MONITORIA EM HISTÓRIA: UMA
ATIVIDADE DE EXPERIÊNCIA, ENSINO E APRENDIZADO NA GRADUAÇÃO
Este texto é o resultado (em forma de relato) das
experiências desenvolvidas durante o processo e atividades de monitoria
realizada no curso de Ciências Humanas na Universidade Federal do maranhão-
UFMA, no Campus de São Bernardo no período letivo 2018.2. Por ser um curso
interdisciplinar a monitoria agrega especificidades nas áreas de História,
Filosofia, Geografa e Sociologia. Porém, mesmo abrangendo as ciências humanas a
intenção deste texto é voltada para o desenvolvimento ocorrido em uma
disciplina de História do 5º (quinto) período.
O contato com a sala de
aula
O contato com a sala de aula, se deu de forma bastante
concreta. Durante do desenvolvimento das atividades foi possível vivenciar a
oportunidade de cursar a disciplina e ser monitora simultaneamente. Esse foi um
dos pontos positivos alcançados. A disciplina monitorada foi ‘A história da
América Colonial’. Por estar matriculada na mesma houve a chance de observar o
comportamento da turma e ao mesmo tempo experimentar de forma singular
juntamente com a professora orientadora, o ofício em sala de aula, em nível
superior. Apesar de já ter concluído os estágios obrigatórios na educação
básica que o curso de licenciatura proporciona, a opção pela monitoria em
história foi um complemento de formação em relação a sala de aula, atuando no
programa de monitoria. A turma que atuei estava no quinto (5º) período do curso
de licenciatura em ciências humanas/ sociologia, no qual tive bastante
aproximação com os discentes que por sinal me trataram de forma positiva na
sala de aula e fora dela. Assim a ocasião foi favorável para assistir quase
todas as aulas, participei de forma direta de todas as avaliações e atividades
da disciplina. Este exercício foi rico, pois, estava envolvida no engajamento
em sala de aula e com os conhecimentos metodológicos sobre o ensino de
história.
A experiência proporcionou a abertura para o contato e
aprendizagem na área da disciplina escolhida. No meu caso, apaixonada por
historiografia, pude progredir em termos de conhecimento teórico e prático
através deste exercício, que é enriquecedor quando vinculado ao compromisso com
o ensino. Podemos afirmar com as palavras de Nunes [2007, p. 46], em relação a
monitoria que diz:
“Podemos intuir que as experiências vivenciadas como
aluno na graduação exercerão influência na formação do futuro professor universitário[...]
A monitoria acadêmica tem se mostrado nas Instituições de Educação Superior
(IES) como um programa que deve cumprir, principalmente, duas funções: iniciar
o aluno na docência de nível superior e contribuir com a melhoria do ensino de
graduação”.
Nesse sentido, podemos sem dúvidas concordar com o
fragmento, pois, a formação universitária é em si um processo de adequação a
vida docente. E quando esta formação faz links com o objetivo do estudante de
atuar na docência superior há um resultado igualável, um amadurecimento
incrível. Pontualmente por ter contato mais satisfatório e aproximado com a
área que deseja seguir no seu processo acadêmico. Com isso há no programa a
possibilidade de melhorar a qualidade da formação nos cursos universitários.
Como graduanda de humanas, senti que minha ‘vida acadêmica’ tomou rumos e
horizontes e termos de ensino. Mudou a percepção de como devo e posso me
colocar como atuante no exercício da docência.
No cenário de uma turma do 5º período foi possível perceber
que o conhecimento histórico por parte dos discentes em relação aos povos
mesoamericanos mudou ao longo dos discursões nas aulas através de textos
trabalhados na disciplina. No início da disciplina podemos perceber que os
graduandos tinham certa distância em relação aos assuntos que envolvia os povos
nativos do continente americano, posteriormente esse afastamento foi diminuindo
satisfatoriamente. E é correto afirmar que houve bons resultados das discursões
e leituras durante o decorrer do semestre. Contudo, trabalhamos diversos tópicos sobre
América colonial entre eles alteridade dos povos nativos coloniais e suas
especificidades.
Planejamento e execução da avaliação
O plano de monitoria ocorreu em acordo com o plano de
atividades que a professora orientadora propôs. Que foi que as monitoras, eu e
outra colega, pudessem avaliar os trabalhos produzidos pelos discentes.
Trabalho em formato de mini artigo.
