser aperfeiçoada durante o caminho. O ensino e aprendizagem são dois elementos que andam juntos e sempre crescem e isso graças a uma primeira experiência. É assim que me identifico com este projeto, um primeiro passo para continuar em busca de aperfeiçoamento, sempre.

As atividades de pesquisa foram também importantíssimas para minha formação. Posso dizer que ela me abriu horizontes. Mas este horizonte não dependeu só de mim, minha orientadora me possibilitou conhecer obras e autores fantásticos. Pois as atividades de pesquisa me possibilitaram aprender a fazer um trabalho exaustivo mesmo de pesquisa teórica e de campo para confeccionar o artigo que é exigido no programa. Temos que produzir um texto acadêmico sobre algum tema relacionado monitoria (basicamente sobre a disciplina ou algum tema sobre a mesma). A monitoria na UFMA não nos possibilita apenas o incentivo a iniciação à docência, mais também nos inicia a carreira de pesquisador cientifico. É indispensável esta característica para quem de fato deseja ingressar na carreira acadêmica. No meu caso aprori me ajudou de forma relevante por conta de eu estar em processo de escrita monográfica. Enfim como mencionado acima as etapas da monitoria foram e são um complemento na minha formação.

O desenvolvimento da atividade de extensão na UFMA se aplica (em cada fim de semestre) com a realização do evento de monitoria que nos possibilita apresentarmos os resultados do programa durante o semestre. Cada monitor faz uma exposição oral de sua experiência e produções textuais.

Concluindo, a prática da monitoria é muito importante para os cursos de graduação, pois, os resultados visíveis em cada graduando de forma singular. Mesmo não sendo tão procurada é como um tesouro alcançado por aqueles que se aventuram na deia de comprometimento com as atividades do ensino, pesquisa e extensão. Como afirma Martins (2007, p. 35):

A graduação, primeira etapa da formação superior e definidora de uma identidade profissional, caracteriza-se por possuir uma dinâmica própria, construída nas ações pedagógicas do ensino-aprendizagem de uma área de conhecimento”.

E na área de história sem dúvida o contato com a teoria da história é indispensável para iniciar este longo processo de busca de conhecimento e aperfeiçoamento histórico.  A relação intima entre as teorias históricas exploradas no âmbito da monitoria é de fato uma base para que os estudantes possam adquirir conhecimentos em termos de aprendizagens para o próprio ensino de história e suas práticas educativas em sala de aula. Nesse sentido, podemos dizer que há diversos pontos na monitoria qualifica a formação acadêmica.

“Nesse sentido, esse programa tem como objetivos maiores: despertar para a relevância do ensino e da formação de professores para o ensino superior e estimular professores a envolverem os estudantes de graduação no processo de ensino-aprendizagem, inserindo nesse contexto a pesquisa e a extensão”. (DIAS, 2007, p. 39).


Referências
Carolina Lima Costa, Graduanda do curso de Ciências Humanas/Sociologia pela Universidade Federal do Maranhão-UFMA.
Membro do projeto de pesquisa “Hístor: cultura e epistemologia” Coordenadora do projeto profª Drª Alina Silva Sousa de Miranda.

DIAS, Ana Maria Lorio. A monitoria como elemento de iniciação à docência: ideias para uma reflexão. In: SANTOS, M.M; LINS, N. M. (org.) A monitoria como espaço de iniciação à docência: possibilidades e trajetórias. NATAL- RN. Editora da UFRN, 2007.

BEZERRA, Holien Gonçalves. O processo de avaliação de livros didáticos –História. In: SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA, 20., 1999, Florianópolis.  História: fronteiras. Anais do XX Simpósio da Associação Nacional de História. São Paulo: Humanitas – FFLCH–USP/ANPUH,1999, p. 195-202.

FERNANDES, Luiz Estevam; MORAIS, Marcus Vinícius de. Renovação Da História da América. In KARNA, L. (org.) História na sala de aula: Conceitos, práticas e propostas. São Paulo: Contexto, 2012.

NUNES, João Batista Carvalho. Monitoria acadêmica: espaço de formação. In: SANTOS, M.M; LINS, N. M. (org.) A monitoria como espaço de iniciação à docência: possibilidades e trajetórias. NATAL- RN. Editora da UFRN, 2007.

MARTINS, Iguatemy Maria de Lucena. Graduação: desafios da formação. In: SANTOS, M.M; LINS, N. M. (org.) A monitoria como espaço de iniciação à docência: possibilidades e trajetórias. NATAL- RN. Editora da UFRN, 2007.



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.