Em dupla, os discentes ficaram responsáveis por produzir o
seguinte trabalho: cada dupla teria que pegar um livro didático de história do
ensino fundamental e escolher um capítulo que falasse da América no período
colonial. Após isso teriam que fazer a
identificação do material, crítica do conteúdo e propor uma escrita adequada
baseada conforme suas críticas. Esta avaliação de início foi um desafio, pois, (particularmente,
eu) nunca tinha vivenciado essa situação, de avaliar estudantes universitário.
Já experimentei isso nos estágios do ensino fundamental e médio, mas na
graduação foi de fato um desafio, porque minha relação com os discentes era boa,
pois, fazíamos partes dos mesmos grupos de amigos. Apesar da situação, segui em
frente. Essa foi uma das melhores experiências vivida na universidade. Não
porque me senti avaliadora de algo, não é nada disso, mas foi ótima porque senti
de fato que despertou amor em mim, amor pela docência.
Ficamos responsáveis, eu e minha colega monitora, por
avaliar separadamente seis trabalhos separadamente. A professora orientadora pediu que apresentássemos
critérios para avaliação e em seguida estipulássemos as notas dos trabalhos (é
interessante esclarecer que esta atividade era apenas para que pudéssemos
exercer a atividade como um professor de nível superior, as notas foi a
professora quem definiu, não nós, monitoras).
Os critérios que utilizei foram os três apresentadas pela professora:
·
Identificação
da fonte. (Fonte, autor, edição,
ect.).
·
Análise
crítica do conteúdo do capítulo. (O que saltou aos olhos dos discentes).
·
Proposta
reescrita de capítulo a partir da crítica.
Baseado nesses critérios foi possível observar como os
discentes avaliaram os livros didáticos de história do ensino fundamental. Muitos
dos estudantes não conseguiram realizar o trabalho dentro do que foi proposto,
em termos de estrutura do texto. Porém, foi possível observar suas
interpretações em relação as histórias que os livros didáticos e como os
professores da escola pública se relacionam com os conteúdos gerados nos
livros. A maioria dos graduandos disseram que os autores dos livros se
limitavam a um material apenas decorativo ou de consulta, sem a preocupação de
fato de expor de modo satisfatório as especificidades dos povos coloniais da
América. Segundo os alunos, os livros analisados apontavam de forma explícita o
maniqueísmo, termos como mocinhos, vilões, conquistadores e conquistados. Mas
será se os livros apresentam de fato essa característica? Eis uma questão a ser
pensada, todavia a aqueles livros de história mais atuais que apresentam uma
interpretação ou tradição historiográfica direcionada aos modelos mais recentes
de narrativa histórica, que é a tradição contemporânea dos movimentos dos
Annales. Porém, o que mais prevaleceu nesta avaliação foi a tradição
historiográfica cientificista, a história contada a partir de uma concepção
vinculada a política, a tradição herdada do século XIX. Aproximada a disciplina
histórica como científica.
“Não é difícil encontrar, nos livros didáticos,
expressões como “conquistadores e conquistados”. “Europeus destemidos para
enfrentar os mares desconhecidos” opondo-se a índio entregues ao “mais
desolador sentimento de apatia” [...] Em outras palavras, “a superioridade das
armas dos conquistadores sobre o equipamento de guerra dos nativos”: armas de
fogo e aço em oposição a arcos, pedras e flechas.” [FERNANDES E MORAIS, 2012,
p. 146-147].
Esta tradição é sem dúvida importante para pensarmos o
conhecimento histórico que os livros didáticos nos apresentam, mas temos que
ter em mente também que esta é apenas uma das tradições historiográficas,
pensada para criar um passado positivista visto de cima para baixo. Em que
foram enfatizados os grandes homens, as grandes civilizações e por consequência
as “minorias”, os povos que não tinham contato com a escrita (não tinha a
escrita oficial do ocidente, pois, os povos coloniais da América tinham uma
organização de escrita específica). Portanto essa atividade nos proporcionou, a
nós monitoras e discentes uma descoberta em relação a produção de conteúdo nos
livros didáticos. Descoberta essa que nos possibilitou a atenção especial em
relação a organização, como o livro é pensado.
“Não é fácil elaborar um livro didático. Isso supõe tanto
o domínio das conquistas didáticos pedagógicas –pois se trata de atividade
extremamente complexa, como é o ensino–, como também o conhecimento preciso e
atualizado dos conteúdos que são trabalhados.” [BEZERRA, 1999, p. 196].
Que por sinal não é nada fácil, é necessário muito
cuidado e dedicação e compromisso por parte dos autores. Já em relação a
avaliação posso dizer que não é fácil ser professor, é um ofício que exige
muito compromisso. Mas é um trabalho belo, orientar quem deseja aprender e
desenvolver-se em algo, principalmente quando há interesse e quando vemos o
progresso por parte dos discentes. Apesar de ainda estar no processo de
formação reconheço e já experimentei um pouquinho deste prazer de poder
auxiliar estudantes em sala de aula. A monitoria é como um norte que pode nos
aproximar de inúmeras possibilidades.
Apesar de não me sentir confortável em definir as notas
(apesar de não serem as notas definitivas) me senti feliz realizando essa
atividade porque foi um aprendizado incrível, que eu não poderia imaginar se
não tivesse passado pela monitoria. A monitoria é sem dúvidas uma formação de
como atuar na docência, independente de for na escola básica ou na graduação.
Enfim, desde o planejamento a execução da avaliação houve aprendizagens em
relação ao ensino de história na sala de aula e com foi possível olharmos para
as possibilidades de avaliação que há dos conteúdos didáticos. E junto deste conjunto de características
positivas é importante ressaltarmos que para que a monitoria seja de fato
realizada de forma como tem que ser é necessário um(a) professor(a)
orientador(a) que seja responsável com as seu papel de orientador(a). Foi o que
ocorreu no desenvolvimento da disciplina, desde o início podemos contar com apoio
e confiança da parte da professora e ordenadora que ministrou História da
América Colonial. Como aponta Nunes (2007, p. 49),
“O professor
orientador necessita envolver o monitor nas fases de planejamento, interação em
sala de aula, laboratório ou campo e na avaliação dos alunos e das
aulas/disciplina. [...] . Além disso, deve-se envolver o monitor nas atividades
de aplicação das avaliações.”.
A aproximação com o professor é uma das mais belas formas
de adquirir o conhecimento, creio que a gente aprende ao lado dos bons mestres,
que amam seu serviço, que transmitem o saber com zelo, conhecimento esse que tanto
se esforçaram para adquiri-lo.
Etapas da monitoria e
resultados
O programa de monitoria em nosso campus (Campus de São
Bernardo) é desenvolvido em três etapas que são: ensino, pesquisa e extensão.
Ambos podem ser observados de forma fragmentada. Mas prefiro analisar cada um
como um todo, cada etapa completa a outra e penso que é isso que faz do
programa algo tão renovador na vida acadêmica. Cada etapa é desenvolvida a
partir de atividades durante o semestre. Desse modo podemos perceber o avanço
dos discentes empenhados neste processo.
As atividades desenvolvidas relacionadas ao ensino são
diversas e entre elas o planejamento ligado à docência superior, como por exemplo,
avaliação, exposição oral, etc. (todas as atividades são planejadas junto com o
professor). Na disciplina História da América Colonial a atividades de ensino
foi realizada através da avaliação dos trabalhos escritos dos discentes. Como mencionado
anteriormente fui contemplada em ter acesso a uma mínima experiência em sala de
aula e fora dele que os professores saboreiam. Sendo que para mim foi difícil
no início, porém, enriquecedor porque foi uma das experiências mais
responsáveis que me deparei esses últimos semestres no curso.
As atividades de ensino nos colocam literalmente em contato
com a atividade docência. É importante
ressaltar também que anteriormente, no semestre 2017.2, no ano de 2017 fui
monitora da disciplina Introdução à História que pude ministrar uma aula de
monitoria. Essa lembrança e vivencia (da monitoria na disciplina de Introdução
à História) juntamente com as correções que desenvolvi na disciplina de América
foram um complemento. Todos os resultados positivos em termos de ensino (e em
particular na monitoria) são acréscimos, todas as etapas entram em harmonia
para o processo de ensino-aprendizagem por parte dos estudantes. De acordo com
Nunes (2007, p. 51), a monitoria “[...] visa contribuir com a melhoria da
qualidade de ensino de graduação.” E
nesta contribuição podemos perceber que a qualidade do ensino ocorre por
completo, pois, (enfatizando nos monitores) a monitoria é como um espaço a ser
descoberto e neste lugar há uma variedade enorme de possibilidades, onde o
estudante pode aprofundar nas disciplinas que ele mais se identificar e seguir
dali em frente com uma bagagem que ninguém pode retirar dele. E relacionado ao
ensino essa bagagem tem um peso bonito, belo em que sempre podes ser
aperfeiçoada durante o caminho. O ensino e aprendizagem são dois elementos que
andam juntos e sempre crescem e isso graças a uma primeira experiência. É assim
que me identifico com este projeto, um primeiro passo para continuar em busca
de aperfeiçoamento, sempre.
As atividades de pesquisa foram também importantíssimas
para minha formação. Posso dizer que ela me abriu horizontes. Mas este
horizonte não dependeu só de mim, minha orientadora me possibilitou conhecer
obras e autores fantásticos. Pois as atividades de pesquisa me possibilitaram aprender
a fazer um trabalho exaustivo mesmo de pesquisa teórica e de campo para
confeccionar o artigo que é exigido no programa. Temos que produzir um texto
acadêmico sobre algum tema relacionado monitoria (basicamente sobre a
disciplina ou algum tema sobre a mesma). A monitoria na UFMA não nos
possibilita apenas o incentivo a iniciação à docência, mais também nos inicia a
carreira de pesquisador cientifico. É indispensável esta característica para
quem de fato deseja ingressar na carreira acadêmica. No meu caso aprori me ajudou de forma relevante por
conta de eu estar em processo de escrita monográfica. Enfim como mencionado
acima as etapas da monitoria foram e são um complemento na minha formação.
O desenvolvimento da atividade de extensão na UFMA se aplica
(em cada fim de semestre) com a realização do evento de monitoria que nos
possibilita apresentarmos os resultados do programa durante o semestre. Cada
monitor faz uma exposição oral de sua experiência e produções textuais.
Concluindo, a prática da monitoria é muito importante
para os cursos de graduação, pois, os resultados visíveis em cada graduando de
forma singular. Mesmo não sendo tão procurada é como um tesouro alcançado por
aqueles que se aventuram na deia de comprometimento com as atividades do
ensino, pesquisa e extensão. Como afirma Martins (2007, p. 35):
A graduação, primeira etapa da formação superior e
definidora de uma identidade profissional, caracteriza-se por possuir uma
dinâmica própria, construída nas ações pedagógicas do ensino-aprendizagem de
uma área de conhecimento”.
E na área de história sem dúvida o contato com a teoria
da história é indispensável para iniciar este longo processo de busca de
conhecimento e aperfeiçoamento histórico.
A relação intima entre as teorias históricas exploradas no âmbito da
monitoria é de fato uma base para que os estudantes possam adquirir
conhecimentos em termos de aprendizagens para o próprio ensino de história e
suas práticas educativas em sala de aula. Nesse sentido, podemos dizer que há
diversos pontos na monitoria qualifica a formação acadêmica.
“Nesse sentido, esse programa tem como objetivos maiores:
despertar para a relevância do ensino e da formação de professores para o
ensino superior e estimular professores a envolverem os estudantes de graduação
no processo de ensino-aprendizagem, inserindo nesse contexto
a pesquisa e a extensão”. (DIAS, 2007, p. 39).
Referências
Carolina Lima Costa, Graduanda do curso de Ciências
Humanas/Sociologia pela Universidade Federal do Maranhão-UFMA.
Membro do projeto de pesquisa “Hístor: cultura e
epistemologia” Coordenadora do projeto profª Drª Alina Silva Sousa de Miranda.
DIAS, Ana Maria Lorio. A monitoria como elemento de iniciação à docência: ideias para uma
reflexão. In: SANTOS, M.M; LINS, N. M. (org.) A monitoria como espaço de
iniciação à docência: possibilidades e trajetórias. NATAL- RN. Editora da UFRN,
2007.
BEZERRA, Holien Gonçalves. O processo de avaliação de livros didáticos –História. In: SIMPÓSIO
NACIONAL DE HISTÓRIA, 20., 1999, Florianópolis.
História: fronteiras. Anais do XX Simpósio da Associação Nacional de
História. São Paulo: Humanitas – FFLCH–USP/ANPUH,1999, p. 195-202.
FERNANDES, Luiz Estevam; MORAIS, Marcus Vinícius de. Renovação Da História da América. In
KARNA, L. (org.) História na sala de aula: Conceitos, práticas e propostas. São
Paulo: Contexto, 2012.
NUNES, João Batista Carvalho. Monitoria acadêmica: espaço de formação. In: SANTOS, M.M; LINS, N.
M. (org.) A monitoria como espaço de iniciação à docência: possibilidades e
trajetórias. NATAL- RN. Editora da UFRN, 2007.
MARTINS, Iguatemy Maria de Lucena. Graduação: desafios da formação. In: SANTOS, M.M; LINS, N. M.
(org.) A monitoria como espaço de iniciação à docência: possibilidades e
trajetórias. NATAL- RN. Editora da UFRN, 2007.
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